De funcionário de um supermercado em Porto Rico a recordista da Billboard
Benito Antonio Martinez Ocasio, internacionalmente conhecido como Bad Bunny, é um cantor e rapper que, aos 30 anos, tem uma carreira de dar inveja. Com o sucesso global do novo álbum, DeBÍ TiRAR MáS FOToS (2025), rapidamente virou sensação na América Latina e pela primeira vez alcançou o Top 50 da Apple Music Brasil e o TOP 200 Spotify Brasil. Muitos brasileiros gostam de duvidar do alcance do trabalho do coelho malvadão, porém, é sempre melhor conhecer antes de julgar, não é mesmo?
A história de Benito
Benito nasceu em 10 de março de 1994 em San Juan, Porto Rico, mas cresceu na cidade de Vega Baja. Desde os cinco anos ele já sabia que queria ser cantor. Durante sua infância, ele não gostava de tirar fotos e fugia das câmeras, como disse no podcast de Chente Ydrach. Filho de uma professora de inglês e um caminhoneiro, cresceu em uma família de classe média, sendo o mais velho de seus irmãos, Bernie e Bysael.
Participando de corais na igreja católica até os anos iniciais da sua adolescência e sendo influenciado por gêneros latinos, como merengue e salsa, enquanto crescia, Benito também se encantou pelo trap. Iniciou a faculdade de comunicação audiovisual na Universidade de Porto Rico, em Arecibo, e enquanto era universitário e também trabalhava como empacotador de compras em um supermercado, decidiu subir faixas cantando trap na plataforma SoundCloud por incentivo de um amigo: foi aí que nasceu Bad Bunny. Ele escolheu esse nome artístico graças à foto de infância. Chamando a atenção do público, Bad Bunny chamou a atenção também de gravadoras. Ao ver que sua estratégia estava dando certo, largou a faculdade e continuou trabalhando como empacotador para ter dinheiro para investir em sua carreira musical.
A mí me gusta
Seu primeiro single de sucesso foi Soy Peor, lançado no final de 2016. Após a estreia na indústria, conseguiu colaborar com artistas do reggaeton como Ozuna, Farruko, Daddy Yankee, Arcángel — grandes nomes latinos — mas ficou conhecido mesmo por toda a América Latina ao colaborar com Becky G em Mayores, com seus versos ousados e confiantes: “yo no soy viejo pero tengo la cuenta como uno… un caballero con veinte y uno”. A performance no Latin American Music Awards 2017 foi uma das mais aguardadas e Bad Bunny ganhou asas, ou melhor, alas.
No mesmo ano, ele conseguiu emplacar 15 músicas na parada Hot Latin Songs nos Estados Unidos.
¿Hablas español?
Em 2018, Bad Bunny fez com que o Drake, um dos maiores rappers de todos os tempos, cantasse em espanhol, em MÍA. E por que não o contrário? A indústria musical é dominada por músicas cantadas em inglês, e quando pensamos em um artista em ascensão global, pensamos em um artista cantando em inglês — o inglês mais neutro do sotaque latino-americano possível. Com Benito, foi diferente: ele tem dificuldades com o idioma, mesmo sua mãe sendo professora da língua. Mas o maior motivo por ele ter sempre cantado em espanhol é para quebrar a crença de que um músico cantando em sua língua materna não pode transcender as barreiras linguísticas.
“Tenho muito orgulho de chegar ao ponto em que cantamos em espanhol, e não apenas em espanhol, mas no espanhol que falamos em Porto Rico. Sem mudar o sotaque”, afirmou Bad Bunny ao jornal El País.
Bad Bunny nunca deixou de lado seu idioma, nem suas raízes latino-americanas. Ele traz representatividade em suas músicas, através de reggaeton, bachata, salsa, balada pop e trap, e usa a moda para aumentar a conexão com o público.
“Me gustan boricuas, me gustan cubanas. Me gusta el acento de las colombianas.”
No mesmo ano, colaborou com Cardi B e J Balvin e performou I Like It ao lado deles no AMAs 2018 (American Music Awards).
Causas sociais
Diferentemente de muitos artistas masculinos do reggaeton, Bad Bunny é um aliado da comunidade LGBTQIA+, frequentemente desafiando a indústria latina. Recebeu o Vanguard Award da GLAAD em 2023 por seu trabalho em prol da visibilidade queer.
Em algumas letras de suas músicas, ele fala sobre a violência contra as mulheres. No clipe de Yo Perreo Sola, vestiu-se como uma mulher e deixou uma mensagem clara ao final do clipe: “Si no quiere bailar contigo, respeta, ella perrea sola.”. Em português, “Se (ela) não quer dançar contigo, respeita, ela dança sozinha.” No Billboard Awards de 2020, Bad Bunny dedicou seu prêmio de Artista do Ano às mulheres, como também denunciou o machismo e a misoginia durante o seu discurso. O artista possui várias colaborações femininas e já trabalhou com as reggaetoneras porto-riquenhas Ivy Queen, RaiNao, Villano Antillano e Young Miko.
