Giovanna Rangel como Anya na montagem brasileira de Anastasia
Entrevista | Giovanna Rangel conta sobre temporada de Anastasia no Brasil

Entrevista | Giovanna Rangel conta sobre temporada de Anastasia no Brasil

Aos 26 anos, a atriz dividiu o processo de preparação e curiosidades dos bastidores da montagem brasileira de Anastasia

Do crepúsculo do Império Russo à euforia de Paris nos anos 20, a montagem brasileira de Anastasia é imperdível para quem ama musicais. Versão da Broadway do filme da Disney, a produção conta a história de Anya, que não se lembra de seu passado e viaja para Paris com o intuito de receber respostas. No caminho, ela cruza com Dmitry e Vlad, e inicia seu treinamento para ganhar a recompensa da Condessa Maria Feodorovna, que deseja encontrar Anastasia, sua neta perdida.

Com Christy Altomare, Derek Klena e John Bolton como o trio principal, o musical estreou na Broadway em 2017, e está em turnê pelos Estados Unidos no presente momento. Anastasia recebeu duas indicações ao Tony Awards: Melhor Atriz Coadjuvante em Musical para Mary Beth Pell, a imperatriz viúva, e Melhor Figurino de Musical para Linda Cho. Em 2022, a Time For Fun e a Caradiboi anunciaram a versão do espetáculo no Brasil. Anastasia estreou em novembro, no Teatro Renault, em São Paulo, e teve Giovanna Rangel, Rodrigo Garcia e Tiago Abravanel como protagonistas.

A peça, com letra e música de Lynn Ahrens e Stephen Flaherty e libreto de Terrence McNally, trouxe as músicas mais amadas do filme, como Journey to the Past (Viagem ao Passado, em português), indicada ao Oscar de 1998. Também é possível apreciar o cenário com palco giratório, telões de led e figurino do original da Broadway, que são um espetáculo à parte, na produção brasileira, além do acompanhamento de 29 pessoas da montagem norte-americana, como diretores, figurinistas, supervisores, coreógrafos e técnicos de luz.

Ainda que essa tenha sido sua primeira protagonista, a história de Giovanna Rangel com o teatro se desenrola desde criança. Sua trajetória é cheia de experiências gigantescas, como a participação na novela Malhação – Vidas Brasileiras (2018), e sua intenção é seguir realizando grandes sonhos. O Entretetizei conversou com a atriz e descobriu sobre seu processo de preparação para viver Anastasia, curiosidades muito interessantes dos bastidores com Rodrigo e Tiago, seus números favoritos do musical e muito mais. Confira:

Entretetizei: Anastasia é um dos musicais mais conhecidos do mundo e está sendo realmente um espetáculo, todas as pessoas que assistem terminam de coração cheio. Me conta como surgiu a oportunidade de interpretar a Anya, desde o início mesmo, como você soube, os seus primeiros passos…

Giovanna Rangel: Então, eu descobri as audições pelo Instagram, a gente segue um monte de página de musical e eles sempre anunciam audições. Eu não fazia ideia de que Anastasia estava vindo para o Brasil, aí soube das audições e, de primeira, não imaginei fazer pra Anastasia, mas o meu perfil só condizia com o dela. Então eu mandei dois materiais, especificamente para Anastasia e ensemble. Foi um período muito rápido de mandar audição, se eu não me engano foram três dias e logo depois já chamaram avisando que as audições seriam na segunda-feira, em São Paulo. Eu estava em cartaz no Rio de quinta-feira a domingo, mas pensei: “vamos ver como vai rolar, porque eu conseguiria na segunda, terça e quarta-feira, quando marcarem audição na quinta-feira, eu vejo o que faço”.

Aí, eu fui chamada e estudei o material da Anastasia que me mandaram, com as músicas In My Dreams, Journey to the Past e ceninhas da peça. Eu cheguei a fazer peça no domingo à noite, peguei um ônibus para São Paulo, cheguei na segunda-feira e fiz a audição da primeira fase. Eu estava mentalizando, não que eu ia passar, mas que eu queria passar na primeira fase, sabe? Já estou acostumada a fazer audição por muitos anos, mas às vezes ainda é frustrante quando não passo na primeira fase, então queria ir por degraus.

Aí eu fui chamada para o callback de dança, que foi na quarta-feira, e avisei para a produção que não poderia na quinta-feira porque estava em cartaz no Rio. Mas nessa específica semana não ia ter peça na sexta-feira, aí eu avisei que poderia, mas recebi a mensagem para o callback na quinta-feira. Expliquei a situação, eles responderam que iam conversar com os gringos e, na quinta-feira mesmo, falaram que eu poderia voltar na manhã do dia seguinte, então peguei um ônibus de madrugada.

