Moda é política: Janja faz história na posse de Lula

Janja faz história sendo a primeira esposa de um presidente da república a usar calça durante a posse desde a redemocratização e valorizando a moda brasileira

No dia primeiro de janeiro de 2023, Lula sobe a rampa do Palácio do Planalto para sua posse como presidente do Brasil pela terceira vez, acompanhado de sua esposa  Rosângela Lula da Silva, mais conhecida como Janja, sua cachorra Resistência e seu vice Geraldo Alckmin acompanhado de sua esposa Lu Alckmin, com o posto de segunda dama do Brasil, afinal moda é política Janja faz história na posse de Lula. 

Primeira Dama

Antes de tudo, Janja já tinha um envolvimento com causas sociais, feministas, sustentáveis e de esquerda. Dessa forma a socióloga que sempre defendeu a participação da mulher na política esteve ativamente presente na campanha política de Lula e virou destaque, não só por ser uma declarada militante, mas principalmente porque decidiu usar sua visibilidade nesse momento de grande importância nacional e mundial.

Constantemente se diz que a moda é fútil, porém iremos mostrar, analisando o look escolhido por Janja, que a moda é comportamento, personalidade, expressão e principalmente: política, dando voz a importantes movimentos sociais.

Um pouco de história 

As mulheres foram proibidas de usar calça comprida para acessar o Plenário do Senado até o ano de 1997. Ao passo que Antônio Carlos Magalhães assumiu a presidência do Senado essa proibição foi extinta dando direito a mulheres a usarem a peça de roupa.

Ainda nos anos 70, quando trabalhava como jornalista, a senadora Ana Amélia (PP-RS) se destacou como a primeira mulher comentarista de economia no Rio Grande do Sul. Em seguida, ao viajar para cobrir a Festa da Uvano interior foi informada de que não poderia entrar no evento de calça comprida. Como havia levado um vestido, voltou para o carro e trocou a roupa ali mesmo, dentro de um fusca, protegida por um policial militar.

“Eu sou uma pessoa muito prática. Entre contestar uma regra que não ia ser mudada naquela hora e fazer o meu serviço, eu preferi trabalhar. Essa regra seria mudada posteriormente, mas mesmo no jornal onde eu trabalhava em Porto Alegre era proibido entrar de calça comprida.” segundo a jornalista, de acordo com a Agência Senado.

Heloisa Helena, foi eleita senadora em 1998 e já utilizava apenas calças compridas no Plenário.
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Foto: Agência Senado
Eunice Michiles, primeira senadora eleita, em 1978, época em que não havia banheiro feminino do Plenário.
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Foto: Agência Senado

Definitivamente, a normalização do uso de calça comprida foi uma batalha não só no Brasil. Mulheres ao redor do mundo lutaram também por essa conquista. Podemos citar a icônica Coco Chanel e também a atriz Katharine Hepburn: a primeira, que adorava cavalgar, teve a ideia de utilizar calças para o esporte. Dessa forma a peça tinha um modelo largo e confortável que facilitava não só a prática do esporte mas também o dia a dia da mulher, ela revolucionou a moda na França na década de 30. Por fim a vestimenta que era majoritariamente usada por homens foi popularizada em todo o mundo, por volta da década de 80, exceto em alguns países e religiões.

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Foto: Pinterest
Na imagem Katharine Hepburn, a rebelde das calças.
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Foto: Pinterest

A importância das cores e o movimento sufragista

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Foto: Pinterest

Entre o fim do século XIX e o início do século XX, ocorreu o movimento sufragista que lutava pelo direito das mulheres ao voto. Esse movimento tinha como símbolo a cor branca, que representava a questão financeira dessas mulheres (pois os tecidos eram mais baratos nesse tom) e ele também chamava atenção no meio de homens com ternos pretos.

A bandeira britânica possui as cores roxo, branco e verde, enquanto a bandeira sufragista americana conta com roxo, branco e dourado.

Foto: Getty Images
Foto: Getty Images
Em 1968, quando Shirley Chisholm se tornou a primeira mulher negra a ser eleita para o Congresso americano usou um terno branco no seu discurso da vitória.
Foto: Getty Images
Geraldine Ferraro, a primeira candidata à vice-presidência dos EUA, também usou um terno branco quando aceitou a nomeação do Partido Democrata, em 1984.
Foto: Getty Images
Hillary Clinton usou um terninho branco, um modelo Ralph Lauren, quando foi indicada para se tornar candidata à presidência dos Estados Unidos no ano de 2016, em seu discurso utilizou a #wearwhitevote (vista branco para votar) nas redes sociais.
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Foto: Getty Images
Assim como Kamala Harris, primeira mulher vice-presidente dos EUA.,utilizou o conjunto no seu primeiro discurso eleita e também citou o movimento no seu discurso: 

“Mulheres que lutaram e que se sacrificaram por igualdade, por liberdade e por justiça para todos. Inclusive as mulheres negras que muitas vezes são esquecidas, mas que são a base de nossa democracia. Todas as mulheres que trabalharam para poder votar e mudar a lei do voto. E agora, com essa geração de mulheres que depositou seu voto e continuou a lutar pelo direito de votar e serem ouvidas.”, continuou.