Falando em Porto Rico, ele luta pelo direito dos imigrantes latinos e realiza doações para organizações artísticas e esportivas de sua ilha, além de criticar abertamente as decisões políticas que afetam a sua terra natal.
Nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2024, Bad Bunny compartilhou um vídeo apoiando Kamala Harris, onde ela fala sobre Porto Rico: “Jamais esquecerei o que Donald Trump fez e o que deixou de fazer quando Porto Rico precisava de um líder competente e solidário… Ele abandonou a ilha. Tentou bloquear a ajuda após consecutivos furacões devastadores e ofereceu nada além de rolos de papel e insultos.”
Recordes e mais recordes
Os feitos de Bad Bunny são impressionantes, bateu o recorde de artista latino mais ouvido globalmente no Spotify por três anos consecutivos — 2020, 2021 e 2022 — e, Un Verano Sin Ti (2022) se tornou o álbum mais reproduzido da história do Spotify, com mais de 13,4 bilhões de streams. Ganhou três Grammy Awards e doze Latin Grammy Awards. O quinto álbum do artista, Nadie Sabe Lo Que Va a Pasar Mañana (2023), alcançou o número 1 na Billboard 200. O recorde mais recente: foi o primeiro artista latino a emplacar 100 músicas na Billboard Hot 100, se juntando a nomes como Beyoncé, Elvis Presley, Justin Bieber e Taylor Swift.
DeBÍ TiRAR MáS FOToS
Uma capa tão simples e com tanta identificação entre os latinos, foi assim que o álbum mais recente de Bad Bunny veio ao mundo no dia 5 de janeiro, uma homenagem e celebração a Porto Rico e à infância de Benito. Tivemos vários vídeos viralizando nas redes sociais com porto-riquenhos saindo às ruas para dançar e celebrar a obra. O álbum foi o primeiro que hitou no Brasil e a trend do single, que tem o mesmo nome, nos leva a um lugar sentimental.
“Esse álbum é o resultado das experiências que me levaram a me conhecer melhor, até mesmo a conhecer os ritmos que mais gosto — aqueles que eu gosto realmente de cantar e criar”, afirmou Bad Bunny. Ele trouxe para o álbum uma homenagem até para a biodiversidade de sua terra natal, chamando atenção para o sapo-concho — que está em risco de extinção. Nos visualizers de cada faixa, há um pouco da história de Porto Rico. NUEVAYoL foi a faixa que abriu o álbum e há uma explicação: “… antigamente, quando um porto-riquenho ia para os EUA, eles diziam: ‘Me voy pa’ Nueva York!’ Então, Nova York era quase um código para ‘Eu saí da ilha’. E, ao mesmo tempo, coisas incríveis aconteceram em Nova York quando os latinos, os porto-riquenhos, estavam lá — nos unimos aos cubanos, aos dominicanos, havia música, havia arte.”
LO QUE LE PASÓ A HAWAii finaliza o álbum com uma letra forte:
“Quieren quitarme el río y también la playa
Quieren el barrio mío y que abuelita se vaya
No, no suelte’ la bandera ni olvide’ el lelolai
Que no quiero que hagan contigo lo que le pasó a Hawái”
Fala sobre o apagamento da cultura e tradição de Porto Rico pelos estadunidenses, assim como fizeram com o Havaí, um dos 50 estados dos Estados Unidos, anexado em 1898. Antes de se tornar parte dos EUA, o Havaí era um reino independente com uma rica história e cultura própria; o arquipélago havaiano era uma extensão do povo polinésio.
Munido de tamanha maestria, Bad Bunny nos levou em alguns momentos a sentir uma paixão não correspondida, a felicidade em “perrear”, enquanto simultaneamente fez uma crítica ao imperialismo dos Estados Unidos — podemos ver claramente as ações americanas com a volta de Trump ao poder — e celebrou a riqueza cultural de Porto Rico em 17 faixas. Ele tinha duas cadeiras de plástico, um sapo e bebeu PIToRRO DE COCO — uma das músicas e também uma bebida destilada nacional — para fazer história.
Se eu for escrever sobre a movimentação que a residência dele está fazendo em Porto Rico, essa matéria vira um livro. Isso é história para mais tarde, ok?
Agora que você conhece o Benito, ou melhor, Bad Bunny, gostou do que descobriu e ouviu? Ele disse nas suas redes sociais que pretende vir pro Brasil e a redatora que vos fala está pronta. E você? Não se esqueça de seguir o Entretetizei — Instagram, Facebook e X — para ficar por dentro de todas as novidades e descobrir mais artistas incríveis!
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Texto revisado por Cristiane Amarante