*Crédito da foto de destaque: reprodução/ ThunderWave

Resenha | Bonnie & Clyde: o amor entre rajada de balas no topo do Teatro Santander

O musical Bonnie & Clyde teve noite sold out nesse último domingo (30) e trouxe novas cores ao clássico casal de foras da lei; o Entretê conferiu a peça da Broadway e separou os principais destaques, vem conferir!

 

Direto da Broadway para terras tupiniquins, o musical que se baseia na história do casal mais infame da cultura pop estava com a noite sold out. O Rooftop 033, espaço que pertence ao Teatro Santander, em São Paulo, estava abarrotado para acompanhar a montagem brasileira das aventuras de Bonnie Parker e Clyde Barrow. A temporada começou em março e chega ao fim no meio de maio, e o Entretê foi conferir tudinho para contar para vocês o que esperar. 

Todo mundo já ouviu falar sobre Parker e Barrow, mas não dessa forma. Seja em filmes, originais ou remakes, ou até em músicas como a que Serge Gainsbourg canta com Brigitte Bardot, a história de dois indivíduos que abriram balas — literalmente — contra o sistema e viraram heróis continua sendo passada de geração para geração. Originalmente, a peça estreou em San Diego em 2009, chegando à Broadway só em 2011. Ano passado teve sua estréia em Londres e, finalmente, chegou ao Brasil. 

Com duas horas e dez minutos de espetáculo e 22 canções repletas de elementos country, blues e pop, a montagem brasileira tem a direção de João Fonseca, direção musical de Thiago Gimenes e a coreografia de Keila Bueno

O espaço, o Ford V8 e a interação dos atores com o público

Foto: divulgação/ Del Claro

Diversificando a dinâmica de outras peças teatrais, Bonnie & Clyde: O Musical tem uma proposta sensorial e também conta com intérprete de libras em tempo real. Começando pelo espaço escolhido: tudo foi pensado nos mínimos detalhes para dar o ar da graça. Desde a buzina que chamava o público aos seus lugares, até o jazz que tocava de fundo, o cardápio temático e o Ford V8 no hall do Rooftop. 

Em vez de o público estar enfileirado em cadeiras e ter um palco convencional e alto, os atores se moviam entre as mesas do espaço. A orquestra ficava ao lado do palco principal, um pouco escondido para não quebrar a fantasia. E a réplica do Ford V8 — carro em que o casal morreu e, conforme pesquisas, tem a marca de 167 tiros — estava disponível para os telespectadores tirarem fotos e recriarem momentos. A produção do musical pensou além e procurou uma carcaça de um Ford V8 que pudesse virar uma réplica e tornasse a experiência mais especial. 

O elenco soube aproveitar cada espaço disponível, e a iluminação ajudou bastante, sendo distribuída por todo o local. O cenário western ficou um charme pois era bem minimalista, nada que chamasse muita a atenção, mas o suficiente para caracterizar que a peça se passava nos anos 30. Os figurinos de época também foram um destaque à parte. 

De repente, bum! Quebra da quarta parede! Clyde (Beto Sargentelli) começou a interagir com o público, perguntou o que estavam comendo e se era um bolinho de queijo, pediu para escreverem um bilhete para Bonnie e furtou um refrigerante de algum sortudo que virou apetrecho de cena. 

 

Banditismo por uma questão de classe e a infância dos personagens

Foto: divulgação/ Del Claro

Diferente do clássico filme de Arthur Penn com Warren Beatty e Faye Dunaway interpretando a dupla, a história é muito mais profunda, e a avidez por adrenalina é apenas um adendo que os fez seguir carreira no crime. O pano de fundo histórico da narrativa do casal é o da Grande Depressão, em que famílias passavam fome e extrema necessidade. Devido ao desespero e revolta da população, pequenos delitos eram comuns. A grande aspiração do sonho americano continuava no imaginário popular, e, diante de tanta miséria, o caminho mais fácil era o único para se ter o mínimo

O espetáculo traz uma breve introdução às motivações, ao passado dos personagens e à sua infância no Texas. Bonnie Parker já mostrava sua aptidão à poesia desde cedo, além da vontade de estar nos holofotes. Já Clyde se inspirava em figuras como Billy the Kid e Al Capone e era apaixonado por carros velozes. Ele não queria viver na miséria igual seus pais e almejava uma vida melhor. Ambos eram produtos do meio social em que viviam.

É muito gostoso revisitar alguma interpretação de um personagem icônico e histórico como Clyde Barrow, que entrou para história pelos seus feitos não muito corretos, mas com seus motivos. O que buscamos aqui foi encontrar, quando fui construindo o personagem com o João Fonseca, nosso diretor, e a Keila Bueno, nossa diretora de movimento, além das pesquisas, foi encontrar as motivações para ele realizar os crimes que ele cometeu e tudo que envolve essa história que Hollywood transformou em algo romantizado” afirma Beto, em conversa com o Entretetizei. 

