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Destacando a importância da ficção, elenco e diretor de Noites de Alface falam sobre o longa

Com Marieta Severo e Everaldo Pontes, o filme de Zeca Ferreira, que estreia semana que vem, caminha entre dois tons de atuação que se complementam

O filme Noites de Alface, de Zeca Ferreira, é baseado no romance homônimo de Vanessa Barbara. O longa ainda não tem data de estreia, mas com certeza irá às telonas na próxima semana, após dois anos e meio do final das gravações. Nessa coletiva de imprensa com o Entretetizei, o elenco, junto ao diretor e aos produtores Alexandre Rocha e Marcelo Pedrazzi, falou sobre a importância da obra e suas singularidades.

A trama do longa aborda a vida pacata dos moradores da Ilha de Paquetá, que dia após dia vivem a mesma rotina, até que o sumiço de um carteiro agita a vizinhança. Seguindo os passos de Otto (Everaldo Pontes) e Ada (Marieta Severo), o filme, de forma poética e delicada, aponta a importância da ficção para encorpar a vida. Além disso, com dois tons de atuação que se completam, de forma tão tênue, trata também da calmaria e da agitação.

O mundo de Otto e Ada ocorre de uma forma doméstica baseado em uma rotina e com afazeres comuns, enquanto o mundo exterior é um tom acima. Assim, perto do que ocorre com os protagonistas, vemos eles como pessoas agitadas e intrometidas. Entretanto, esses dois tons são de uma sutileza, que funcionam muito bem no longa. 

Sobre isso, Marieta comenta: “Todos nesse filme têm um tom para transmitir o mistério desse lugar entre a ficção e a realidade, sobre o que é verdade e o que não é. É um tom muito preciso, e eu vejo que o Zeca conseguiu colocar todo mundo nesse lugar”.

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A importância da ficção

Com distribuição da Pipa Pictures, Noites de Alface traz de forma afetuosa e carinhosa, em uma narrativa muito bem costurada, a mistura da realidade com a ficção. Marieta Severo, conhecida principalmente pelo seu papel como Dona Nenê em A Grande Família, afirma que nos tempos atuais, onde a arte vem sendo desmoralizada pelo governo, é importante ter um filme em circulação que trata da ficção de forma tão harmoniosa.

“É interessante como esse filme tão delicado e tão poético, que coloca a necessidade absoluta da ficção na vida das pessoas, entra agora em um terreno de Brasil absolutamente avesso e contrário, onde todos os valores são de asfixiar essa ficção, essa imaginação, a cultura e a poesia. E de enaltecer o oposto disso tudo. Então me parece que esse filme entra como uma chama de luz nesse momento de tanta escuridão, peso e asfixia. Eu acho que ele pode ser um respiro bonito dentro disso”.

Muito do modo de Marieta ver esse filme diz respeito ao seu personagem. Ada é a conexão entre Otto e o mundo exterior. Para a artista, a personagem é luz e cor. A construção do filme, em questão de fotografia, não deixa com que essa percepção passe despercebida. Em um jogo perfeito de iluminação, toda vez que presente em cena, Ada traz luz para a escuridão de Otto. “Até na narrativa do filme, cada vez que ela está é muito bonito e de uma precisão. Toda vez que ela aparece tem luz, ela traz luz e traz cor. E você sente isso na imagem”, aponta Marieta.

Everaldo pontua também que o afeto é uma questão importante na vida de qualquer um, e que em tempos de pandemia, como os vividos agora, o afeto se dá através da arte e da ficção. “Cinema é imagem, e estamos no momento de nos relacionar com essas imagens. Então nós nos sentimentos abraçados em uma live, em uma comunicação via internet. E o cinema sempre foi isso, é engraçado como a gente se comove com o cinema e com a imagem”.

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A adaptação do romance Noites de Alface

Para Zeca, a ideia de adaptar o livro, que se transformou em um filme cheio de delicadeza e poesia, surgiu depois de ler pequenos trechos do romance Noites de Alface (2013), da escritora e jornalista Vanessa Barbara, de 39 anos. “A frase que eu gosto e para mim me pegou para fazer esse filme é quando ela [a autora] fala que a Ada se foi e o Otto ficou ilhado. Eu acho isso tão bonito, porque é sobre isso que o filme trata, toda a ponte que esse homem tinha com o mundo exterior era feito por essa mulher”, afirma o diretor e roteirista.

Afirmando ainda que chegou no romance Noites de Alface após ler um outro livro de Vanessa, chamado O Louco de Palestra, que reúne diversas crônicas, o diretor compartilha que mandou mensagem para a autora por Facebook, pedindo para ela a autorização da adaptação, e só obteve respostas seis meses depois. 