Aí, voltei na sexta-feira, fiz a audição, e, para a minha surpresa, foi a última fase. Eu cheguei, encontrei poucas pessoas e perguntei se era a final, eles responderam que sim e eu pensei: “gente, eu estou na final para a Anastasia, deve estar errado, não é possível”. Então acabou a audição, na sexta-feira eu voltei pro Rio e sábado, no dia seguinte, já recebi a mensagem de que eu tinha passado.

E: Como uma pessoa que tem Anastasia como um dos musicais favoritos da vida, eu imagino como essa personagem deve ser um desafio de ser interpretada. Isso me faz ter bastante curiosidade sobre o seu processo de preparação para a personagem.

G: Quando mandei o material, eu nunca tinha assistido ao filme da Anastasia. Eu conhecia a princesa, mas não a história, aí assisti e, quando eu passei, vi também o musical. Eu não queria copiar, então não assisti ao musical muitas vezes porque, apesar do nosso espetáculo ser uma réplica, as marcações são as mesmas do original, luz, cenário, mas a atuação, a minha intenção foi colocar um tempero brasileiro, sabe? E dar um pouquinho de mim também, sem copiar a Christy Altomare, que interpretava a Anastasia na Broadway. Então acho que foi um processo conjunto de construção com a direção também, com a nossa diretora, Carline Brouwer, e foi muito natural.

O meu rosto é muito jovem, eu tenho 26 anos, mas as pessoas às vezes perguntam se eu tenho 16, e a Anastasia no musical tem uns 27, então eu não podia passar uma energia de criança, né? Aí, fui construindo uma voz mais grave que não foi pedida, mas me deu uma encorpada. Eu me sinto no palco um pouco mais velha, sabe? Um pouco mais mulher, mas também sem perder a parte moleque dela, porque ela cresceu na rua, então não tem muita finesse, ela é briguenta, anda balançando com a bota… eu acho que o figurino também me ajudou muito nessa construção de corpo porque o andar da bota me trouxe uma uma outra coisa, um andar diferente.

E: Uma coisa que gosta de fazer sempre que está prestes a entrar no palco?

G: É engraçado porque a maioria dos meus rituais é no intervalo para o início do segundo ato. No primeiro, eu fico no camarim, às vezes estou meio atrasada, então ainda estou sujando o rosto com a maquiagem. É meio corrido, então não faço nada específico. Mas, no segundo, eu tenho uma tradição com a Carol Costa, que faz a Lily. Quando ela realmente aparece, já que no primeiro ato ela entra em uma ceninha só, e no segundo é onde ela tem sua maior aparição, a gente se junta, se abraça, canta um trechinho da música dela e deseja merda.

Eu tenho outra com um dos stage managers, quando estou prestes a entrar em Paris, que é a abertura do segundo ato. A gente faz um giro com um estalinho, é uma coisa que desde o início a gente faz e é muito doido porque não tem significado. Então os meus rituais são no início do segundo ato, não são no início do primeiro, o que é meio esquisito. Eu também sempre peço proteção e mentalizo que vai dar tudo certo, além da rodinha, que é a tradição do teatro. O elenco inteiro dá as mãos e fala algumas palavras pra no final desejar merda, que significa dar boa sorte pra todo mundo.

E: Gigi, eu simplesmente me apaixonei pelo elenco brasileiro de Anastasia. Vocês realmente passaram por uma seleção incrível, o elenco inteiro mereceu receber esses papéis e é mágico assistir você, o Rodrigo e o Tiago em cena. Mas eu queria perguntar sobre o momento dos bastidores, onde rola bastante concentração, mas também muita descontração. Tem alguma curiosidade que você acha interessante dividir com a gente?

G: Acho que a parte dos bastidores é a minha favorita. A gente está há tanto tempo junto, fazendo a mesma peça, que acaba criando coisas e piadinhas internas que o público não vê. Algumas a gente mostrou no takeover do Instagram da peça, mas não dá pra mostrar tudo. Por exemplo, na cena do quarteto do balé, que está dançando lindamente, às vezes a gente levanta, canta, mas quando não estamos cantando, nossa… é uma farofa! No início, eu e o Rodrigo ficávamos super concentrados admirando o balé, mas hoje a gente conversa sobre qualquer coisa, qual é o cardápio do jantar de hoje, se tem frango, se o macarrão estava bom, menos do balé. Só que, como a gente está em cena, se você olhar da plateia, parece que estamos falando do balé, comentando sobre a avó que está do outro lado.

