andrezza santos em um palco iluminado
Foto: Andrezza Santos

Entrevista | Andrezza Santos fala sobre seu novo álbum Eutrópica

Dividido em três partes, o projeto é carregado de representatividade nordestina e paulistana, além de debater pautas sobre a acessibilidade na arte

 

Brincando com ritmos regionais a batidas eletrônicas e samples do Michael Jackson, é com essa salada mista musical que Andrezza Santos vem deixando sua marca na música brasileira e elevando o MPB a outro nível.

Lançando seu segundo álbum de carreira, Eutrópica, Andrezza Santos cruza fronteiras ao contar histórias de sua jornada entre suas mudanças de estados brasileiros. De Sapopemba, no interior de São Paulo, a Juazeiro/ BA, a cantora desenvolve um disco em trilogia, tendo a primeira parte já publicada no dia 20 de maio e as demais que serão lançadas ao longo dos meses de 2021. O clipe de Vagão Vazio, composição da segunda parte de Eutrópica já está no ar e carrega toda a bagagem de aprendizados de Andrezza acerca do amor e do desapego

Conheça a artista

andrezza santos com roupa rosa neon
Foto: Andrezza Santos

Natural de São Paulo, a cantora e compositora Andrezza Santos começou sua jornada no mundo da música logo cedo, aos seis anos, e desde então vem conquistando prêmios em festivais regionais pelo Brasil afora através de sua arte. Em 2018, já residindo em Juazeiro, iniciou seu primeiro álbum com canções originais, Alto Lá, e parcerias como a do cantor juazeirense Fatel na faixa Bora Ver. Com influências fortes do MPB e com uma assinatura pessoal, ao acoplar o eletrônico em suas canções, a cantora trouxe para 2021 a produção de seu segundo álbum, Eutrópica, que conta com a participação de diversos musicistas e produtores baianos, como Iago Guimarães, Soneca Martins e o duo Antônima

Na euforia dos lançamentos e da chegada do novo clipe de Vagão Vazio, o Entretetizei teve a felicidade de bater um papo com a musa sobre o projeto e sobre sua carreira musical. Você pode conferir tudo agora mesmo: 

 

Entretetizei: Qual o conceito do seu novo álbum Eutrópica? 

Andrezza: Eutrópica diz muito sobre mim e sobre os trânsitos por onde eu passei. Eu sempre fui essa pessoa que se mudou muito de casa, de bairro… nasci na periferia de SP (Zona Leste), mas sempre me mudei de casa, depois de bairro, depois de estado. Ao longo da vida fui percebendo o quanto esses trânsitos, essas mudanças, estavam contribuindo com a minha formação pessoal e profissional também, porque eu tive a oportunidade de vivenciar culturas diferentes, vivenciar experiências diferentes e isso tudo constrói a minha essência como artista que eu trago como porta de entrada. 

O conceito de Eutrópica é uma grande colcha de retalhos, de costuras, de formas e linhas diferentes que ajudam a construir quem eu sou. Essa pessoa andarilha, que está sempre aberta a trocas e oportunidades. 

Então, o disco está sendo dividido em partes: a primeira parte (Sapopemba) já foi lançada e fala muito da minha relação com São Paulo,  da minha relação com a cidade, com o tempo mais acelerado, com os ritmos mais pra frente. Tem um clipe dessa primeira parte que é a canção A Gente Ia Longe, que traz essa coisa dos desencontros de uma forma pensada com a acessibilidade para pessoas surdas, então tem uma intérprete de libras e o ator que contracena comigo também é surdo e eu tento me comunicar em alguns momentos com as libras. Já estamos em estúdio finalizando a segunda parte que se chama Carranca, vai ser lançada agora em agosto e aí já traz essa minha vinda para o Nordeste, para o Juazeiro da Bahia. A terceira parte, que é Atlântica,  vai ser lançada no final do ano trazendo essa minha ligação com o litoral.

capa da primeira parte do álbum Eutrópica
Foto: Andrezza Santos

E: Quais foram os principais impactos na mudança entre esses estados? Sua música foi recebida de forma diferente nesses locais?

A: Olha, eu digo que se eu não tivesse vindo para cá, eu não teria feito nem metade das coisas, porque eu morei em SP e é aquela coisa, tanta correria o tempo todo, passamos mais tempo no ônibus, no metrô, se deslocando para os espaços que a gente acaba não conseguindo dar conta de muita coisa. Então, quando eu cheguei aqui, foi um choque em primeiro momento porque o tempo é mais dilatado. Aqui a galera sai às 17h do trabalho e vai tomar banho de rio. É outro tempo, e falando da minha música, teve um acolhimento muito grande porque eu tive a oportunidade de estar com pessoas que me ajudaram a abrir caminhos. Eu também tive a oportunidade de participar de festivais locais de música, fui premiada e isso ajudou a galera a ser bem receptiva com o meu trabalho

 

Entretetizei: O que você pode adiantar pra gente das próximas partes do seu novo álbum? Para onde mais iremos viajar com você?

