Bia Crespo

Entrevista | Bia Crespo fala sobre Eu, minha crush e minha irmã, seu primeiro livro

Em sua estreia no mundo da literatura, a escritora reúne romance sáfico, namoro de mentira, amadurecimento, situações hilárias e um pôster falante

 

Entrevista por: redação

Bia Crespo é roteirista, produtora e formada em audiovisual. Seu currículo contempla longas como Meus 15 anos (2017), 10 horas para o Natal (2020), A sogra perfeita (2021) e a série Rensga Hits! (2022). Explorando novos formatos de contar histórias, Bia Crespo estreia na literatura com “Eu, minha crush e minha irmã”.

Romance sáfico, namoro de mentira, amadurecimento, situações hilárias e um pôster falante. Esses são os elementos que, combinados, dão vida ao primeiro livro da escritora Bia Crespo, lançado pela editora Seguinte. Tem jeito melhor de estrear do que com um romance que traz humor, amor e corações partidos?

Bia Crespo
Foto: divulgação/ Mauro Figa

A trama é protagonizada por um trio de garotas: Tamires, Antônia e Júlia. Em um esforço para ajudar Antônia a se enturmar, Tamires organiza uma festa onde conhecem Júlia. Antônia se encanta por Júlia, que, buscando um desafio, decide conquistar Tamires, a garota mais desejada da universidade. Para se aproximar de Tamires, Júlia convence Antônia a fingir um romance, mas as linhas entre a mentira e os sentimentos reais se confundem, levando à situações um tanto quanto complexas.

Em entrevista ao Entretetizei, Bia falou sobre a trama e processo de escrever histórias que ganhavam vida somente nas páginas de roteiros e agora passam a viver no imaginário de suas milhares de leitoras fãs de Eu, minha crush e minha irmã e da autora.

Entretetizei: Qual foi o maior desafio para escrever Eu, minha crush e minha irmã e explorar temas como romance sáfico e relacionamentos fictícios?

Bia Crespo: Eu trabalho como roteirista e estou acostumada a contar histórias de forma totalmente visual, então escrever um romance foi um grande desafio por si só. A parte mais difícil foi descrever pensamentos e conflitos internos, coisa que nas páginas de um roteiro não costumamos fazer. A parte do romance sáfico foi tranquila porque eu sou lésbica, então me inspirei na minha própria vivência misturada com casos que aconteceram com amigas e conhecidas. E o relacionamento fictício é um dos meus tipos favoritos da literatura romântica. Eu adoro colocar pessoas que têm dificuldade de comunicação em situações extremas, e acho que o relacionamento falso ajuda a trazer à tona muitas verdades escondidas.

E: O humor é destacado como um elemento chave em seu livro. Como surgiu a inspiração de equilibrar o humor com temas mais sérios, como a descoberta da sexualidade e a importância do amor-próprio?

B: Eu costumo usar o humor como porta de entrada. A comédia é leve, abrangente, acolhedora. Ela não assusta e não afasta ninguém. Eu acho muito mais fácil fazer a pessoa pensar depois que ela deu risada e se conectou com a história. Para mim, o principal é sempre a trama, e os temas sociais são introduzidos como pano de fundo. Dessa forma, creio que essas discussões fiquem mais palatáveis e compreensivas para o grande público. Meu objetivo é sair da bolha LGBTQIAP+ e levar essas histórias para todo mundo que gosta de romance e comédia.

E: A relação entre Antônia e Júlia envolve um plano mirabolante. Como essa dinâmica contribui para o desenvolvimento da trama e das personagens?

B: Antônia e Júlia são pessoas com muitas travas sociais e problemas de autoestima. No caso da Antônia, isso é evidente desde a primeira página, e na Júlia essas questões vão se revelando ao longo da história. Acredito que as duas têm muito a aprender uma com a outra. Por mais que não sejam o casal mais óbvio, elas certamente se completam em sua busca por auto aceitação e seu lugar no mundo. O relacionamento falso é uma forma de aproximá-las sem que elas precisem enfrentar seus sentimentos de cara; conforme a trama vai se desenrolando, elas são obrigadas a confrontar o que está por trás da farsa.

