Gab Lara
Foto: reprodução/Instagram @ogablara

Entrevista | Gab Lara fala sobre o musical Querido Evan Hansen e carreira

O artista concedeu uma entrevista para o Entretetizei, onde contou sobre o que espera quando o público assistir ao musical

Entrevista por Giovana Sedano

Gab Lara, ator e compositor natural da Gávea, recentemente estreou como Evan Hansen no aclamado musical da Broadway Querido Evan Hansen no Teatro Multiplan, Rio de Janeiro, em 13 de junho. 

No papel de Evan, um estudante que enfrenta transtorno de ansiedade e se sente invisível aos olhos dos outros, Gab Lara dá vida a uma jornada emocionante de autodescoberta. À medida que uma mentira inocente se transforma numa teia complexa de eventos, Evan é colocado no centro das atenções, confrontando a dura realidade da era digital e os desafios imprevisíveis do autoconhecimento.

Atualmente com 28 anos, Gab iniciou sua carreira teatral aos 6 anos, atuando como um anjo na peça O boi e o burro a caminho de Belém no Tablado. Graduou-se em Atuação Cênica pela UniRio e participou de diversos espetáculos. 

Sua paixão pela música veio do seu pai, um designer, matemático e professor universitário, que o inspirou desde pequeno a cantar e seguir o seu caminho na arte.

Aos 10 anos, ele começou a sua carreira no teatro musical, quando interpretou Kurt em A Noviça Rebelde. 

Gab Lara
Foto: divulgação/Musical Querido Evan Hansen
Confira a entrevista exclusiva do ator e cantor para o Entretetizei:

Entretetizei: Como foi sua preparação para interpretar o papel de Evan Hansen? Que tipo de recursos ou conteúdos você buscou para dar vida a ele?

Gab Lara: Eu já tinha assistido ao espetáculo na Broadway em 2018, então já conhecia a história. Quando soube que tinha sido aprovado pra interpretar o Evan na montagem brasileira, assisti ao filme e consegui encontrar um link pra assistir a montagem original de Nova York na internet. Nas primeiras semanas, estudei somente por essas vias, mas, quando recebi o texto e as partituras da nossa versão, mergulhei de cabeça nesse material. Passei semanas inteiramente dedicado a isso, lendo artigos e textos que encontrei sobre o espetáculo, assistia à versão original com o texto traduzido do lado para ver as mudanças, tudo que era possível fazer naquele momento. Quando começaram os ensaios, abandonei o material original e foquei somente nas versões brasileiras do texto e das músicas.

E: Como é a sensação de estar em um musical com uma base de fãs tão grande ao redor do mundo? Existe uma pressão maior ao interpretar personagens que já são queridos pelo público?

Gab: Dá pra ver o amor que as pessoas têm por esse musical, e eu entendo, porque também sinto. Fiquei completamente apaixonado quando assisti pela primeira vez. A história é muito tocante, então é fácil de se identificar. A cada pessoa que chega no final do espetáculo com os olhos brilhando pra falar comigo, relembro o quão especial é essa oportunidade que estou tendo. Claro que existe uma responsabilidade tremenda, ainda mais quando o trabalho foi tão bem feito pelos outros atores que já interpretaram esse personagem, mas nada que muita dedicação não seja capaz de superar. Me entreguei completamente pra que eu pudesse contar essa história da melhor forma possível.

E: Qual aspecto da história mais ressoa com você pessoalmente e como isso influenciou na sua relação com o personagem?

Gab: Me identifico com várias questões apresentadas na peça. Na verdade, acredito que todo mundo se identifique de alguma forma, pois estamos vivendo um momento muito difícil no mundo, e a maioria das pessoas já vivenciou algum episódio de ansiedade, depressão ou algum outro transtorno social que dificulta nossa interação com o mundo e as outras pessoas. Me vejo muito em alguns aspectos do Evan, e sinto que a peça trata de forma muito bonita essas dificuldades. Ela não martiriza, não crucifica e nem ridiculariza; ao contrário, mostra que todos estamos sujeitos a passar por momentos frágeis na vida, e que devemos manter a esperança porque logo vamos encontrar dias melhores.

