Entrevista | Atriz brasileira Bia Borinn fala sobre carreira, participação no filme Música e novas experiências em Hollywood

Ao Entretetizei, a artista também comentou sobre sua personagem no longa Nas Alturas, trajetória profissional, importância da representação brasileira na mídia global e, ainda, projetos futuros

Matéria por Ana Tolentino

Bia Borinn está com tudo. A atriz brasileira, que mora há dez anos nos Estados Unidos, pode ser vista como par romântico do protagonista no filme Nas Alturas, que estreou em 17 de abril, e também no longa Música, com Camila Mendes e Rudy Mancuso.

Antes de ir morar em Nova York ao lado da família, em 2014, e posteriormente se mudar para Los Angeles, em 2017, Bia começou a carreira no teatro e na televisão no Brasil. Atuou em comerciais, novelas e longas, foi apresentadora do programa HIT TVÊ, na RedeTV!, e também de outras atrações, como Intervalo Cultural, da Shop Tour, Viva Beleza e TV Corinthians.

Ela também comandou um podcast ao lado do marido, que traz histórias narradas para o público infantil, o História de Boca, fez sucesso como a vilã de Experimentos Extraordinários, a primeira série live-action exibida pelo Cartoon Network, deu aulas de teatro e ainda preparou crianças para comerciais televisivos.

Formada em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo, a paulista ainda é sócia-fundadora do Brazilian Play and Learn, premiada pela UCLA, por meio do reconhecimento que o governo americano dá a iniciativas educacionais e culturais que promovam línguas de herança.

Ocupando cada vez mais espaço em Hollywood, o que é bastante raro para artistas brasileiros, Bia Borinn tem novos projetos pela frente. O público poderá vê-la falando espanhol em uma nova trama internacional em breve.

Em entrevista ao Entretetizei, ela comenta sobre os novos projetos, se abre para falar do processo de expansão da sua carreira de atriz internacional, fala da importância da diversidade e representação brasileira na mídia global e muito mais! Bateu a curiosidade? Confira a conversa completa!

Foto: divulgação/Aryadne Woodbridge

Entretetizei: Como tem sido a experiência de participar dos projetos Música (Amazon) e Nas Alturas (AppleTV/YouTubeTV) e ganhar mais visibilidade  internacional?

Bia Borinn: Eu mudei para os Estados Unidos faz quase dez anos, né? E a gente sabe que demoram a sair projetos audiovisuais, então eu tava bem ansiosa. E também eu saí do Brasil e tinha acabado de fazer Experimentos Extraordinários, que foi a primeira live-action da Cartoon Network, pela Boutique Filmes… Eu sempre trabalhei muito no Brasil, e quando você vem para um país novo, você tem que recomeçar a sua carreira, se você não fez nenhum projeto internacional. Então demorou esse processo de aprender a falar fluentemente inglês. Não só falar, mas atuar em inglês, conhecer as pessoas, fazer o networking. Eu tô muito feliz com esses dois projetos, porque eu também trago o que é ser brasileira nos Estados Unidos, então isso também é um fator que me deixou supercontente.

E: Em Nas Alturas, você raspou seu cabelo para interpretar a Rafaela, uma paraquedista brasileira que parece desafiar estereótipos associados às mulheres brasileiras. Pode nos contar como foi seu processo de construção para dar vida a esse papel e como você espera que ele seja recebido pelo público?

B: É muito comum ver a brasileira só como a sensual, a sexy, é claro que isso faz parte do nosso imaginário, foi construído. A gente tem praia, a gente tem Carnaval, a gente tem muita mistura, né? Então acho que isso faz parte, não nego.Mas, ao mesmo tempo, não somos só isso! E no caso da Rafaela, apesar do roteiro ter focado bastante nesse aspecto, o antagonista se apaixona por ela porque ela é livre, sensual, e eu não queria só trazer esse aspecto. Por isso eu fiz um undercut para deixar ela mais edge e também me preparei bastante fisicamente, porque ela é uma paraquedista que dobra paraquedas, que também ensina como tem que saltar. Então ela tem que ser forte, tem que ser assertiva. Tudo que trouxesse mais esse aspecto da Rafaela, principalmente antes dela se apaixonar pelo protagonista… Enfim, todas as oportunidades que eu tive, tentei trazer um pouquinho disso. 

