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Foto: reprodução/Rolling Stone Brasil

Crítica | Homem com H honra com sucesso a carreira de um dos maiores nomes da música brasileira

Sinônimo de liberdade, Ney Matogrosso é homenageado nos cinemas por meio de um longa que captura bem a sua essência

Não há vida que caiba em uma tela de cinema”. A frase dita pelo diretor Esmir Filho exemplifica bem o cenário da produção da cinebiografia no Brasil, que, em alguns casos, possui dificuldade em fazer um recorte preciso na hora de contar a história de alguma figura pública. No entanto, os fragmentos escolhidos para estrelarem seu filme Homem com H são exemplos perfeitos de como a sétima arte pode homenagear com honra e verdade a história de um grande artista. 

Ney Matogrosso dispensa apresentações. Com seu jeito ousado e marcado por elementos performáticos do teatro de revista, o cantor, compositor e dançarino é homenageado em um longa que faz jus à sua carreira: recheado de cores, figurinos unicamente excêntricos e elementos “escandalosos” que podem chocar os mais conservadores que fecham os olhos para tudo aquilo que Ney representa. 

É difícil um brasileiro não conhecer Matogrosso, mas, sobre Ney de Souza Pereira, poucos sabem dizer. E é assim que, por meio de um garoto do interior que tem os dias marcados pela repressão do pai em uma época próxima à Ditadura Militar, somos apresentados à sua história. A partir disso, a criança que, mesmo acostumada a receber ordens militares do próprio pai no quintal de casa, cresce e vira por si só um artista à espera do seu grande número. Demora um pouco até que Ney entenda a diferença entre procurar aprovação na sua própria liberdade e se libertar de fato das amarras causadas pela infância. 

Foto: divulgação/Marina Vancini

Mas, através dos encorajamentos recebidos de seus amigos, sua mãe – figura importantíssima na carreira do cantor, interpretada de forma doce e sagaz por Hermila Guedes – e de pessoas não tão legais que cruzam o seu caminho, o jovem Ney entende a magnitude e potência de sua voz singular, até se tornar, felizmente Ney Matogrosso. 

O longa possui uma estética única, com cenas que exemplificam o deslumbre do cantor pela natureza, demonstrando um lado meio homem-bicho que influencia seus comportamentos no palco. Tudo isso ganha vida no corpo do grande ator Jesuíta Barbosa, que soube encarnar a figura de Ney de uma forma assustadoramente brilhante. 

O ator conta durante a coletiva de imprensa, que, ao longo dos ensaios junto com Esmir Filho, o diretor do filme, prezou por uma transformação que tenta excluir os trejeitos da sua própria persona Jesuíta até alcançar os da figura Ney Matogrosso. Além disso, os encontros do ator com o cantor serviram também como um laboratório de estudo, onde ele diz ter explorado o que o silêncio de Ney o dizia. O resultado da obra é a demonstração perfeita de que Jesuíta cumpriu muito bem o seu dever de casa. 

Foto: divulgação/Assessoria de Imprensa

E se, por si só, Jesuíta Barbosa dá um show de atuação, cenas com Rômulo Braga – responsável por dar vida ao pai de Ney, Antônio Matogrosso – fazem vibrar a tela do cinema. Juntos, os dois carregam algumas das cenas mais pesadas do filme com tanta verdade, que torna-se impossível não se emocionar e se sentir tocado. Como é ser um artista filho de militar? Como é ser um homem homossexual servindo à força aérea brasileira? São perguntas que Ney saberia, com precisão, responder. 

Por conseguinte, se tem algo que chama a atenção do público ao assistir/ler uma biografia de alguma celebridade, é a passagem de outros grandes nomes ao decorrer da história. Homem com H possui uma rápida participação de Gonzaguinha (André Dale), responsável por incentivar Ney Matogrosso a gravar a faixa que leva o título do filme, a citação de Raul Seixas, a dupla Gérson Conrad (Jeff Lyrio) e João Ricardo (Mauro Soares) da banda Secos e Molhados, e um easter egg da cantora Rita Lee, que tem sua foto gigante na época dos Mutantes como plano de fundo de diversas cenas. 

No entanto, destaca-se a participação de outro grande nome da música brasileira: Cazuza. Interpretado por Jullio Reis, o filme demonstra sem pestanejar a sua verdadeira relação com Ney Matogrosso, marcada por um intenso romance entre os dois grandes artistas. 

Na coletiva de imprensa, Ney diz: “O Cazuza que eu conheci era muito diferente de como as pessoas enxergavam ele. Ele era uma pessoa doce”. O filme mostra que, apesar de algumas desavenças, a amizade de Ney e Cazuza continuou forte até os últimos momentos de vida do cantor, vítima da AIDS. 

Foto: divulgação/Marina Vancini

Além de Cazuza, outro nome é marcado pelo romance com Ney. Marco de Maria (Bruno Montaleone) foi um grande parceiro na vida do cantor, com quem ficou junto durante 13 anos. Mar – apelido dado carinhosamente – também foi uma das vítimas da AIDS, demonstrada no filme através de uma cena que, para muitos – inclusive para o próprio Ney -, foi a mais pesada de todo o filme. O cantor sobreviveu  a uma época de epidemia, onde viu muitos amigos e conhecidos serem levados pela doença. 

Sangue Latino, Homem com H e O Mundo é um Moinho são algumas das faixas que completam a obra, fechando com Eu Quero Botar Meu Bloco Na Rua, do álbum Bloco Na Rua, lançado em 2019. O final possui um quê simbólico, mostrando a vitalidade e a resistência do cantor mesmo após todos os acontecimentos impactantes de sua vida. 

Foto: divulgação/Assessoria de Imprensa

Com 83 anos e uma voz que transcende o seu tempo, Ney Matogrosso é uma figura importante não só para a música brasileira, mas também para todo o cenário LGBTQIAPN+ do Brasil. O artista é um símbolo de resistência, força e liberdade em um século marcado por preconceitos e pela violência. Ney resistiu e resiste, e Homem com H reflete bem a sua grandiosidade.  

Confira o trailer oficial abaixo:

 

Homem com H estreia dia 1° de maio exclusivamente nos cinemas.

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Texto revisado por Bells Pontes

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