Entrevista I A voz literária de Clara Alves

Clara Alves revela os bastidores de suas obras, discute a representação LGBTQIAPN+ na literatura e compartilha suas expectativas para o futuro

Matéria por Lais Queiroz

Com uma paixão inabalável por livros e histórias de amor, Clara Alves nos leva aos bastidores de suas criações, revelando os desafios e as alegrias de ser escritora. Conhecida por suas obras que exploram temas LGBTQIAPN+ e romances, ela compartilha, em entrevista ao Entretê, um pouco de sua jornada literária e das inspirações que movem seu trabalho.

Ao longo desta conversa, Clara fala sobre o impacto de seu primeiro sucesso Conectadas (2019), a importância de retratar experiências que vão além da sexualidade e a profunda conexão que mantém com seus leitores. Além disso, ela nos dá um spoiler de seus projetos futuros. Confira!

Entretetizei: Quem é Clara Alves? Nos conte um pouco da sua trajetória na literatura. Como foi sua jornada como escritora e o que a inspirou a seguir nessa carreira?

Clara Alves: Clara Alves é uma garota (30 anos na cara e ainda se acha garota) apaixonada por livros. E romances clichês. E a junção dessas duas coisas foi, por si só, minha maior inspiração para seguir a carreira de escritora. Eu consumia todo tipo de narrativa e ficava encantada com a construção do enredo, com a criação dos mundos. Até que, um dia, pensei: “e se eu criar os meus próprios universos fictícios?” E aquela simples ideia me encheu de alegria. Foi aí que escrevi meu primeiro livro.

Levou mais alguns anos pra eu decidir publicar minhas histórias on-line. Mas quando fiz isso, aos 14 anos, foi quando senti que não havia outro caminho pra mim que não escrever. Continuei publicando de maneira independente até 2018, quando Conectadas ganhou o coração da Seguinte — e mudou tudo pra mim.

E: O livro Conectadas narra a história de Ayla e Raíssa, duas garotas que descobrem o amor pelas telas de jogos na internet. Como surgiu a ideia da parte dos jogos online? Como foi o processo de construção dos ambientes e das personagens?

C.A: Na época em que escrevi Conectadas, eu estava saindo de um relacionamento com um cara gamer, rs. Não jogava, nunca foi muito minha praia, mas eu amava acompanhar as histórias, ler os livros e assistir aos vídeos anunciando as novidades. E foi isso que me inspirou a escrever Conectadas nesse universo. Percebi que era algo que tinha tudo a ver com história, meio atemporal também, e funcionaria perfeitamente para a narrativa.

A história como um todo foi completamente inspirada em vivências da minha eu adolescente. As personagens eram extensões de mim, apesar de também serem únicas à sua maneira, e o ambiente trazia as lembranças de quando eu usava a internet para criar histórias, tanto escritas quanto pra fantasiar minha própria vida. A internet sempre me possibilitou viver o que eu queria viver, e senti que nesse lugar a Raíssa e a Ayla também poderiam descobrir quem elas eram. É uma história muito íntima e pessoal, então muito da construção vem de resgatar certas experiências próximas a mim.

E: Em Romance Real, tem algo que me chama a atenção, que são as histórias individuais de cada personagem. Cada um tem sua característica e personalidade muito bem definidas. Qual foi o maior desafio de escrita desse livro?

C.A: Acho que entender esses personagens foi justamente a parte mais difícil. Quando eles são muito complexos, é difícil decifrar os detalhes da história e como fazer tudo isso se unir num enredo só. A Dayana, pra mim, sempre foi a que me deu mais trabalho. Por muito tempo, achei que essa era sua história de amor com a Diana, mas foi quando entendi que o arco narrativo dela tinha mais a ver com a relação com o pai do que com o romance que consegui fechar o livro.

Foto: reprodução /Instagram@claraalvesg

E: Em 2023, você e outros autores escreveram Finalmente 15. Como foi o processo de elaborar e organizar as ideias para esse livro?

C.A: Finalmente 15 teve um processo um pouco diferente porque já tinha um tema definido: algo que envolvesse 15 anos. A minha inspiração veio de Sexta-feira Muito Louca, um filme que eu amava quando era mais nova, mas trazendo um pequeno enemies to lovers, que também é uma trope que adoro, mas fazia um tempo que não trabalhava com ela.

E: Por que você acredita que é importante trazer em seus livros assuntos que não se limitam apenas à sexualidade?

C.A: Porque a nossa sexualidade, apesar de ser algo importante sobre nós, não é algo que nos limita nem determina quem somos. Quando mostramos para o mundo que nossas vivências vão além disso, por quem nos atraímos, também mostramos que não somos tão diferentes. Assim como as histórias de romance hétero nos cativam por diversos motivos, os romances LGBTQIAPN+ também trazem sentimentos universais: amor, decepção, frustrações, inseguranças, sonhos, desejos. São coisas que todos sentimos e temos, independentemente de quem gostamos.