E: Em meio ao cenário atual da indústria cinematográfica, qual é a importância, para você, de escolher papéis que desafiam estereótipos e contribuem para uma representação mais autêntica e inclusiva na mídia?

B: Eu acho que essa é a nossa missão. Dentro do Brasil, fora do Brasil, eu acho que, para ser além de uma questão de marketing, de números, tem que colocar diversidade. Sim, tem que colocar, mas tem que sair do estereótipo também. Porque o que a gente vê ainda é você colocar a diversidade ainda de uma maneira muito estereotipada. E isso está mudando. A gente vê, principalmente em produções independentes, isso já é uma realidade. As bolsas no audiovisual, escritores que saem, né? Que estavam à margem e vão trazendo suas vozes… Tudo isso é muito mais real, a vida real.Por exemplo, a vida real da população americana, por onde eu moro, aqui na Califórnia, é muito diversa. E o que você vê na televisão ainda tá longe de ser o que é a população real. Por exemplo, um quinto do país, 20%, já é considerado latino ou hispânico, e se você vê os protagonistas de filmes, ainda são só 5% de latinos. Os diretores, então, menos ainda. Produtores, menos ainda. Roteiristas… Ainda tem um longo caminho para ser traçado, mas é muito importante ter essa consciência. O ator é a ponta. Muitas vezes, a gente não consegue escolher, porque a gente tem que trabalhar, a gente tem que dar conta. Mas eu acho que quase toda experiência é válida. Mas se a gente puder escolher, é melhor escolher papéis que realmente quebram esses estereótipos.

E: Você foi premiada pela UCLA, principal universidade de Los Angeles, pelo projeto Brazilian Play and Learn, em que promove o português como língua de herança.  Você acha que há espaço para mais diversidade e representação brasileira na mídia global?

B: Sim. A Brazilian Play and Learn foi premiada pela UCLA, através de um prêmio que o governo americano dá para a promover línguas de herança. E a gente tem muito o que crescer. Não só globalmente, mas eu acho que o governo brasileiro, as pessoas que tão lá, ainda não entenderam a importância do ensino da língua portuguesa no mundo. Eu tenho dois filhos, que estão crescendo aqui nos Estados Unidos, mas que são brasileiros. A gente só fala português. A gente nasceu no Brasil, então eles se consideram brasileiros também. Essa criançada que cresce vai ser que nem o Rudy. Vai ser um cara que vai ter essa multiculturalidade, que vai saber o que é ser brasileiro além de estereótipos, que têm essa vivência familiar diversa culturalmente. E que lá na frente pode ser um produtor, pode ser um cara de negócios, um cientista, e que vai fazer esses trades, essas trocas, entre o país que ele mora e o Brasil.

Então, para o Brasil, seria muito interessante que pessoas no mundo crescessem falando português como um investimento. Infelizmente, a gente ainda é um país que não pensa pra frente. Eu sou muito orgulhosa de ser fundadora dessa iniciativa educacional e cultural, porque acho que daqui a alguns anos, na verdade, eu já vejo adolescentes que tão entrando na faculdade, que falam português, que se identificam como brasileiros, o que vai, com certeza, trazer frutos para a comunidade brasileira e para o exterior.

Foto: divulgação/Aryadne Woodbridge


E: Como foi participar do longa Música, que tem a ver com a cultura brasileira e é um filme relacionado à música de uma forma não convencional? Como foi trabalhar ao lado de Rudy Mancuso? 

