Escritora compartilhou detalhes sobre os bastidores de seu trabalho
Por Beatriz Neves e Laís Queiroz
Uma personalidade plural. Bettina Winkler é autora brasileira, cineasta e tradutora. Sua jornada começa ainda na infância, por volta dos 9 anos de idade. Desde então Bettina, publicou livros de forma independente e em grandes editoras. A autora aborda em suas obras a fantasia, o realismo mágico e o suspense, além de contos.
Ao Entretetizei, Bettina Winkler compartilhou vivências sobre suas trajetórias profissionais.
Entretetizei: Quem é a Bettina Winkler? Nos conte um pouco da sua trajetória na literatura: como foi sua jornada como escritora e o que a inspirou a seguir essa carreira?
Bettina Winkler: Eu sempre gostei de inventar histórias desde criança. Minha mãe sempre conta que aos 4 anos, inventei uma história escrita pra um livro que era só de imagens e eu lembro que com uns 8 ou 9 anos escrevi um livro chamado Mariana que era um plágio inconsciente de Pollyanna, meu livro favorito da infância.
Mas minha jornada oficial como escritora começou em 2012, quando minha amiga Nick me convidou a escrever um livro de fantasia urbana com ela, e então em 2015 lançamos Grim Reaper – Jornada da Morte primeiro de uma trilogia, por uma editora pequena, que nem existe mais.
E: Você tem um livro ou autor que influenciou a sua escrita?
BW: Cassandra Clare e Maggie Stiefvater são grandes inspirações na minha escrita, As Crônicas dos Caçadores das Sombras me ensinou muito sobre a criação de mundo e a lidar com muitos personagens num mesmo universo. Já os Garotos Corvos, meu livro favorito, me influencia no estilo de escrita da Maggie que é muito único.
Porém no quesito suspense, a Gillian Flynn é uma grande inspiração.E na literatura nacional Juliana Daglio, que eu já leio há anos, foi uma grande influência.
E: Seu novo livro de suspense se passa na Bahia. Como o cenário e a cultura local influenciaram a trama e os personagens da história?
BW: A ambientação da cidade de Estrada dos Refúgios foi inspirada numa mistura de algumas cidades do interior que eu conheço, mas com muitos toques também de Salvador, onde nasci e cresci. Com isso, trouxe para a história alguns dos costumes baianos, assim como as comidas e, principalmente, as gírias e o modo de falar.
E: Além de escritora, você é roteirista, tradutora e preparadora de textos. Como essas diferentes facetas da escrita contribuem para o seu processo criativo como autora de ficção?
BW: Ah, a gente aprende coisas novas onde menos esperamos. Como roteirista exploro bastante a criatividade, muitas vezes desenvolvendo ideias que vêm de outras pessoas. Com tradução e preparação de texto, literalmente lido com o texto de outras pessoas, nem sempre ficcionais, mas que estão sempre trazendo informações que talvez eu não teria acesso de outra forma.
E: Você já publicou tanto com editoras estabelecidas quanto de forma independente. Quais são as principais diferenças e desafios que você enfrenta como autora em ambos os cenários?
BW: Ser autor no Brasil não é fácil. No cenário independente, é preciso arcar com muitas responsabilidades para que o livro de fato se torne concreto, desde achar um revisor de texto até levar cada livro para envio por correio. Tudo isso requer investimento não só financeiro, mas também de tempo.
Com uma editora, a coisa funciona com uma rede de apoio e, quando feito do jeito certo, com uma equipe de profissionais capacitados para prestar serviços relacionados à publicação. Muito se engana quem acha que publicar com uma editora isenta o autor de fazer marketing para o livro. Em ambos cenários, estar presente, principalmente online, é fundamental para que sua obra alcance mais pessoas e potenciais leitores. É um desafio constante equilibrar a escrita com a criação de conteúdo.
E: Você já participou de coletâneas como “Crônicas Soteropolitanas”. Como a cidade de Salvador e sua experiência na Bahia moldaram sua escrita e sua visão literária?
BW: Eu acho engraçado como demorou anos para eu perceber o quanto ser soteropolitana influencia a minha escrita, antes lutava contra por causa de todo conteúdo estrangeiro que consumimos, e por tempos queremos replicar, assim como a síndrome de vira-lata que precisamos lutar muito pra desapegar.
Acredito muito em mostrar na minha escrita que as histórias nordestinas podem ir além dos estereótipos que foram criados sobre a gente, então na descrição de personagem, diálogos, construção de mundo mesmo, tudo tem essa influência. No meu conto em Crônicas Soteropolitanas mesmo me inspirei na minha própria experiência de quando ficava no estacionamento do shopping com meus amigos
E: Você participou da Bienal do Livro no Rio de Janeiro. Poderia compartilhar como foi essa experiência e qual foi o destaque ou momento mais memorável que você viveu durante o evento?