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Foto: Getty Images

Segundo a historiadora de moda e escritora Shelby Ivey Christie, “a imagem monocromática é uma das marcas de celebração da comunidade negra”, mais um motivo pela certeira escolha de Kamala.

Da mesma forma que as mulheres estão preferindo utilizar peças de vestuário mais confortáveis, os calçados não ficam de fora dessa. 

Confira a opinião de Janja sobre os tênis:

“Janja diz que não vai deixar de usar tênis para agradar aos protocolos: Uso tênis com calça, saia, shorts. Outro dia, cheguei ao CCBB para uma reunião e estavam todas as secretarias de salto alto. Levantei o pé, mostrei o tênis e disse: ‘Está instaurada a democracia do tênis.’, segundo citou um usuário do Twitter.

 A vice-presidente dos EUA, assim como Janja, é adepta ao calçado e prioriza o conforto.

https://www.instagram.com/p/CHT1MSWAWwA/?utm_source=ig_embed&ig_rid=3aee5df3-cafc-485a-865a-7c95999b88e3

 

A escolha de Janja

Janja, por sua vez, fez história e quebrou protocolos com o conjunto utilizado na cerimônia de posse do Lula, a escolha carrega irreverência, modernidade e representatividade sendo a primeira vez em que uma primeira dama utiliza um conjunto de calça e blazer na cerimônia. 

Conforme sua entrevista para Vogue disse:

“Queria vestir algo que tivesse simbolismo para o Brasil, para os estilistas, para as cooperativas e para as mulheres brasileiras.”

“A moda não é só um aspecto muito importante da cultura brasileira como é um motor da economia. Quero carregar os estilistas brasileiros aonde for. Mostrar para o mundo, abrir portas de comércio, de oportunidades. Se puder contribuir, vou ajudar.”, completou. 

O look teve também inspiração da Princesa Isabel para assinar a Lei Áurea, lei essa que tinha como objetivo abolir a escravidão em 1888.

E também acabou realizando o desejo da ex-presidente Dilma Rousseff, de optar pela calça comprida na sua posse. 

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Foto: divulgação/instagram @janjalula

Janja, que já sofreu intolerância religiosa por ter uma religião de matriz africana, investiu nos pequenos simbolismos no seu look, usando um número nove bordado nas costas, que no Candomblé, representa a orixá iansã, “Senhora dos ventos, dos tufões, das nuvens de chumbo, tempestades, das águas agitadas pelo vento, águas do seu rio Níger, onde é cultuada.”

Look com detalhes 

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Foto: Divulgação

 O look rico em detalhes foi criado pela estilista Helô Rocha e Camila Pedroza com a colaboração das artesãs de Timbaúba, em Pernambuco, e não foi a primeira vez que Janja utilizou um look dessa parceria, que também foi responsável por seu vestido de noiva.

A promessa de valorizar a moda brasileira resultou em um conjunto de peças produzido em solo nordestino. Veja mais detalhes sobre o look (Ficha técnica realizada pelo atelier bipo):

O material usado no tecido foi o crepe de seda vintage (fazendo alusão a uma moda consciente através do reaproveitamento), e sua coloração criada naturalmente através do caju e ruibarbo:

https://www.instagram.com/p/Cm6b8IaOyfn/

 

A modelagem e execução ficou por 

https://www.instagram.com/p/Cm5VR4LttU1/

 

Os bordados, por sua vez, foram feitos de diversas palhas brasileiras como junco e capim dourado. 

https://www.instagram.com/p/CnShYN2PFHb/

 

E os acabamentos do bordado:

https://www.instagram.com/p/Cm6yDs8BSeH/

 

Peças em capim dourado 

A Associação de Artesãos de Dianópolis, no sudeste do estado, confeccionou cerca de 180 pequenas peças em capim dourado que embelezam o blazer e o colete feitos especialmente para a ocasião.

A homenagem ao Partido dos Trabalhadores foi pequena, um cristal Swarosvki vermelho foi bordado ao lado de seu nome juntamente com a data da posse.

Por fim, nos acessórios, a socióloga optou por um brinco da marca de Flavia Madeira, denominado Pitanga e nos pés, ela reutilizou o sapato de seu casamento. Assinada pela desginer Juliana Bicudo, o sapato teve sua confeccao manual em couro e possui um salto de 6,5 cm.

Primeira dama demonstra um enaltecimento da República do Brasil, por exemplo: o amarelo lembra o dourado e os bordados fazem referência aos que estão no Fardão, que são usados pelos integrantes da Academia Brasileira de Letras.

O Segundo Look

Ao longo da cerimônia, Janja decidiu trocar de roupa. Ok segundo look escolhido também foi uma parceria de Helo Rocha com Neriage, a marca de Rafaella Canniello. O conjunto era composto de uma saia, um body e uma capa com mangas irreverentes, todas em tons de azul.

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Foto: Divulgação

Elegante, moderna e acima de tudo: vestida de Brasil, exaltando toda a nossa diversidade, de forma .

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Foto: divulgação
Da mesma forma que a primeira dama, o presidente também fez escolhas que compactuam com o novo slogan adotado: “União e Reconstrução”, enquanto seu vice utiliza uma gravata vermelha que era frequentemente sendo vista no Lula, este por sua vez, utiliza gravata azul vista constantemente em Alckimin. 
Foto: Divulgaçã
Foto: Divulgação
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