E: Como é a sua relação com seus leitores? Como é essa troca e o que eles compartilham com você?

C.A: Tento sempre estar por perto, conversando e trocando experiências e novidades. Temos um grupo no WhatsApp e o canal no Instagram, além de eu ser bem ativa no Twitter. Gosto de ouvir suas histórias, o que acharam dos meus livros, mas, principalmente, sentir que são meus amigos. Conversamos sobre tudo: indicações literárias, experiências amorosas e o que meus livros representaram para eles. Porque, no fim, são eles que me motivam todos os dias a continuar a escrever.

E: Se você pudesse chamar qualquer um dos seus personagens para tomar um café da tarde, quem você chamaria e por quê?

C.A: Queria muito sentar com a sereia Lila, do meu conto independente A profecia da sereia. Acho que seria divertidíssimo ouvir Lila falar sobre o mundo dos humanos e devorar os pãezinhos doces que tanto ama!

E: Alguma vez você já recebeu proposta da indústria audiovisual para adaptar algum livro seu? Se esse convite ainda não chegou, você gostaria de adaptar algum para filme ou série?

C.A: Pior que já. Infelizmente, não foi pra frente. Espero que, um dia, esse sonho se realize, mas confesso que depois da minha última decepção, prefiro não pensar muito nisso, hahaha.

E: Qual é o livro que você está lendo no momento? E por que escolheu ler ele?

Tô lendo Mooncakes, no momento. Minha eu leitora anda sofrendo muitos baques com a vida adulta, e confesso que os quadrinhos têm me ajudado a relaxar a mente nos últimos tempos. Esse era um que tava na minha lista há um tempo por envolver magia e bruxaria, temas que amo de paixão, e ser LGBTQIAP+, claro.

E: Tem algum livro ou autor que influenciou sua escrita?

C.A: A Meg Cabot foi uma das minhas grandes inspirações quando estava começando. Hoje em dia, admiro demais Casey McQuiston, Rachael Lippincott e Taylor Jenkins Reid. Espero, um dia, escrever tão bem quanto elus!

E: Você já participou da Bienal do Livro. Poderia compartilhar como foi essa experiência? Qual foi o destaque ou momento que te marcou durante o evento?

C.A: Participo de Bienais como escritora desde 2017 e cada uma sempre deixa um gostinho de quero mais. É uma das minhas partes favoritas de ser autora publicada: estar com os leitores, ouvir suas histórias, receber o amor que eles me dão. É gostoso demais! Na última Bienal do Rio, também tive a oportunidade de participar como curadora da programação oficial e foi uma experiência bem diferente. Tive menos espaço para estar com meus leitores, mas ganhei, em contrapartida, a chance de construir painéis legais para eles assistirem! Pude trabalhar numa programação mais diversa, com temas que acho relevantes de serem debatidos e sugerir formatos diferentes, como a Festa YA que tivemos, e uma mistura mais inovadora de autores num mesmo painel, como trazer internacionais para conversarem com autores brasileiros. Saber que a edição especial de 40 anos da Bienal teve um dedinho meu é de uma honra gigante.

E: Para quem tem interesse em ler outros autores LGBTQIAPN+, quais são suas indicações?

C.A: Tem muitos autores que amo e acompanho, mas acho que os internacionais já têm bastante visibilidade, né? Então vou fazer um jabázinho dos meus amigos maravilhosos: Vinícius Grossos, Juan Jullian, Lola Salgado, Maria Freitas, Ana Rosa, Paula Prata, Thati Machado, Deko Lipe. Todos escrevendo histórias LGBTQIAPN+ diversas e incríveis.

E: Vamos falar sobre o futuro. Teremos algum lançamento ou novidade esse ano? Pode nos adiantar alguma coisa?

C.A: Uma edição comemorativa de Conectadas em capa dura tá vindo aí! Com um capítulo extra pra matar a saudade e uma capa nova lindíssima, que eu tô super animada pra ver em mãos! Além disso, também tô preparando o último conto da série da Sereia, que deve sair em breve.

Imagem: reprodução /Instagram@claraalvesg

E: Poderia deixar uma mensagem para aqueles que acompanham o Entretetizei e ainda não conhecem seu trabalho?

C.A: Oi, pessoal! Queria só dizer pra vocês: tenham sempre orgulho de quem são! Leiam histórias com orgulho, vivam seus amores com orgulho. Essa é a nossa maior força. É isso que tento sempre mostrar nos meus livros. Se as minhas respostas deixaram vocês interessados em conhecer mais do meu trabalho, conseguem encontrar todas as informações reunidas no meu site: https://www.claraalves.com/

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Texto revisado por Cristiane Amarante

 

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