E: Qual é a importância, na sua opinião, de abordar temas como ansiedade e isolamento social, que são centrais em Querido Evan Hansen, especialmente considerando o público jovem?

Gab: A vida com a internet ficou muito acelerada e ansiosa. O Brasil está entre os países com maior taxa de suicídio entre jovens no mundo todo. Esse número só aumenta a cada ano. É um tema delicado, mas muito, muito, muito importante. São tempos difíceis pros jovens, então tudo que espero é que a peça elucide e ajude a abranger e fomentar esse debate. A nossa saúde mental é muito valiosa, que bom que estamos falando sobre isso. Espero que o público saia com vontade de viver mais, de ser mais e de encarar a vida com força e perseverança. Olhar pras dificuldades da vida e não deixar elas te abaterem, e sim te tornarem mais fortes e mais vivos.

E: Como você se conecta emocionalmente com o público durante as performances? Existe alguma cena ou momento específico que você considera especialmente poderoso nesse sentido?

Gab: Me sinto muito grato quando vêm falar comigo ao final do espetáculo e se mostram muito emocionados com a história, ou relatam ter passado por situações parecidas. Fico muito feliz que nosso trabalho possa ajudar a salvar a vida das pessoas, a esclarecer muitas questões pessoais. Uma coisa que me toca profundamente nesse espetáculo é o final. Desde a parte que Evan conta a verdade para a família Murphy, a forma como ele lida com tudo se desmoronando, a reação de sua mãe e, principalmente, o não punitivismo que a peça exerce no personagem. Mostrar que todos erramos, todos somos passíveis de cometer atos infortunosos por motivos diversos, mas que isso não deve nos definir. Evan é só um menino, como tantos outros, que erra e acerta; é apenas humano. Não há um cancelamento, há apenas o entendimento de que, sim, foi errado o que ele fez, mas que a vida segue. O erro virou aprendizado e o perdão é uma resposta honesta.

E: Querido Evan Hansen é conhecido por suas músicas. Como você se preparou vocalmente para interpretar essas músicas e como elas ajudam a contar a história do personagem?

Gab: São muitas músicas, e num registro que eu não estava tão acostumado a cantar. Foram algumas semanas de muito estudo e dedicação. Tive que resgatar em mim uma linguagem que estava há alguns anos sem trabalhar: a do teatro musical; visto que desde a pandemia estava muito focado em música popular — inclusive meus últimos dois trabalhos em musicais foram Clube da Esquina e Cássia Eller. Minha sorte é que Querido Evan Hansen é um musical muito intimista e, mesmo sendo americano, conversa muito com a nossa música popular. Evan canta da mesma forma que lida com a sua vida: de forma íntima, sincera, às vezes tímida, mas com vontade de gritar e ser ouvido. Então, encontrei um meio-termo entre a linguagem do teatro musical e da MPB, que foi a chave para que a equipe criativa acreditasse no meu trabalho e na minha capacidade de interpretar o personagem. Mas isso tudo só foi possível com muitas aulas de canto e um trabalho diário focado na voz.

E: Quais são seus momentos favoritos ou suas músicas preferidas do espetáculo?

Gab: Minha canção preferida do espetáculo sempre foi, e ainda é, Para Sempre (For Forever). Acho um dos momentos mais bonitos da peça, com Evan se deixando levar pela sua imaginação e começando a gostar de acreditar na própria mentira, pois a verdade era muito mais dolorosa. É nessa música que ele cria toda a amizade fictícia que ele e Connor possuíam. Tudo isso, sofrendo por não ter, de fato, um amigo, e sob a ignorância inocente de que é daquele jeito que as amizades funcionam. Uma idealização pura e frágil.

E: O que você espera que o público leve consigo depois de assistir a uma apresentação de Querido Evan Hansen?