BW: Foi surreal. Às vezes ainda não consigo acreditar que aconteceu. Posso citar dois momentos muito memoráveis. Eu tive duas publicações na bienal esse ano, a primeira foi Às Margens do Tempo da Harlequin, e na nossa sessão de autógrafos apareceram autoras como Carol Chiovatto, Giu Domingues, Iris Figueiredo, Aione Simões e Cláudia Lemes.
Eu não podia acreditar que aquelas presenças super ilustres estavam lá pra tirar foto com a gente e conseguir nossos autógrafos. Foi maravilhoso. E outro momento eu até captei em vídeo foi quando vi Estrada dos Refúgios pela primeira vez no stand da Qualis, não consegui segurar a emoção.
E: As suas primeiras publicações como escritora foram contos, como, por exemplo, Lendas Urbanas e Imortalidade. O que te motiva/encanta escrever neste gênero?
BW: Os contos são formatos de texto muito poderosos e cada vez mais tenho aprendido e gostado deles. Estou fazendo a Mentoria de Regionalismo Fantástico, ministrada pela finalista do prêmio Kindle, Jadna Alana, e lá estamos aprendendo a passar mensagens cada vez mais em formatos menores, é um aprendizado e tanto. Então acho que o que me encanta nesse gênero é essa potencialidade de falar muita coisa em poucas palavras.
E: Estradas dos Refúgios é seu último livro de suspense publicado. O que o leitor pode esperar dessa leitura?
BW: Eu acredito que em Estrada dos Refúgios os leitores vão pegar aqueles quadros de investigações pra criar muitas teorias. Acho que vai instigar as pessoas a desconfiar de todo mundo e se surpreender com o rumo que as coisas tomam. Além de ter momentos engraçados e amorosos, apesar do gênero. Muita gente vai passar raiva também kkk.
E: No seu livro Às margens do tempo, são seis histórias que retratam várias gerações de uma família. Como foi o processo de escrita deste livro? Afinal, foram seis histórias em uma.
BW: As autoras e eu brincamos muito que o que define o processo de escrita desse livro é a palavra magia porque foi tudo muito orgânico, nós seis criamos uma conexão muito especial e por causa disso as narrativas foram se encaixando de uma forma que destacava essa nossa ligação. Foram coisas que nunca falamos em voz alta e que quando lemos os contos umas das outras estava lá, elementos como a borboleta e o rio, ao ponto até de que lado da casa estaria a árvore. Foi transcendental.
E: Além de escritora e tradutora, você também é muito ligada ao cinema e ao audiovisual. Dos trabalhos que já realizou nesta área, qual foi o mais desafiador?
BW: Trabalhar com cinema é sempre um desafio porque é um constante trabalho em grupo. Pra mim é sempre difícil, por exemplo, escrever uma ideia que não é minha e me adaptar à expectativa do outro. Dito isso, não sei se consigo citar apenas um momento desafiador, porque todos eles têm sido, tanto na faculdade adaptando o que quero escrever para os moldes acadêmicos quanto no trabalho diário no qual o meu texto precisa se adaptar ao que o cliente deseja. É, eu sei, nada glamuroso kkk
E: Qual foi o momento mais gratificante de sua carreira como escritora?
BW: Foram tantos, mas acho que até então, foi ter sido convidada a me tornar agenciada pela Increasy. Era um sonho que tinha há muito tempo e que eu sabia que mudaria minha carreira pra sempre. E a partir disso que outras coisas maravilhosas estão acontecendo como estar com dois lançamentos por editoras tradicionais na Bienal do Rio.
E: Quais são seus planos e projetos futuros na escrita e no audiovisual?
BW: No audiovisual, sinceramente, eu só quero me formar. Estou em processo de TCC, mas também há alguns projetos em andamento para inscrições em editais, então pode acontecer de novidades virem aí. Na escrita, são muitas ideias borbulhando por aqui, então quero muito ter uma nova rotina pra escrever mais obras entre a fantasia, suspense e o realismo mágico.
E: Poderia deixar uma mensagem para aqueles que acompanham o Entretetizei e ainda não conhecem o seu trabalho?
BW: Oi, pessoal do Entretetizei. Convido vocês a conhecerem meu trabalho e me acompanharem nas redes se você tem interesse em saber mais sobre os bastidores da vida de uma autora baiana que escreve fantasia, suspense e realismo mágico, sempre com indicações de livros e dicas de quem já passou por muitas fases na carreira desde golpe de editora a publicação independente e agora, tradicional. Além disso, mostro um pouco do meu trabalho como tradutora, roteirista e preparadora de textos. Sempre mostrando do glamour ao perrengue.
Nos meus livros você vai encontrar personagens cativantes, cada vez mais representatividade, e claro, vai passar raiva e sofrer, coisas que particularmente adoro numa leitura. Então, se você se identificou, me acompanhe em @bettwinkler no Instagram e não deixe de conferir meus lançamentos de 2023 Estrada dos Refúgios e Às Margens do Tempo.
Você já conhecia o trabalho da Bettina Winkler? Conta pra gente através das redes sociais do Entretetizei – Insta, Face e Twitter – e aproveite também para nos seguir e ficar por dentro de tudo que acontece no mundo do entretenimento e dos livros.
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