Guerra Civil, crítica do Entretetizei
Imagem: reprodução/Diamond Films

Crítica | Guerra Civil

Longa com Wagner Moura aborda o papel do jornalismo em tempos de guerra

Quantas fotos valem a vida de um jornalista? Em momentos de conflitos em todo mundo, Guerra Civil chega para aproximar a zona de combate ao público. O filme não se acomoda em mostrar cenas de crueldade e expõe de forma dura o cenário apocalíptico que uma guerra pode gerar. No meio disso tudo, a figura do jornalista se destaca ao buscar registros da verdade, a qualquer custo.

A personagem Lee no filme Guerra Civil
Foto: reprodução/IMDb
Sobre o que fala Guerra Civil?

No longa de Alex Garland (Aniquilação, 2018), uma guerra civil acaba de ser instaurada nos Estados Unidos. Com isso, quatro jornalistas de guerra viajam pelo país registrando a dimensão das situações e dos cenários violentos que rapidamente tomaram as ruas. Porém, o trabalho de documentação se transforma em uma luta pela sobrevivência quando a equipe também se torna o alvo.

No filme, Kirsten Dunst interpreta Lee, uma fotojornalista de guerra consagrada e assombrada pelas atrocidades que visualizou durante a carreira. Em contraponto, Jesse é uma jovem de 23 anos aspirante a fotógrafa de guerra, que tem em Lee uma das suas grandes inspirações. Esse contraste entre o entusiasmo de uma nova carreira e o atordoamento de quem já presenciou tudo traz um duro choque de realidade ao longo da trama.

Cailee Spaeny e Kirsten Dunst no filme Guerra Civil
Foto: divulgação/A24

Com isso, o roteiro constrói a figura de Jesse para se igualar a do público. Afinal, esse desejo de ver mais não é só da jovem, mas nosso. E ao longo do filme, ambos caem em uma realidade pavorosa e visceral. Inclusive, a narrativa do filme foi muito bem construída ao propor trazer a guerra para um cenário conhecido pela audiência: a estrada. Isso porque, em Guerra Civil, você não precisa estar nas trincheiras para presenciar a guerra.

Precisamos falar sobre ele: Wagner Moura

O brasileiro interpreta Joel, que compõe a equipe de jornalistas e tem o objetivo de conseguir uma entrevista com o presidente dos Estados Unidos, antes que a oposição chegue a Washington, D.C. O personagem de Wagner Moura é responsável por quebrar a tensão em momentos certeiros do filme, com um humor na medida.

Porém, após um tempo, é possível visualizar que o tom satírico da personalidade de Joel é na verdade, apenas uma máscara que ele usa para proteger toda a angústia que um jornalista de guerra acumula ao longo da vida. No fim, estão todos fadados ao trauma.

Wagner Moura é Joel no filme
Foto: reprodução/IMDb

Além disso, a trilha sonora é quase como um personagem a mais. Ela é tão essencial e presente, que é impossível passar despercebida ao longo da trama. Em muitos momentos, ela contrasta com o cenário hiper violento que é mostrado em cena, com músicas que não exaltam positivamente a guerra. Em outros casos, a trilha chega como um respiro para todo o clima de tensão construído no filme.

O papel do jornalismo

O filme discute o valor do jornalismo em tempos de guerra. Trazer a informação e os registros ao público pode custar muito, mesmo que isso seja pago com vida ou integridade do profissional. 

Guerra Civil mostra que o jornalista não tem divisão entre pessoal e profissional. O jornalista vive o jornalismo o tempo inteiro. A todo momento, a equipe perpassa por assuntos como os princípios éticos do registro, a imparcialidade e o valor da documentação. Ao mesmo tempo em que o repórter tem a liberdade de ver tudo, ele precisa ver tudo.

Guerra Civil discute o papel do jornalismo em tempos de guerra
Foto: reprodução/IMDb

Além disso, a falta de posicionamento político tem gerado algumas críticas em relação ao novo longa de Garland. Porém, ele mata a charada em uma cena importantíssima onde Lee conversa com Jesse. No diálogo, ela afirma que os jornalistas não podem fazer questionamentos, senão é só ladeira abaixo.

Por isso, os questionamentos devem ser guardados para o público. O filme é centrado na figura dos jornalistas, e dessa forma o foco político não é tão essencial. Portanto, a mensagem de Garland é que o jornalismo não toma lado. O jornalismo registra.

Um distanciamento (des)medido

É pensando nesse distanciamento que o diretor foi certeiro ao colocar o Texas – um estado tradicionalmente conservador – e a Califórnia – conhecida pelo seu viés progressista – como aliados e na busca pela derrubada do presidente americano. 

Mesmo assim, o filme tem uma pequena falha ao não explicar para o público de forma mais clara o que realmente acontece no país. Dessa forma, a falta de embasamento e a pouca explicação dos grupos aliados pode gerar confusão no andamento do roteiro. Inclusive, a A24 divulgou recentemente um mapa do território dos EUA com as divisões da guerra civil. Veja abaixo:

Mapa do filme Guerra Civil disponibilizado pela A24
Imagem: reprodução/Substack

Por fim, o terceiro ato é avassalador. É difícil não sentir o peso da vida do jornalista, e soa quase como algo injusto. Inclusive, você pode até estranhar ou sentir raiva das últimas cenas do filme, e se perguntar se ele realmente foi bem escrito. Mas as páginas finais do roteiro só reforçam a discussão desenvolvida acima.

Vale a pena assistir?

Guerra Civil não só é digno de um ingresso no cinema, como é um filme obrigatório. Conversando diretamente com o cenário mundial, o longa aborda o papel do jornalista e a sua importância para trazer a verdade. Com cenas de violência e uma atmosfera de tensão constante, a maior estreia da história da A24 cria arcos perfeitos que dão ao público uma dose de realidade, e mostram que o cenário distópico do filme não está pra lá de tão distante.

Guerra Civil estreia hoje (18) nos cinemas.

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Texto revisado por Thais Moreira

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