E: A escrita de roteiros é uma parte significativa de sua carreira. Como essa experiência influencia seu estilo literário e a construção das cenas do livro?

B: A ideia de trazer Dona Eumínia (personagem inspirada na Dona Hermínia, interpretada por Paulo Gustavo em Minha Mãe É Uma Peça) como interlocutora da Antônia foi uma ferramenta visual para ajudar nessa transição. Como roteirista, tenho dificuldade em fazer conflitos internos e descrever pensamentos, já que a linguagem audiovisual é bem direta e descreve exatamente o que está em tela. Através dessa personagem, a protagonista conseguiu exteriorizar seus sentimentos, planos e ideias. Além disso, usei muitos ganchos entre capítulos, como se fossem episódios de série. Assim, a leitura fica mais instigante.

E: Em sua missão como escritora, você mencionou a importância de mudar a visão que os jovens têm sobre a comunidade LGBTQIAP+. Como você acredita que a literatura pode desempenhar um papel significativo nesse processo de mudança de perspectiva?

B: Minha intenção é normalizar a existência de LGBTs no dia a dia, transformando essas pessoas em protagonistas dos mais diversos tipos de histórias. Quanto mais as pessoas tiverem acesso a esse conteúdo, mais elas vão se acostumar com a ideia de que LGBTs são iguais às pessoas heteronormativas, vivem conflitos parecidos e histórias de amor similares.

E: A presença de um pôster falante é uma adição única à trama. Se pudesse ter um pôster falante na vida real, o que gostaria que ele dissesse ou representasse?

B: No meu escritório tenho algumas fotos de artistas que admiro e converso com elas sempre que preciso resolver um dilema de trabalho. Também converso muito com elas em minhas meditações. O legal dessa dinâmica do pôster é que, no fim das contas, a resposta estava sempre dentro de você.

E: Se a história fosse adaptada para o cinema, quais atrizes você imaginaria interpretando Tamires, Antônia e Júlia, e por quê?

B: Eu adoraria ver esse filme! Infelizmente ainda não temos muitas atrizes famosas com o perfil das personagens. Praticamente não vemos nas telas mulheres desfem (desfeminilizadas, ou seja, que não conformam com as características femininas padrão), LGBTQIAP+, pessoas com ascendência indiana ou corpos fora do padrão. Um aspecto positivo dessa adaptação seria descobrir pessoas talentosas com essas características e dar a elas papéis de destaque.

E: No universo de Eu, minha crush e minha irmã, se pudesse passar um dia na pele de uma das personagens, qual escolheria e por quê?

B: A vida dessas garotas é bem complicada, então não escolheria nenhuma das protagonistas, rs! Acho que a Tamires é a que chega mais perto de como sou hoje em dia, tirando a parte da pegação, pois sou casada e muito feliz com essa estabilidade. Eu escolheria ser a Marília ou a Nanda, duas personagens que aparecem muito rapidamente quase no final do livro, porque são um casal de mulheres da minha idade que tem um bebê – um grande sonho que estou perto de realizar. Elas duas são as protagonistas do meu próximo livro, que se passa em 2004.

E: Para finalizar, quanto de Bia Crespo tem em Eu, minha crush e minha irmã?

B: Muito! Assim como Antônia, eu estudei Audiovisual em uma faculdade pública e não me encaixava naquele universo porque gostava de conteúdo popular e meus colegas e professores eram super cult. Outras semelhanças com Antônia é que eu beijei e namorei uma mulher pela primeira vez nessa época, e também tive meu coração partido. Diferente dela, eu sou filha única, e acho que não me importaria de ter uma irmã como a Tamires. Ia achar super legal!

 

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*Crédito da foto de destaque: divulgação/Mauro Figa

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