O diretor ainda pontua que Vanessa deu livre espaço para a adaptação. Tanto que ele chegou a mudar o final mesmo tendo medo de negar a história. “Eu disse, ‘Vanessa, eu tenho uma leitura do livro de que tudo é da cabeça do Otto, e eu fiquei pensando em colocar o carteiro no final’. Mas, eu tinha intimamente medo de ser uma covardia de estar negando esse livro. Eu fui morrendo de medo dela. Mas ela me deu muita liberdade”, pontua Zeca.

Para completar, o roteirista ainda aponta que a autora depois de ver o filme aprovou. “Ela gostou muito do filme. Me mandou uma mensagem muito comovente. Então isso foi um prazer a mais de fazer esse filme. De poder ressignificar e retrabalhar personagens”.

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A Ilha de Paquetá

A escolha da Ilha de Paquetá como locação para o filme não era a primeira opção. Apesar de ser o local onde Zeca Ferreira mora, outros locais haviam sido cogitados e até mesmo visitados para rodar o longa. Por possuir acesso restrito de pessoas e transporte e não ser muito acessível, a produção de um filme no local não foi fácil. Portanto, o produtor Alexandre Rocha pontua: 

“Foi um desafio e um prazer ao mesmo tempo. Paquetá não foi a nossa primeira escolha. A gente sondou outras locações, que tinham outros desafios também. Mas quando a gente começou a pensar na opção de Paquetá, apesar dos desafios, tinha muito a ver com o filme”.

O produtor ainda aponta que ficar isolado filmando foi crucial para o filme, que teve, dessa forma, um grupo de pessoas da equipe super focados na produção do longa. A questão atemporal da Ilha também ajudou. Segundo Alexandre, o tempo é um personagem do longa. “O bairro ajudava nessa questão temporal, já que o tempo é um personagem do filme também. Tem coisas de hoje, tem coisas perdidas no tempo. E o tempo de Paquetá fazia sentido”.

Marcelo Pedrazzi, também produtor em Noites de Alface, concorda com o colega de profissão e afirma que com planejamento e rodeado de ótimos profissionais, qualquer desafio é superável. “Dentro dessa preparação a gente contou com uma equipe de primeira linha. Pessoas que gostavam do filme e que estavam dentro dele. Mesmo com as questões de logística, a gente conseguiu fazer uma estrutura para servir essas pessoas e contar essa história. Acho que isso que foi muito legal”.

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A construção dos personagens

Os personagens de Marieta Severo e Everaldo Pontes são muitos singulares. Toda a história é sútil e contada de forma muito delicada. Marieta interpreta uma mulher que busca passar o sentimento de saudade e conforto. Everaldo interpreta um homem solitário que busca sentido para suas interpretações. Com a necessidade de serem uma unidade, a química entre os artistas precisava ser certeira, e nisso Zeca deu sorte. Mesmo sem nunca antes terem atuado juntos, a dupla logo se entendeu.

Eu já admirava muito o Everaldo como ator. Quando eu soube que era ele [que interpretaria o Otto], eu já fiquei super feliz, tranquila e segura, porque eu teria um companheiro de viagem de primeira. E todo o tempo lá, com todos os atores, foi muito fácil, fluiu tudo muito bem”, pontua Marieta.

 

Estar do lado de Marieta foi um luxo, acho que ganhei um presente enorme do Zeca e dos deuses de estar ao lado de Marieta Severo”, expõe Everaldo.

Entretanto, não apenas para os protagonistas essa parceria foi incrível. Zeca Ferreira não faz questão nenhuma de esconder o quão feliz ficou com a unidade na atuação de seus dois protagonistas. “Everaldo e Marieta, eu não sei nem o que dizer deles. Foi uma experiência! Eu olho para trás hoje e parece uma epifania na minha vida. A Marieta e o Everaldo são atores muito diferentes em suas técnicas e muito complementares no filme. Eu gosto muito do casal, gosto muito do resultado”.

Na construção de Otto, Everaldo fez experiência de laboratório e morou em Paquetá durante toda a gravação para entrar no espírito de seu personagem. Toda dedicação para interpretar um complexo senhor que tem a solidão e a imaginação como melhores amigas deu certo.

Everaldo pontua ainda que no cinema sempre é chamado para interpretar personagens parecidos com ele, e que com Otto não foi diferente. “No cinema eu sempre sou chamado para fazer uns personagens que tem muito a ver comigo, isso é um privilégio muito grande. E quando o Zeca me chamou para fazer esse personagem, nos primeiros ensaios eu comecei a sentir que eu estava naquele universo”.

Marieta pontua que a Ada é um personagem diferente de tudo que ela já fez. A atriz afirma que a personagem lhe ensinou muito com a forma delicada de ser. “Parece que eu fui com esse personagem para outro patamar de tudo que eu fiz. Ela é muito sutil e delicada. E tem esse jeito de cuidar, sem peso nenhum. Ela tem uma leveza que me agrada muito”.

Assista ao trailer de Noites de Alface:

https://www.youtube.com/watch?v=GwsTd1JADWc

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*Crédito da foto em destaque: Divulgação

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