Em conteúdo exclusivo ao Entretetizei, o roteirista turco compartilhou os desafios de suas obras, curiosidades sobre O Último Verão e Adım Farah, além de conceder um spoiler de seu novo projeto, Kara Kış
Cenk Boğatur nasceu em Bursa, Turquia, e estudou Rádio, TV e Cinema na faculdade. O escritor nascido em 1974 foi responsável por vários sucessos internacionais, como: Güneşin Kızları (Sunshine Girls, 2015), O Último Verão (Son Yaz, 2021) – disponível no Globoplay –, Ruhun Duymaz (2023) e Adım Farah (My Name is Farah, 2023). Em suas redes sociais, é seguido pelas estrelas Demet Özdemir e Burcu Özberk, onde compartilha suas paixões além da escrita: ele é um verdadeiro petlover e ama velejar.

Em entrevista exclusiva para o Brasil, Cenk Boğatur revelou os segredos dos bastidores ao criar e adaptar histórias incríveis e envolventes. Confira a seguir:
Entretetizei: Olá, Cenk! Agradecemos por aceitar a entrevista. Quando você percebeu que queria ser roteirista?
Cenk Boğatur: Logo após me formar no curso de Rádio, TV e Cinema, em 1997, entrei no setor de séries como assistente de direção e, ao longo do processo, também trabalhei como assistente de direção no setor de publicidade. Após essa jornada de três anos, decidi transformar minha paixão por escrever em algo profissional junto com meus amigos da faculdade. Quando chegamos ao ano 2000, estávamos “desempregados”, mas nos considerávamos roteiristas.
E: Como surgiu a sua primeira oportunidade no audiovisual?
CB: No ano 2000, conseguimos nossa primeira oportunidade de exibição com trabalhos que escrevemos sob a supervisão de Muharrem Buhara e, posteriormente, de Ayhan Sonyürek. Em 2002, junto com três amigos da faculdade, criamos e escrevemos Gülbeyaz como um projeto totalmente nosso. A série foi ao ar e teve grande repercussão.
E: Você escreveu grandes sucessos como Güneşin Kızları (Sunshine Girls, 2015), que foi um marco na carreira das atrizes Hande Erçel e Burcu Özberk. Como foi o processo de criação e desenvolvimento das irmãs Nazlı e Selin?
CB: Güneşin Kızları foi o primeiro trabalho que coescrevemos após começar a trabalhar com Deniz Dargı. Nazlı e Selin foram inspiradas por nossas vivências, pessoas que conhecemos na infância e na juventude. São personagens fictícias criadas a partir de traços de pessoas reais – um pouco de uma prima, um pouco da prima da Deniz, dez por cento de uma amiga, vinte por cento da própria Deniz, e assim por diante. Elas são gêmeas bivitelinas, diferentes em muitos aspectos, mas, ao mesmo tempo, profundamente conectadas. São personagens construídas para sustentar tanto o drama quanto a comédia, e acredito que receberam a atenção que mereciam.

E: O Último Verão (Son Yaz, 2021) chegou a uma plataforma de streaming brasileira em janeiro e conquistou o Top 10 de produções mais assistidas. Akgün é um personagem complexo, criado em um ambiente criminoso. Você se inspirou em uma história real? Como surgiu a ideia de fazer o filho de um mafioso morar com um promotor?
CB: O Último Verão foi uma obra original que criei do zero junto com Deniz Dargı e M. Cem Görgeç, um ex-membro da nossa equipe. Ficamos muito felizes com o sucesso no Brasil. Akgün foi inspirado em um amigo próximo do ensino médio, que faleceu em um acidente de trânsito aos vinte anos. Criamos esse personagem como uma forma de homenageá-lo, garantindo que ele nunca seria esquecido. Embora o verdadeiro Akgün tenha muitas características do personagem, ele não cresceu no mundo do crime nem tinha um pai mafioso. O que nos entusiasmou foi a ideia de um promotor, que no passado prendeu um criminoso, ser forçado a criar o filho desse homem. Um pai ausente e viciado em trabalho, que precisa se reconectar com sua família ao mesmo tempo em que dá uma segunda chance a um jovem problemático. A relação entre esses dois personagens, os desafios e aprendizados mútuos, tornaram a história muito instigante – e acho que conseguimos transmitir isso ao público.
E: Entre todas as produções que você escreveu até o momento, qual é a mais especial para você?
CB: Son Yaz (sorriso).
E: O final em aberto de Ruhun Duymaz deixou muitos fãs ansiosos e com expectativa de uma futura temporada. Se o cancelamento não tivesse ocorrido, poderia nos dar um spoiler sobre o rumo que a história tomaria?
CB: Muito provavelmente, a história teria seguido o caminho de um romance turbulento, onde a Ece ajudaria o Onur a se curar.

E: O que te motivou a começar a escrever Adım Farah (My Name is Farah, 2023)? Qual foi a inspiração por trás da trama?
CB: Enquanto trabalhava na O3 Media, a coordenadora geral, Çiğdem Geyik, trouxe a ideia de adaptar uma novela argentina. Pegamos um único conceito da produção original e reconstruímos o resto para encaixá-lo na realidade turca. Os temas de imigração, maternidade solo e ser um estrangeiro em outro país nos pareceram muito fortes. O que mais nos entusiasmou foi a protagonista ser uma mulher lutando contra todas as injustiças para salvar seu filho doente. Uma médica em seu país que, ao chegar à Turquia, se vê obrigada a trabalhar como faxineira. Foi um projeto que uniu uma perspectiva feminista com a discussão sobre exclusão social, e acreditamos que conseguimos equilibrar bem esses temas.
E: As filmagens de Kara Kış começaram recentemente. Você e Meriç Demiray estão trazendo à tona o devastador terremoto de Erzincan, que deixou mais de 32 mil mortos e cerca de 100 mil feridos. Como é transformar uma tragédia em uma narrativa e quais especialistas vocês consultaram para retratar um evento tão delicado?
CB: Esse projeto foi originalmente encomendado pela VGA Media. Inicialmente, seria um longa-metragem, mas depois decidiram transformá-lo em uma série digital, e foi aí que entramos. Kara Kış se passa no contexto do terremoto de Erzincan, mas, na essência, conta a história do promotor da República, Yusuf İzzet Akçal. O próprio promotor que trouxe a ideia para a produtora e escreveu o primeiro roteiro nos prestou consultoria. Fizemos muitas pesquisas, analisamos documentos e buscamos retratar a história de forma humanizada. Kara Kış não é apenas sobre o terremoto de 1939 – a série percorre três linhas do tempo diferentes. Não posso dar mais spoilers (sorriso), mas é um projeto com uma forte base biográfica. Acreditamos que estamos fazendo um trabalho respeitoso e bem fundamentado.
E: Para finalizar, Farah (Adım Farah) é uma personagem iraniana. Podemos esperar algum personagem brasileiro ou alguma referência ao Brasil em seus projetos futuros?
CB: Por que não? Talvez um dia adaptemos uma novela brasileira… (sorriso) Gostaríamos muito disso.
Também se emocionou ao descobrir a inspiração para o personagem Akgün? Pretende assistir Kara Kış? Foi maravilhoso ter entrevistado o Cenk! Nos conte se tem algum roteirista que você gostaria de ver por aqui e nos siga nas redes sociais do Entretetizei – Instagram, Facebook, X – para mais novidades sobre a cultura turca.
Leia também: Entrevista | Enes Koçak fala sobre seu personagem em Sahipsizler e metas do ano
Texto revisado por Laura Maria Fernandes de Carvalho