B: Música é um projeto, um filme muito querido porque eu já usava o Rudy como exemplo para alguns jovens aqui, que são filhos de brasileiros, que queriam ser youtubers. Aí eu falava: “Gente, tem esse cara…” Aí eu fiz esse teste, passei no filme, e foi muito louco, porque eu conheci o Rudy em 2017, e quando foi em 2021, se eu não me engano, 2022, eu tava lá no set gravando com ele. Foi uma história muito bonita, ainda mais em um filme que fala sobre a brasilidade, como vocês falaram, de um jeito não convencional, ou seja, de novo a quebra de estereótipos. Claro que traz algumas coisas que todo mundo sabe, tipo coxinha, mas é como a gente também aqui nos Estados Unidos.Às vezes, o brasileiro fala: “Ah, mas vai falar de coxinha?” Sim! Vai falar de coxinha. A gente, quando fala com os nossos filhos, a gente usa as coisas muito típicas, entendeu? Que é realmente a maioria das coisas que chegam ou prosperam aqui. Ainda são coisas assim, que parecem meio óbvias para quem tá no Brasil, mas vira uma questão emocional, entendeu? É de identificação imediata. Tipo: pão de queijo, coxinha, brigadeiro, churrasco, tapioca, açaí… E olha que eu só tô falando de comida, mas tem também a questão musical, que eu acho que o Rudy usa muito bem, porque ele também teve assistência do Marivaldo dos Santos, um instrumentista, musicista incrível, baiano radicado em Nova York, que trabalhou no Stomp durante muitos anos, e que trouxe toda essa diversidade musical para o filme. Enfim, é um projeto muito querido, que tenho muito orgulho de ter feito parte. 

E:  Com diversos trabalhos em produções fora do país, você está se tornando uma figura reconhecida internacionalmente. Quais são seus planos futuros em relação à expansão da sua carreira como atriz internacional? Há algum papel dos sonhos que você gostaria de interpretar? 

B:Agora, eu acabei de voltar do México, eu não posso divulgar ainda o que é, mas eu vou fazer uma série em espanhol. Então, eu sou latina, sou uma atriz latina que fala português e que também fala espanhol. Então tem todo um mercado também para falar espanhol, inclusive todos os atores falam no Brasil: “Ah, eu quero ir para os Estados Unidos, tenho que aprender inglês”. Eu sempre falo: “Tem que aprender inglês, mas você fala espanhol?” Porque somos latinos, e isso é uma coisa em que, assim, eu só mergulhei profundamente quando saí do Brasil. A gente no Brasil não tem essa consciência, vivência, do que é ser latino, e quando você sai do país, você entra em uma comunidade maior, que são os latinos. Porque somos latino-americanos, mas falamos português, entendeu? E, no Brasil, a gente não tem essa troca como os nossos vizinhos. Às vezes a gente acha que falar portunhol é o suficiente, mas essa troca entre os países sul-americanos e o Brasil poderia ser muito maior no nível educacional, nas escolas, até que a gente crescesse com essa identidade, pra gente fazer essa troca mais imediata com os nossos hermanos e fazer parte de uma comunidade maior.

E, sim, fortalecer, né? Eu sinto que a gente aqui, em Hollywood, os brasileiros são considerados latinos, mas dentro da comunidade latina a gente não tem tanta entrada, principalmente por causa da língua. E isso é uma coisa em que eu tô focada. Eu tô focada em entrar mais nessa comunidade, falando espanhol, e também produzindo meu próprio conteúdo, né? Produzir conteúdo, fazer parcerias, contar nossas histórias, eu acho que isso é muito importante. O papel dos sonhos? Carmen Miranda (risos)! Não, eu não tenho uma coisa específica. Acho que é participar de projetos com uma equipe bacana, se possível, da A24. Acho que eu gostaria de fazer um papel de uma brasileira, mas que também quebrasse essa visão estereotipada. Eu gosto da Carmen Miranda justamente por isso, porque, assim como a Marilyn, ela acabou virando um produto de tanto estereótipo, que não conseguiu sair nunca mais. Acho essa questão muito viva em mim.

E: Além de amante da comunicação, você comanda podcast, atuou como apresentadora, é atriz e também massagista ayurvédica, certo? Além dessas facetas que já conhecemos, você tem interesse em explorar outras áreas da comunicação, da indústria cinematográfica ou do entretenimento?

 B: Bom, apresentadora, podcaster, tudo vem de eu ser atriz. Essa é a raiz. Mas também existe essa questão da massagem ayurvédica, e porque o teatro foi tão importante na minha vida para eu entender a importância do autoconhecimento, seja mental, espiritual ou físico. A massagem ayurvédica veio muito através disso, do autoconhecimento. Eu sou muito grata ao teatro por ter me proporcionado isso. E outra área da comunicação? Olha, eu tô escrevendo agora, e eu acho que isso é muito importante para mim também. Eu já participei de oficinas de dramaturgia com Luís Alberto de Abreu, Maria Thaís… Gosto de escrever, eu tô retomando isso. E gosto também de preparar elenco, isso é uma coisa que eu gosto também. Só que eu sou atriz, em primeiro lugar, é o que eu mais gosto de fazer, então nada vai substituir. Eu tenho outras áreas, mas o que eu mais curto mesmo é atuar.

