Com um tema marcante revelando o genocídio negro, o clipe Lanterna rendeu ao cantor Ravih uma exibição no festival inglês The Lift-Off Session
Nascido e criado em Parelheiros, bairro na zona sul de São Paulo, Ravih encontrou na música uma maneira de simbolizar e refletir questões importantes que devem ser discutidas em sociedade. Em entrevista ao Entretetizei, Ravih contou um pouco sobre sua carreira, que começou em novembro do ano passado, e também contou como surgiu a ideia em representar elementos chocantes em seus videoclipes.
Tudo começou com influência de seu pai e sua mãe. Aos 11 anos Ravih, já tocava alguns instrumentos e, com o apoio da família, decidiu seguir o caminho da música.
“Meu amor pela música surgiu completamente da convivência com os meus pais: minha mãe sempre regeu corais na igreja, enquanto meu pai era DJ de baile black. Ele também chegou a apresentar um programa musical na rádio comunitária, então eu cresci cercado por CDs, fitas cassetes e discos de vinil. Quando eu tinha 10 anos, meu pai me presenteou com um teclado, o qual eu ainda utilizo para escrever minhas músicas.”, disse o cantor.
O primeiro EP lançado por Ravih, Distância, possui apenas quatro músicas, mas que conseguem traduzir de uma maneira marcante o valor que as canções possuem. As letras escritas pelo cantor merecem destaque. O primeiro single, Lanterna, traz não só em sua letra, mas também no videoclipe, um empoderamento e uma reflexão sobre o preconceito e genocídio negro. Propositalmente, Lanterna foi lançado em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Além disso, o clipe possui elementos que mostram a realidade de muitos brasileiros.
“É chocante se lembrar que um jovem negro é assassinado no Brasil a cada 23 minutos e que não há um verdadeiro empenho do Estado em apurar e punir esses crimes. O sentimento constante de ‘eu posso ser o próximo’ é real: tenho medo de ficar conhecido pela minha morte, ao invés da minha arte. Inclusive, além de denunciar, utilizo minha arte para mostrar para as pessoas pretas que existem outras possibilidades para nós, além das estatísticas, como o amor próprio, por exemplo.”.
Lanterna também teve uma grande repercussão fora do Brasil. Com a estética realista, o videoclipe foi exibido no festival inglês The Lift-Off Session. Além disso, Ravih ganhou o título de Artista Destaque no Festival Nacional Cawcine. Em entrevista, pergunto como foi receber este prêmio e o que ele representa:
“Fiquei bastante feliz e surpreso com todo esse reconhecimento logo no primeiro trabalho. Mas tanto o prêmio quanto a exibição foram bastante simbólicos, pois esse clipe é protagonizado por meus alunos, que são crianças pretas. Como no Brasil, crianças pretas só têm destaque como vítimas de bala perdida, fiquei muito orgulhoso por poder mostrá-las que existem outras possibilidades.”.
Coragem é uma palavra que não falta nas produções de Ravih. No videoclipe Tarde Demais, podemos ver um outro lado do cantor, mais pessoal e íntimo. Com coreografias feitas por dançarinos convidados, a letra da música acompanha a dança e o lado triste e melancólico de um término de relacionamento.
“Por muito tempo tive uma grande dificuldade em encerrar ciclos, o que me mantinha preso a situações que não me cabiam mais. Essa letra nasceu desse entendimento de que desistências, finais e despedidas não são, necessariamente, coisas negativas. Então, essa música vai além da parte amorosa e expande isso para todas as áreas da vida: fazer as coisas somente enquanto fizer sentido.”.
Além de ser influenciado por sua mãe e seu pai, Ravih possui referências dentro da música. Suas canções misturam elementos do rap, R&B e folk alternativo. Todas essas melodias trazem com ele inspirações de outros artistas que foram essenciais para produzir o primeiro EP.
“Alicia Keys e Beyoncé têm algo que admiro muito e que tento trazer para o meu trabalho: a capacidade de oferecer obras que falam de si, mas também abordam suas origens e as questões de seu povo. Aqui no Brasil, Iza e Criolo também fazem isso com muita maestria. Para mim, é muito importante alcançar esse equilíbrio em que a arte consiga divertir, mas também fazer pensar.”.
Ao escutar e assistir Distância, é possível perceber detalhes que fazem da música de Ravih especial e única. Um jovem negro que veio da periferia de São Paulo, trouxe não só sua história, mas a história dos negros brasileiros que lutam pela vida. Refletir sobre as letras das canções é também levá-la para o cotidiano, e lembrar que aqueles personagens narrados nos clipes representam pessoas reais.
Para fechar, Ravih conta sobre suas futuras produções:
“Até o final deste ano, devo continuar divulgando o meu EP, Distância, que lancei em dezembro do ano passado, com videoclipes e apresentações virtuais. Para o ano que vem, estou preparando um tributo à obra de Wilson Simonal. Acho que vai ser bastante especial resgatar o cancioneiro de um dos maiores artistas que o nosso país já viu.”.
Por aqui no Entretetizei, já estamos ansiosas para ouvir as próximas músicas e, enquanto isso, vamos continuar aproveitando o EP, Distância, que está disponível no YouTube.
Confira o clipe Lanterna:
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*Crédito da foto de destaque: Divulgação/@JcBrowns