Foto: reprodução/Giovanna Moraes

Entrevista | Giovanna Moraes demonstra que o rock’n’roll é coisa de mulher

Em entrevista ao Entretetizei, Giovanna Moraes coloca as minas no poder inspirada por Charlie Brown Jr., Cássia Eller e Rita Lee

Entrevista por Leticia Stradiotto

“Na minha época, o clube do Bolinha afirmava que para fazer rock ‘precisava ter culhão’, eu queria provar a mim mesma que rock também se fazia com útero, ovários e sem sotaque feminista clichê”, disse a icônica Rita Lee, desafiando as normas estabelecidas no rock brasileiro. Inspirada por essa mesma ousadia, a nossa “Mina de Sampa” da vez é Giovanna Moraes.

A talentosa cantora de rock alternativo iniciou sua carreira em 2017 com um estilo experimental, mas logo se firmou no gênero durante suas turnês pelo Brasil, conquistando o público. Com o lançamento do álbum Fama de Chata (2024), ela entra com tudo calando as críticas e os haters de plantão com o seu rock’n roll com as faixas As Mina no Poder, Fala na Cara e Bloquinho de Notas. Giovanna Moraes discute a autenticidade, igualdade de gênero e os direitos das mulheres na atualidade, e não mede esforços para desafiar os estereótipos dentro da indústria musical.

Nas redes sociais, Giovanna utiliza os números para impactar mais de 1 milhão de pessoas por mês com seu conteúdo, expondo comportamentos machistas e mostrando, mais uma vez, o lugar das mulheres na música. 

Foto: reprodução/Giovanna Moraes

O Entretê bateu um papo com a cantora para saber mais sobre os desafios, processos criativos e a influência das redes sociais nessa trajetória. Confira a entrevista abaixo:

Entretetizei: Com mais de 80 mil seguidores no TikTok, como foi para você ver seus vídeos viralizando tão rápido nessa rede? De que forma você acha que as redes sociais impactaram a sua carreira?

Giovanna Moraes: Pra mim, a internet fez com que meu trampo pudesse chegar em lugares inesperados. Sou muito grata por ser artista nessa era de internet, de conseguir, com a força da minha coragem, abrir minhas próprias portas e fazer o meu som chegar na galera. 

E: Alguma vez você se sentiu subestimada ou desvalorizada por ser mulher no mundo do rock? Como lidar com isso?

GM: Sempre! Confesso que eu até gosto de chegar nos lugares e ver que geral não dá nada pra mim e depois ver a cara da galera no pós-show (risos). Hoje em dia mais gente me conhece, mas ainda tem muito disso. Como lidar? Gosto de tirar sarro, seja internet, seja em pessoa… Às vezes uma tiração de sarro, uma piada, é um bom jeito de tocar no assunto de maneira leve. 

E: Quais foram os maiores desafios que você enfrentou até agora na sua carreira musical?

GM: A indústria da música é muito fechada e muito suja. Você, como artista independente, é um prato cheio pra um monte de gente que ganha a vida vendendo sonhos. Acho que um dos maiores desafios foi mandar essa galera tomar naquele lugar, mesmo se me fechassem as portas, e passar a confiar mais no meu próprio taco — mas tudo é desafio — e todo dia é de aprendizado. 

E: Quais são as suas maiores influências? Você teve alguma inspiração que te fez seguir no ramo musical? 

GM: Eu curto de tudo. Diria que meu som tem um quê de Charlie Brown Jr, eu curto um rock groovado. Um quê de Cássia Eller por ser uma voz gritada da alma, um tanto de Rita Lee no seu jeito foda-se e um monte de outros sons que a gente adora (Foo Fighters, The Offspring, Paramore, Pitty). Eu não diria que sou uma pessoa de grandes ídolos. Gosto de estudar som, mas pra mim não foi, tipo, quero entrar na música pra ser a próxima sei lá quem… Sempre quis fazer som pra fazer do meu jeito. Acho que as minhas maiores inspirações para seguir na minha carreira são minha mãe, que é artista plástica e sempre admirei o processo dela de criação em constante evolução, e meu parceiro (na vida e no som) Tannus, que nunca me deixou desistir. 

E: Como você descreveria o seu processo criativo? Você tem algum ritual ou rotina específica quando está compondo suas músicas?

GM: Componho desde os meus sete anos de idade. Então, realmente, dá pra fazer quase de qualquer jeito. Hoje em dia costumo firmar o instrumental com o Tannus antes de começar a firmar a letra — às vezes tenho um mood, uma ideia inicial que ajuda a inspirar o arranjo, mas, às vezes, o oposto também acontece.

Estou sempre escrevendo, nem tudo que eu escrevo vai pra música logo de cara, mas acho importante a gente movimentar o músculo da criatividade e reparar no que acontece (no mundo, dentro da gente) e ir anotando.

Muita gente é do tipo que escreve de uma vez só a música inteira e, pra mim, não é esse o caso…  Tem coisas que saem mais prontas, mas meu processo sempre tem muita lapidação. Tento deixar as coisas ficarem um pouco na gaveta antes de finalizar e, muitas vezes, reescrevo várias partes, várias vezes. A ideia é que fique na sua cabeça e que eu fale o mais na cara possível. 

E: Como você vê o papel das mulheres na cena do rock atual? Você acha que ainda há muitos desafios a serem superados?

GM: Acho que a mulherada tá salvando o rock (risos). Vejo as minas cheias de atitude e vontade, fazendo sons que representam, e isso é legal demais. Desafios sempre tem, a indústria é bem fechada mas a gente tem que buscar enxergar a humanidade no outro — independente de gênero, tá ligado? 

E: Quais são seus planos para o futuro? Algum álbum novo ou turnê que você possa nos contar? 

GM: Álbum novo ainda não. Acabei de lançar o Fama de Chata em maio e sei que, na era da internet, o consumo é muito rápido, mas ainda pretendo divulgar mais esse trampo que está legal demais e que, apesar de já ter causado muito na net, boto fé que ainda conseguimos chegar em mais gente. Mas já estou escrevendo mais músicas (risos). Estamos sempre escrevendo mais música. 

Estou com algumas datas de show legais até o fim do ano e, quem sabe, não apareçam mais algumas coisas em breve. 

E: O que você gostaria de saber quando começou sua carreira e que poderia ajudar outras artistas no início da jornada delas? 

GM: Tomem cuidado. Às vezes a gente fica buscando um atalho, alguém pra abrir uma porta e, no final, não tem nada que alguém possa te dar. Vai ter que ser você a abrir suas portas e isso é maravilhoso, porque aí também não tem nada que alguém possa tirar de você! É tudo resultado do seu trabalho.

E: Que conselho você daria para artistas que estão começando agora no mundo do rock?

GM: O rock é meio música de pai, né? A gente está tentando mudar essa história, mas eu diria: faça o som que você quer fazer, sem necessariamente buscar a aprovação dentro do rock. Na real, independente de gênero musical, a galera vibra com o que você tem a dizer — tenha coragem de ir contra os especialistas e vai pra cima. O bagulho é sobre sua verdade, não sobre seguir o molde. Força, fé e foda-se.

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Texto revisado por Cristiane Amarante

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