Depois que crescem, Bonnie estava frustrada em uma cafeteria, depois de ter um casamento mal sucedido, e Clyde acabara de fugir da prisão, após uma série de delitos com seu irmão. Em uma situação corriqueira, os dois se encontram e se conectam rapidamente. 

O texto também traz uma crítica contundente ao sistema carcerário, sem deixar o tom das cenas endurecer. Trazendo a dramaticidade dos acontecimentos, a moralidade versus a fúria, podemos observar a verdade oculta. Clyde é constantemente abusado pelos policiais, depois de tentar fazer a coisa certa e se entregar. Um reflexo que continua até hoje na sociedade, mostrando que a maldade não é inerente ao ser humano, ela é construída socialmente. 

O espetáculo também tem um foco bem forte no romance, mas também no cunho social. Falamos sobre o sistema carcerário que corrompe tanto um ladrão de galinhas até um assassino, debatemos isso e também a miséria, a fome na época da crise, da Depressão americana. Tudo que a gente conseguiu encontrar, sem acusar e nem defender. Encontrar as motivações desse personagem, isso é o mais interessante. E as pessoas se identificam. Quem não tem às vezes a vontade de fazer justiça com as próprias mãos?! Quem não tem a vontade de cortar caminho?! É esse embate que acaba acontecendo. E as pessoas estão tendo as melhores impressões possíveis e tendo também essa troca e essa identificação’’, completa o produtor e ator protagonista da peça. 

Depois de muitos abusos, uma bíblia, um par de sapatos e uma arma, a fuga da prisão estava montada, começando assim os famosos assaltos que continuam gravados na memória norte-americana.  

 

O amor entre rajadas de balas

Foto: divulgação/ DelClaro

A peça aposta no desenvolvimento e humanização dos personagens, trazendo suas motivações à tona. Preenchendo as lacunas da história com uma narrativa mais “real” e mais próxima às pesquisas de historiadores, o casal de protagonistas se conhece e se apaixona. Esse relacionamento tórrido é explorado perfeitamente pelos atores Eline Porto e Beto Sargentelli. Aquele tom irônico e soturno do clássico de Arthur Penn é substituído por cenas cômicas, emocionantes e até levemente sensuais, trazendo novas cores para o árido deserto do Texas. 

Aqui Bonnie não é uma femme fatale e sim uma personagem carismática e cheia de facetas. E Clyde perde a rigidez e ganha aquela roupagem cafajeste sensível e perspicaz. Charutos, pistolas e, sim, flores. Além dos protagonistas, o resto do elenco também teve seu momento nos holofotes com cenas construídas especialmente para eles. Os destaques foram Blanche (Adriana Del Claro), Buck (Claudio Lins), o coro da igreja e Ted Hinton (Pedro Navarro), que tem uma paixonite platônica por Bonnie e acha mesmo que ela precisa de sua proteção. 

Com o lema “primeiro a comida, e depois a moral!”, os personagens começam a ganhar notoriedade e, pelo pano de fundo, acabam virando heróis da recessão. Até que, pelo ritmo desenfreado de mortes, acabam chamando atenção dos Rangers, e a caçada se intensifica. Era uma ofensa aos poderosos toda vez que o casal conseguia fugir, e, por muito tempo, conseguiram lutar pela sobrevivência e com a consciência que começava a pesar.  

Após certo tempo, a vida de fugitivos começou a cobrar seu preço. A paranoia e a constante adrenalina por viver na mira dos agentes policiais dividiram espaço com as promessas que nunca seriam cumpridas sobre sair da vida de fora da lei, além dos devaneios sobre a estabilidade. Em seus últimos momentos, após serem baleados e se recuperarem, o casal teve um vislumbre do que seria essa vida ordinária.  

Tudo se encerrou com uma cena apaixonada de Bonnie e Clyde em seu carro, parecendo um casal normal e tranquilo. Um último suspiro, um último sonho, antes do decreto final. Após, o elenco todo voltou ao palco para agradecer ao público e foi ovacionado. 

Esperem bastante emoção, risadas e talvez um refrigerante furtado! Fique esperto!  

 

 “Algum dia eles descerão juntos;

E eles vão enterrá-los lado a lado;

Para poucos, será

um alívio, para a lei, um alívio

Mas é a morte para Bonnie e Clyde.’’

 

O musical já está com sua temporada quase no fim e fica até 14 de maio no Rooftop 033. Os ingressos podem ser adquiridos clicando neste link ou na bilheteria física do Teatro Santander e estão na faixa de valor de R$37 até R$250.  

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*Crédito da foto de destaque: reprodução/ ThunderWave

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