Também tem uma cena, antes de Journey to the Past, que é a música final do primeiro ato. Eu saio correndo para a coxia e o Rô fica em cena. Ele olha pra coxia como se estivesse olhando para mim e eu tento fazer de tudo pra ele rir, eu imito ele, faço de conta que estou cansada, chamo o Gleb, pego a arma e aponto para ele… E ele fica super concentrado, nem parece que está acontecendo alguma coisa, mas eu estou fazendo um monte de palhaçada. Então são coisinhas que a gente vai acrescentando e fazem a peça, o dia ser mais gostoso, sabe? Logicamente, a peça é muito gostosa de fazer, mas é tanto tempo que a gente fica junto que às vezes acaba criando essas besteiras.

A intimidade que a gente cria também, todo mundo se tornou muito amigo. Eu, por exemplo, vim para São Paulo sozinha. Eu morava com a minha mãe no Rio, e lá tem o meu namorado. Claro que agora tenho muitos amigos, mas, quando eu vim pra cá, estava sozinha, e aí, quando conheci o pessoal do elenco, a gente foi se aproximando e agora toda semana a gente sai, vamos pra algum lugar depois das sessões…

Isso ajuda muito no processo porque eu, Rô e Ti temos essa conexão porque nos conectamos muito na vida também. Não é aquela coisa de se encontrar na peça e pronto, nunca mais se vê. A gente sai, conversa, compartilha coisas da vida, então ficamos muito próximos, e isso passa para a cena. Acho que por isso muita gente sai comentando sobre a nossa química. E é tão bacana porque a gente tem essa química fora também, somos grandes amigos, esse elenco é maravilhoso.

E: Com o que você mais se reconhece pessoalmente na Anya?

G: Eu acho que a Anya é uma menina que corre atrás dos sonhos, literalmente, porque ela fala que sonhou que tinha que ir pra Paris, então ela corre atrás disso, e eu sou uma menina que sempre sonhou em estar aqui, nesse lugar, sempre foi assim. Eu digo para as pessoas que o meu pedido de aniversário, quando assoprava a vela, sempre foi estar nesse lugar, e poder realizar esse sonho é magnífico, incrível. Acho que as pessoas que veem de fora não imaginam, mas eu tenho uma batalha muito grande desde pequena fazendo teatro, correndo atrás, fazendo audição, teste, estudando, porque eu não nasci assim, né, a gente vai estudando e vai melhorando a cada dia, então eu acho que essa vontade, esse correr atrás do sonho, a gente tem muito parecido.

Eu acho muito bacana porque ela não está nem aí, ela conhece dois caras que nunca viu na vida e avisa que eles vão levar ela pra Paris, ela só vai. Nunca viu aqueles caras na vida, não foi criada pela família, está sozinha na rua, mas se ela precisa fingir que é alguém para ir pra Paris, então está bom, vamos ver no que vai dar. Tem a música do trem que é Ver No Que Vai Dar, e essa sou eu, se estou em cartaz no Rio e tem audição em São Paulo, vamos ver no que vai dar, vou fazer, se chegar na quinta e eu não puder, eu aviso. Imagina se eu tivesse deixado de fazer a audição porque tinha peça na quinta? Eu não estaria aqui! Então tudo funcionou, graças a Deus, tudo se encaixou certinho pra eu chegar até aqui.

E: Gigi, você contou que assistiu muitas vezes ao filme e também ao musical da Broadway durante a preparação para dar vida à protagonista. Qual é a diferença entre as duas produções mais marcantes para você?

G: Olha, eu acho que a maior diferença seria o vilão da história, que no filme é uma coisa mais mística e, na peça, mais real. Eles colocam um soldado, que é uma pessoa real, e não o Rasputin, que usa magia. Acho que, no musical, eu sinto a Anastasia mais madura. E tem essa diferença mesmo porque, no filme, ela sai do orfanato bem no início, com 18 anos, e no musical ela já tem 20 e muitos. Aí, no filme, eu sinto ela muito mais menina, e, no musical, um pouco mais madura. Eu acho que consegui juntar essas duas energias e encontrar um meio termo. Mas essa é uma grande diferença, de idade e maturidade.

E: Você com certeza deve sentir que Anastasia virou uma mini chave dentro do seu coração. Conta pra gente se, além de como atriz, esse trabalho também mudou você como pessoa, com um aprendizado, uma descoberta…

G: Com certeza, porque eu acho que, além de Anastasia, tem todo esse processo de mudança da Giovanna, que saiu do Rio e está morando sozinha em São Paulo. Então eu amadureci muito como pessoa, e fazer Anastasia também me despertou enxergar um lugar que nunca tinha estado. Eu nunca tinha feito uma grande protagonista. É muito louco porque, quando estou no teatro, sinto que as energias são muito fortes. Então, se eu trago uma energia para o projeto, isso afeta muita gente, todo mundo que está trabalhando ali comigo, sabe? Então eu procuro sempre estar muito tranquila, pra cima.

