Confira a seleção do Entretê para prestigiar artistas T nesta data que marca a luta da comunidade por visibilidade
Neste domingo (29) é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, e a história dessa data começou na década passada, precisamente em 2004, no Congresso Nacional de Brasília. O ato promovido pelo departamento de DST, Aids e Hepatites Virais tinha diversas pessoas trans e travestis engajadas no combate a ISTs e, nesse momento, foi lançada a campanha Travesti e Respeito, que acabou virando um marco contra a transfobia no Brasil. Mas não foi só isto, ali também era incluso a luta pela visibilidade, pelo direito de ser e viver em todas as esferas da sociedade. Nada mais justo que esse dia tenha sido escolhido como Dia Nacional para celebrar a resistência e existência da comunidade.
É importante frisar que nem sempre o T foi abarcado dentro das siglas da comunidade LGBTQIA+. Apenas em 1995, depois de muita insistência das travestis Jovanna Babye e a companheira Layza Minellye, que a GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) foi modificada para EBGLT, depois para GLBT e só recentemente para a diversidade de siglas que vemos. E mesmo assim, ainda existe o apagamento de corpos trans de espaços de debate, nas oportunidades e nas coisas cotidianas que fazem parte da vida em sociedade. É só olhar para campanhas publicitárias em tempos de ‘’Parada Gay’’ para percebemos o apagamento de todas as outras identidades de gênero e orientações sexuais, sendo que, se não fossem as pessoas trans e travestis (vide Marsha P Jonhson na Rebelião de Stonewall) na linha de frente, não existiriam tantas conquistas.
Esse dia é não só para lembrar os que já foram levados por esse cistema transfóbico, mas também para prestigiar e divulgar o trabalho de pessoas trans (mulheres e homens), travestis e não-bináries. Para dispersar esse medo constante causados por estatísticas, por manchetes sensacionalistas e para levar essa máxima de que os espaços podem sim ser ocupados, seja na arte, na política, nos banheiros, em qualquer lugar.
Confira a seleção de filmes separada pelo Entretê para comemorar o dia e prestigiar artistas trans:
Beautiful Darling (2009)
Candy Darling, mulher trans e atriz, foi uma força da natureza do underground nova-iorquino, a queridinha de Andy Warhol e já inspirou umas das músicas mais famosas de Lou Reed como Candy Says e Walk on the Wild Side. E não para por aí! Ainda foi musa dos maiores fotógrafos da época como Robert Mapplethorpe, Cecil Beaton, Richard Avedon e Peter Beard. Do Max Kansas City, da Factory até o Studio 54 não tinha ninguém que não a conhecesse, aliás, nos bastidores ela era a queridinha de todo mundo.
O documentário traça a trajetória de Darling, trazendo reflexões e críticas certeiras sobre a busca pelo estrelato, a sua admiração por divas da Old Hollywood como Kim Novak, a fragilidade por trás do ícone, o preconceito da família e o processo de transicionar. Dirigido por Jeremiah Newton, amigo próximo da atriz, a produção nada mais é do que uma montagem com excertos dos diários de Candy com a voice over de Chloe Sevigny, misturada com entrevistas de personalidades que viviam no mesma bolha como Jackie Curtis, Paul Morrissey, Fran Lebowitz e John Waters. Candy Darling morreu muito cedo, tinha apenas 29 anos quando o câncer a levou, mas continua sendo uma ícone e uma referência T na arte e no rock n’ roll.
O filme está disponível no Youtube.
A Morte e Vida de Marsha P. Johnson (2017)
Apesar de controverso entre a comunidade LGBTQIA+, o documentário faz uma boa introdução e apresenta Marsha, ativista, mulher trans e negra, e uma das maiores expoentes da luta por direitos civis da comunidade, a rebelião de Stonewall e as circunstâncias estranhas que levaram à sua morte. Oficialmente, foi declarado que ela morreu por suicídio, mas a narrativa da produção traz questionamentos sobre se realmente foi isso que aconteceu.
Dirigido por David France, o doc traz a pesquisa pessoal de Victoria Cruz que foi baseada em provas com documentos, testemunhas e relatos de pessoas próximas de Marsha. Victoria não só fala sobre Marsha, como também toca em ponto bem sensível, trazendo reflexões sobre as estatísticas de pessoas trans e travestis que são mortas constantemente.
O documentário está disponível na Netflix.
Divinas Divas (2016)
Dirigido por Leandra Leal, a produção traz a história de 8 artistas travestis que bateram de frente com os conceitos engessados dos anos 70, em pleno auge da ditadura civil-militar, e brilharam nos palcos da Cinelândia. Um dos primeiros palcos a abrigá-las foi o do Teatro Rival, administrado pelo avô de Leandra, o que torna o documentário ainda mais especial.
O elenco é composto por Rogéria, Valéria, Jane Di Castro, Camille K, Fujika de Holliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios. Além de contar suas respectivas contribuições nesse movimento revolucionário, o documentário ainda conta com um espetáculo das divas, relembrando seus tempos de holofotes quando tudo ainda era novo e cada apresentação era uma batalha contra o preconceito.
O documentário está disponível na Netflix.
Transversais (2022)
Fortemente censurado pelo governo Bolsonaro na época de seu lançamento, o documentário Transversais deixa velhas narrativas batidas de superação de lado para dar espaço à verdade da forma que é, sem muita enrolação. Com relatos de 5 pessoas trans, as histórias de perda e dor são misturadas com momentos de positividade.
Várias cenas mostram como o apoio familiar é essencial no processo de transicionar, e não só o familiar, mas também todo o acolhimento da própria comunidade LGBTQIA+ faz toda a diferença. As entrevistas foram feitas com duas mulheres trans, dois homens trans e a mãe de uma adolescente trans. Érikah, Samila, Kaio, Caio e Mara contam um pouco de suas vivências, cada um com suas experiências e particularidades.
O documentário está disponível na Netflix.
Kátia (2012)
Vinda do sertão do Piauí, Kátia Tapety foi a primeira travesti eleita a um cargo político no país, além de vereadora mais votada por três eleições seguidas e vice-prefeita de Colônia do Piauí. Em um convívio consecutivo de 20 dias, a diretora Karla Holanda nos leva ao cotidiano de uma travesti, mostrando sua força e seu ativismo, tudo isso em um ambiente que carrega o estereótipo de ser extremamente preconceituoso por causa de questões no cerne da cultura. Podemos observar toda a potência de Kátia, sua contribuição importantíssima para a comunidade T no que diz respeito a ocupar espaços de poder, ganhando cada vez mais voz em ambientes excludentes.
O filme está disponível no Youtube.
Além dessas indicações, o Instagram da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) traz conteúdos diários sobre a organização política de pessoas T, as produções e os estudos do movimento. Vale a pena seguir para se conscientizar (pessoas cis), para prestigiar e para se organizar. Também vale citar as redes sociais da historiadora Trans Preta, da cineasta e pesquisadora Caia Coelho, da atriz e poeta Bixarte, da cantora Medro, do cantor Julian Santt, entre outres.
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*Crédito da foto de destaque: divulgação