Gab: É uma história bem emocionante. Sinto que todas as pessoas podem se identificar de alguma maneira com algum aspecto da história. A peça fala sobre pertencimento, aborda temas delicados como saúde mental e relacionamentos, tanto amorosos quanto entre pais e filhos. Cada personagem da trama vive um drama específico que pode ser relacionável pra alguém da plateia. E, mesmo sendo um tema super delicado, a peça o trata de forma leve e esperançosa, então, você sai com um sentimento positivo sobre a vida. Espero que nosso espetáculo ajude a fomentar o debate sobre saúde mental, que vemos ser cada vez mais necessário nos dias de hoje.

E: Você teve alguma experiência marcante com fãs após suas performances? Alguma história que gostaria de compartilhar?

Gab: A cada dia me surpreendo com o carinho dos fãs do musical. Sempre muito gentis e transbordando emoção ao ver uma história pela qual têm tanto carinho sendo contada. Todo dia tem alguém contando como aquela história o ajudou a resolver questões pessoais, ou a superar algum trauma, ou a entender o que sentiam parentes e amigos próximos que passaram por um daqueles dramas. Semana passada fiquei bem mexido e emocionado com duas meninas que foram assistir à peça e relataram, ambas, ter parentes que tiraram suas próprias vidas, e falaram como a peça as ajudou a lidar com suas histórias. Fiquei encantado, elas falaram que voltariam no dia seguinte pra ver de novo e eu as chamei pra assistirem como convidadas. Quando voltaram, me deram um chocolate de presente e agradeceram. Eu que devo agradecer! É por vocês e tantas outras pessoas assim que faço isso da minha vida.

E: Houve algum momento especial nos bastidores que te fez ter mais conexão com essa história?

Gab: Houve duas situações que me provocaram positivamente durante os ensaios. A primeira foi uma pessoa da equipe que falava que não gostava do personagem Evan, e que, por minha causa, estava se apaixonando cada vez mais pelo menino. E a segunda foi o contrário: duas pessoas, também da equipe, que falaram “você está me fazendo ficar com muita raiva do Evan no segundo ato. Todo confiantezinho, arrogante”. Isso, pra mim, era tudo o que eu precisava pra mostrar que estava no caminho certo. Meu desejo sempre foi retratar o personagem como apenas um menino comum, com suas inseguranças e anseios, com seus desejos e amores, que erra, mas que também acerta. Evan é apenas humano: não é mocinho nem vilão. É normal.

E: Quais são os próximos projetos e passos que gostaria de dar na sua carreira?

Gab: Já estou com planos de produzir mais um EP, agora que estreamos a peça e, consequentemente, fiquei com mais tempo livre durante a semana. E também estou louco para trabalhar com audiovisual, porque é uma das áreas em que menos tenho experiência e sinto que vou aprender muito fazendo. Depois desse projeto, é apenas seguir em frente. Continuar contando histórias que emocionem e transformem as pessoas. Meu maior sonho é tocar a alma das pessoas de alguma forma com a minha voz, minhas músicas ou pelas histórias que vou contar. Usar a arte como instrumento de mudança, cura e reflexão. Se eu continuar por esse caminho, estarei feliz da vida.

E: Há algum conselho que você gostaria de dar para aspirantes a atores e atrizes que desejam seguir uma carreira no teatro musical?

Gab: Estudem, estudem e estudem. É uma área extremamente competitiva, com poucas oportunidades. Então aproveitem cada chance que tiverem. Se sua família, ou se você tem uma situação econômica que te possibilite estudar teatro, canto ou dança, faça. É o primeiro passo e o mais importante. Se seu coração estiver na arte e você achar que não há outra saída pra você, estude mais ainda. Não tem segredo, não tem macete. É dedicação e amor pelo ofício, apenas.

 

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Leia também: Querido Evan Hansen chega ao Brasil no segundo semestre 

 

Texto revisado por Cristiane Amarante

 

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