Sinto que tem uma diferença quando uma protagonista não tem uma energia muito legal e afeta o elenco, a produção, a equipe. Isso não foi uma coisa que percebi sozinha. Me contaram que a energia do teatro estava tão legal, mas que isso tinha muito a ver com a minha postura também, porque eu sou o nome da peça. Então, às vezes, você traz uma energia tão boa que afeta todo mundo e o trabalho fica mais leve e tranquilo.

Isso é uma responsabilidade muito grande para mim, porque imagina você ser responsável pela energia da peça? Não digo pela energia da peça, mas pelo convívio das pessoas, então isso é muito legal de se perceber. Acho que eu nunca tinha olhado por esse lado, ter noção de que a gente afeta outras pessoas, né. Isso é uma coisa que eu vou passar a olhar de outra forma. Essa grande mudança da Giovanna, de ter saído da casa da mãe e ir morar sozinha em São Paulo, sem ter muitas pessoas próximas. Isso me fez mudar e crescer um pouco mais.

E: Qual é o seu número favorito na peça?

G: Essa pergunta é muito difícil porque mudou um monte de vezes. Eu consigo listar alguns, não sei dizer a ordem. Mas o primeiro que eu amei assim que vi o musical, quando ainda não tinha nem feito, é Learn To Do It. Em português é Vai Virar Verdade, e é a cena em que estão os três, a Anya, o Dmitry e o Vlad. É como se fosse um aprendizado dela para se tornar ou fazer de conta que é a Anastasia. Eu vi essa música e pensei: “nossa, eu quero muito participar, saber as marcações”.

Ela é perfeita, só que cansa muito, então a gente termina a cena morrendo de cansaço, sabe? Então ela é uma das minhas favoritas, mas como cansa bastante, eu me pergunto se é a favorita mesmo. Porque tem a do trem, que eu também sou apaixonada por um todo. Pela projeção, pelo trem que gira, pela música que é uma delícia, pela cena… É muito lindo e muita gente sai comentando sobre essa cena porque o público, quando assiste, fica encantado.

Eu também sou apaixonada pelo balé, e é uma coisa pra você ver de fora. Dentro é lindo, mas quando você assiste, nossa, é maravilhoso! E, só pra fechar, In a Crowd of Thousands, que é o dueto da Anya e do Dmitry, que em português é Entre Tanta Gente. Acho que é um dos momentos mais importantes da peça. Quando eles contam toda uma história, como se viram pela primeira vez e estão descobrindo que realmente já se encontraram antes daquilo tudo. Eu acho de uma sensibilidade a música contar uma história e você conseguir visualizar tudo. Ele conta que tinha dez anos quando viu ela, e tinha um desfile, aí acho que o público consegue visualizar, sabe? Ele pequenininho, estendendo a mão, quase conseguindo falar com ela, então acho essa muito linda.

E: Conta um pouquinho pra gente sobre os seus maiores sonhos de trabalhos e desejos pro futuro.

G: É difícil essa pergunta porque eu sonho muito grande, então sonho que um dia vou chegar lá. Eu sonho em estar na Broadway, em fazer peça fora do país. Sei que não é uma coisa fácil, mas acho que a gente não tem limite para sonhar. A gente pode sonhar grande, e quem sabe um dia chegar lá. Eu sempre sonhei em estar aqui, nesse lugar onde estou, mas não imaginava que ia acontecer agora. Pra mim, isso poderia acontecer um dia, mas daqui a cinco anos.

Então eu acho que trabalhar fora é um grande sonho, fazer filmes, novelas. Eu já trabalhei em uma novela, em Malhação, mas queria continuar e estar nesse meio. Eu sempre me pergunto se prefiro teatro, TV, cinema… prefiro estar trabalhando, onde eu puder estar atuando, eu quero! Então acho que é isso, trabalhar fora, que é um grande sonho, e de repente chegar lá na Broadway. Aqui no Brasil, fazer filmes, séries, novelas, estar sempre trabalhando com o que eu amo e conseguindo manter a minha carreira, né. Acho que esse é o meu maior sonho: manter a carreira.

Você assistiu à montagem brasileira de Anastasia? Conta pra gente do Entretê por meio do Twitter, Insta e Face se também saiu de coração encantado com a Giovanna Rangel, e nos siga para receber todas as novidades sobre o universo do teatro musical.

 

*Crédito da foto de destaque: divulgação/Caio Gallucci

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