Andrezza: Carranca é um símbolo daqui do Rio São Francisco e da cultura ribeirinha, e é uma estátua que os pescadores colocam na proa dos barcos para proteger o trabalho dos maus espíritos e das energias ruins, então eu intitulei o nome Carranca para essa segunda parte que faz vínculo com o rio São Francisco e enfim, quando eu cheguei aqui  tive mais contato com a cultura popular, com a ciranda que faz parte da cultura daqui, então eu vou trazer esses elementos regionais com a minha leitura, ainda que meio caótica. E eu também posso adiantar que vai ter uma participação muito especial que é a Joziara, nós vamos dividir uma canção que é linda, a nossa história caminha muito junta. Vou trazer um pouco mais da cultura regional com parcerias daqui de composição.  

Andrezza Santos se apresentando em um palco iluminado
Foto: Andrezza Santos

E: Como foi produzir os ritmos das canções com características regionais?

A: Na verdade, como eu moro aqui já fazem seis anos, na produção musical eu estou alinhada com Iago Guimarães que está fazendo parte do projeto também na produção e está sendo um processo muito fluído, porque diferente da primeira parte que eu tive que compor, nessa segunda eu já tinha canções e elas se conectam de certa forma. Tem uma que é ciranda, uma que é forró, então na hora da gente pensar na tradução o que eu disse para Iago é que eu não queria me apropriar no sentido de trazer os ritmos tradicionais, porque eu não sou daqui, eu tenho raízes aqui mas não nasci aqui. Eu queria trazer a minha leitura, a minha perspectiva como uma pessoa de fora e a forma como eu vejo esses gêneros. A gente traz essas referências mas a gente desconstrói os elementos. 

 

E: Em seu último álbum, Alto Lá, você brincou muito com elementos eletrônicos. Em Eutrópica você também terá algum diferencial marcante? 

A: Sim. Eu tenho a sorte de ter um produtor que é bem fora da casinha mesmo, com referências de muitas coisas e muitos lugares. Então, na primeira parte do álbum Eutrópica a gente pega elementos da música indiana, por exemplo. Quem ouve no fone vai escutar essas referências. Isso não mudou, eu penso que é algo que já faz parte da minha personalidade artística, trazer essas colagens e essas misturas. Em Eutrópica isso aparece de uma maneira mais sútil, eu trago mais elementos orgânicos. Eu contratei músicos para gravar, mas tem pitadas de eletrônicos, arranjos vocais também, mas eu acho que esse segundo disco está menos MPB comparado com o primeiro. Ele traz músicas um pouco mais alternativas, trazendo mais elementos do rock que também faz parte da minha referência e até então na minha cabeça, eu achava que isso era um problema porque às vezes as pessoas perguntam “ah, mas qual é o seu estilo” e é difícil a gente colocar o nosso trabalho em uma caixinha enquanto artista independente. 

Para mim, as melhores inspirações para eu conceituar o meu trabalho vem dos Novos Baianos, que é essa mistura, salada de fruta de muitas coisas. 

Entretetizei: Quais referências te fizeram entrar no mundo da música?

Andrezza: Minha mãe fala que quando eu nasci, estava tocando Milla. Como eu nasci na periferia de São Paulo, apesar de meus pais não serem músicos, sempre consumimos arte. A gente ouvia desde Calcinha Preta a Elis Regina, então o meu berço foi muito diversificado nesse sentido. Mas eu acho que as minhas primeiras referências para ser cantora e querer brincar de ser cantora são: Sandy & Júnior, Elis Regina, Rita Lee, Djavan… Enfim, eu acho que está muito nesse lugar da música brasileira mesmo. De Calcinha Preta a Pink Floyd, as vezes eu quero ouvir rock, aí eu boto Guns n’ Roses versão piseiro. É sobre isso!    

 

E: A Gente Ia Longe, música da primeira parte de Eutrópica, ganhou um clipe marcado por pautas como a acessibilidade e a inclusão. Como foi realizar esse projeto? 