Foto: divulgação/Aryadne Woodbridge


E:
Você tem algum conselho para jovens artistas que aspiram seguir uma carreira no mundo da atuação, especialmente aqueles que desejam se destacar internacionalmente?

B: Jovens artistas, jovens, mundo da atuação… Eu tava conversando com uma menina, ela tem 17 anos, e perguntei para ela: “E aí, você vai fazer artes cênicas no vestibular?” Ela falou:“Não, não, não, eu já fiz muito curso de atuação, eu vou fazer cinema.” Eu pensei: “Putz! Isso é muito legal.” Então, depende muito da área que você quer. Se você quer fazer teatro, teatro mesmo, e esse é o seu foco, eu acho superbacana fazer uma faculdade de teatro ou mesmo um curso fora, na Inglaterra. Se a pessoa tem curiosidade de estudar fora, tem outros cursos aqui nos Estados Unidos e no mundo inteiro. Em Madrid, na Argentina… Tem escolas maravilhosas de teatro na Itália… Por isso, depende muito do que a pessoa quer, mas audiovisual, por exemplo, eu acho que se a pessoa quer fazer uma faculdade, eu acho muito legal ela fazer cinema, para ela entender o que rola por trás das câmeras, porque isso ajuda muito.

Eu tô editando, por exemplo, meu piloto. E, nossa, é uma aula. Porque eu me vejo, é um piloto de uma websérie chamada Playing for Real, e eu sou a protagonista e também tô editando, e eu vejo coisas na minha atuação que eu falo: “Nossa! Olha!” Então quando você está por trás das câmeras, isso é muito bom. E tem muito curso livre, no mundo todo, em qualquer língua que você possa falar. E viajar é muito bom, conhecer as pessoas, ter essa vivência, isso é muito importante. E uma outra coisa, que não é conselho, é através da minha experiência: falar espanhol. Além de falar inglês, falar espanhol. E não se preocupar com sotaque, mas se preocupar com pronúncia. Sotaque todo mundo tem. Agora, pronunciar direito é importante, tanto em espanhol quanto em inglês.

E: Por fim, você poderia compartilhar uma experiência significativa ou um momento marcante que teve ao representar o Brasil em uma produção ou evento internacional?

B: No Música, foi um momento importante, porque a cena é curta, mas é uma história interessante. Eu não atuei com a Camila Mendes, não vi a Camila, só atuei com o Rudy, que estava dirigindo, completamente focado na direção da cena, pois era uma cena muito complexa. Então eu não conversei muito com ele. Eu conversei mais com a mãe dele, a Maria, uma pessoa incrível de conhecer. Mas essa cena era um diálogo, era uma cena em que a gente conversava com ele. Quando eu cheguei lá no set, descobri que eles tinham transformado a cena, que na minha cabeça era só um diálogo, em um plano-sequência, sem cortes, com o grupo Stomp tocando percussão com os instrumentos ao vivo do salão de beleza, e a gente tinha que falar num ritmo de maracatu, nos tempos certinhos. Isso foi tão emocionante, porque eu vivi alguns processos de percussão corporal no teatro, com os Barbatuques, por exemplo, e foi muito louco como isso tudo veio para mim.

 

O Barba, que era do Barbatuques, faleceu, mas eu tinha muita convivência com o Charles, com o Hosoi, e também com o Maurício, e isso foi muito útil para mim. Então foi muito bacana sentir que tudo que a gente faz, todas as experiências que a gente tem na vida são válidas, sabe? Tudo. Absolutamente tudo, quando você é ator. Quanto mais rica for nossa experiência, mas holística, completa, complexa, diversa, é melhor, porque aí no set tudo isso tá dentro de você. Todos esses recursos estão dentro de você. Foi uma diversão fazer essa cena, e eu tava tranquila, porque eu tinha passado por essa experiência e na hora me veio na cabeça, na hora eu acessei. Isso é uma coisa que eu gostaria de compartilhar.

 

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Texto revisado por Michelle Morikawa

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