A: Eu sou formada em Licenciatura em Música pelo Instituto Federal do Sertão Pernambucano e temos algumas disciplinas focadas, no caso, tínhamos a disciplina de Libras na faculdade, só dois semestres (trinta horas apenas), mas para mim foi o suficiente para entender que o que eu faço, o que a gente ouve, a forma como consumimos música é um privilégio.  Então, eu fiquei pensando muito nisso, enquanto educadora, a importância de a gente saber se comunicar em libras. 

Se a gente aprende inglês, se a gente aprende espanhol na escola, por que não aprender libras também? Por que as pessoas surdas são obrigadas a se adaptar com a nossa realidade e a gente não se adaptar com a delas? 

Eu estava conversando com o Pablo e com Adriano, que são diretores do clipe e eles tiveram a ideia de pensar na questão da acessibilidade  e correr atrás de um ator surdo para fazer esse clipe. Foi um aprendizado gigantesco porque o que aprendemos na faculdade não é nem 10% do que vemos no dia a dia. Então o Anderson, apesar de ele não atuar, não ser do teatro, não ocupar esse espaço dentro da arte, super topou. Ele se comunica através das libras e também por leitura labial, então foi um momento de muito aprendizado. O set de gravação foi muito bacana, a gente teve uma intérprete de libras que esteve junto com a gente na gravação e ela também fez as libras depois. 

parte do clipe de a gente ia longe
Foto: Andrezza Santos

E: Todo o álbum Eutrópica também foi pensado para ser mais inclusivo? Você trouxe isso para as outras músicas também? 

A: A questão do álbum em si, ainda não. A gente tá produzindo as músicas, mas nos shows futuramente quando todo mundo tomar a vacina da COVID-19, eu penso em trazer a acessibilidade para os shows. Vai estar presente no mínimo que eu puder fazer, por exemplo, legendando os stories porque agora tem pessoas surdas me acompanhando

 

Entretetizei: O clipe de Vagão Vazio acaba de sair do forno, que história você quis trazer dessa vez? 

Andrezza: Eu canto o que eu vivo, o que eu acredito. Eu componho as coisas que eu vivo. É difícil esse processo de se reencontrar com a gente e olhar para nossa história, conectar e tentar entender a nossa ancestralidade, é um processo dolorido. Mas de coisas que eu pude trazer comigo, da minha história e das minhas mudanças, é que tudo muda o tempo todo. Nada é para sempre. A gente às vezes romantiza um relacionamento, e com essas mudanças eu fui percebendo que não tem como. A gente tá aqui agora e é massa, mas não espere por mim, não sei se volto, só carrego o que foi bom. Então é isso, acho que é entender que a vida tem ciclos e é importante a gente aprender a encerrar de uma maneira saudável e seguir com a vida, porque a gente tem a gente. Eu falo sempre para os meus amigos, a gente aprende sempre a estar em sociedade (com nossos pais, amigos, famílias, filhos, etc.) e a gente nunca aprende a ser só. A gente acha que solitude é solidão, só que não. Ser só é importante, é importante a gente estar com a gente. Então, Vagão Vazio fala sobre esse processo mesmo

Foto: Andrezza Santos

E: O clipe é carregado de looks marcantes que foram produzidos por mulheres de brechós de Juazeiro, certo? Como foi trazer a participação desses artistas regionais para sua arte?

A: Há alguns anos que os brechós aqui em Petrolina e Juazeiro ganharam força. E a gente acaba pesquisando sobre sustentabilidade de moda e percebendo quanto tempo uma roupa leva para se decompor no meio ambiente. E cada roupa tem uma história, e saber que eu estou vestindo uma peça que tem uma história é muito potente. Quando a gente começou a esboçar como seria esse clipe, foi uma ideia de Adriano Alves (diretor do clipe), como eu sou uma pessoa que a cada dia gosta de estar de um jeito, gosto de me ver de diferentes formas, porque não trazer isso para o clipe? Então fomos atrás dessas mulheres empreendedoras para dar esse desafio. Eu tenho várias malas no clipe, e cada pessoa precisou pensar em um look específico para uma mala. E elas trouxeram histórias incríveis, por exemplo, tem uma peça que eu usei que tem cinquenta anos.  

 

Bateu a curiosidade de conhecer ainda mais os projetos musicais da Andrezza Santos? Então você precisa conferir essa matéria: A gente ia longe: Andrezza Santos estreia o clipe com foco em acessibilidade e inclusão.

 

Conta pra gente o que você achou desse papo e do clipe de Vagão Vazio através do perfil do Entretetizei no Insta, Face ou no Twitter.  

 

 

*Crédito da foto de destaque: Andrezza Santos

 

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