Foto: divulgação/Lílian Menezes/Cecilia Bueno

Entrevista | Lílian Menezes fala sobre seus 30 anos de carreira

Seja no teatro interpretando Elis Regina, ou como jurada do Canta Comigo, Lílian coleciona projetos e experiências profissionais

 

Comemorando 30 anos de uma carreira marcada por grandes sucessos, Lílian Menezes está com diversos novos projetos. A atriz e cantora retorna aos palcos com o aclamado espetáculo Elis, A Musical, sob a direção de Dennis Carvalho. Nesta montagem, que passa por cidades do Nordeste como Fortaleza, São Luiz e Recife, além do Rio de Janeiro e São Paulo, Lílian dividirá o papel principal com Laila Garin, revivendo a trajetória de Elis Regina.

Mas as novidades para Lílian não param por aí. Em 2025, ela se lança também como produtora cultural, trazendo o teatro-canção É, Foi, Será. A peça, ambientada durante a pandemia, explora a empatia e o poder transformador da amizade diante da dor, com direção de Pedro Sá Moraes e dramaturgia de Arthur Chermont. Além disso, Lílian retorna com o show Lílian Menezes canta Elis, em homenagem aos 80 anos do ícone da música brasileira.

Atualmente, a artista também integra o júri do programa Canta Comigo na Record e se destaca por sua contribuição no universo da mágica, sendo uma das primeiras mulheres a protagonizar performances de ilusionismo no Brasil.

Ao Entretê, Lílian fala sobre sua carreira e objetivos, além de contar detalhes de seus novos projetos. Confira: 

Entretetizei: Dar vida ao ícone da música nacional não é fácil e você faz isso com maestria. Quais são as maiores dificuldades em interpretar Elis Regina no teatro? E como se sente podendo homenageá-la há tantos anos?

Lílian Menezes: Elis é uma figura muito marcante na nossa história e interpretá-la é um dos maiores desafios que já vivi, e ainda vivo, em minha carreira. São tantas camadas a se desvendar, existe um universo gigante, vasto e rico dentro dessa mulher de 1,53. Nada em Elis é sutil ou sem sentido. Até o silêncio dela é expressivo e um simples olhar é recheado de história e contextos. 

Quanto mais estudo, mais descubro que não sei nada sobre ela, e olha que me dedico a isso há mais de dez anos. Minha maior preocupação é não torná-la uma caricatura do que vemos em vídeos, já que existe uma infinidade de material gravado, tanto de suas apresentações e performances musicais, quanto de entrevistas e registros de bastidores. 

São muitas as referências e é fácil cair na imitação, por isso, a minha busca é sempre pelo que está por trás da artista, a menina que saiu de Porto Alegre e que sustentava sua família desde os 12 anos de idade, a garota que chega ao Rio aos 19 anos cheia de sonhos, a mulher firme, mas cheia de inseguranças, que precisou se impor para sobressair num mercado repleto de homens, numa sociedade absolutamente machista, a cidadã engajada com o coletivo que brigava corajosamente pelos seus num dos períodos mais duros da história de nosso país, a mãe presente, atenta e dedicada aos filhos, e a partir desse ser humano real e palpável, chegar à entidade Elis, ao ícone que conhecemos e que tem uma relevância magistral tanto para nossa música quanto para nossa história. É uma honra poder dar vida a Elis e aprender com ela.

Foto: divulgação/Lílian Menezes/Cecilia Bueno

E: Você já foi participante do The Voice Brasil, e agora volta aos programas musicais como jurada do Canta Comigo, como é para você poder enxergar esse tipo de projeto dos dois pontos de vista? 

LM: São experiências muito distintas, mas que me ensinaram muito. Quando estive no The Voice, já tinha uma carreira estabelecida, não tinha grandes expectativas com relação ao programa, já conhecia bastante sobre como era ser vista na televisão e que tipo de retorno poderia ter, então, minha decisão em participar foi muito mais para aproveitar o momento, a vitrine para expor meu lado cantora e ter mais esse carimbo no meu passaporte artístico, do que com o objetivo de competir ou vencer. No entanto, me deparei com o sonho de muitas pessoas, que verdadeiramente viam naquele espaço a possibilidade de mudar de vida, de alavancar suas carreiras, de ganharem alguma visibilidade e, quem sabe, se tornarem famosos, e isso trouxe um renovo para o meu olhar de artista

Viver da arte no Brasil é um grande desafio e às vezes nos distanciamos dos nossos sonhos, nos endurecemos diante da luta diária que temos que travar para sobreviver não só financeiramente, mas como profissionais. E conviver com o sonho daqueles artistas foi muito enriquecedor e transformador. Reaqueceu uma chama que não estava apagada, mas estava no modo econômico, posso dizer assim. 

Já a experiência de ser jurada do Canta Comigo e estar do outro lado foi muito especial! Dessa vez, era eu quem tinha o poder de transformar a vida desses sonhadores, e dei tudo de mim para que isso acontecesse. Vivenciar junto com cada um dos participantes, adultos, crianças e jovens, aquele momento em que entregam com tanta humildade e amor seus sonhos nas mãos de um paredão de 100 pessoas é de uma responsabilidade ímpar. 

Não só cantei com muitos deles, como chorei, sorri, urrei, aplaudi, dancei, vibrei com cada um dos participantes. Nem sempre a gente se levanta pra cantar junto, há que se ter critérios, pois, enfim, é uma competição, mas, entrar em sintonia com cada um deles e fazer parte desse momento único em suas vidas é mágico. E devo dizer que as crianças e jovens me deixaram muito feliz e esperançosa como artista! Quanto talento e profissionalismo vimos ali, e com um repertório rico, recheado de músicas brasileiras, e que me dão a certeza de que estamos no caminho certo! Vale a pena ser artista! Vale a pena lutar e abrir caminhos para essa nova safra!

E: Ainda sobre Elis, A Musical, quais seus momentos favoritos do espetáculo? E como está sendo o retorno do público durante essa nova turnê da peça?

LM: Cada passagem da vida de Elis é tão cheia de nuances e carregada da nossa história que fica difícil escolher. Tem momentos bem descontraídos que adoro, como o Fino da Bossa, em que Jair e Elis cantam o pout-pourri de samba, a cena do bar em que ela recebe a música Madalena e que é uma grande diversão, o dueto com Tom Jobim cantando Águas de Março. São cenas leves em que me identifico muito com a personagem e onde me divirto muito.

Mas as cenas que me tomam mesmo são as que têm uma carga dramática mais intensa, como as cenas de separação, especialmente a separação com César, em que Claudio Lins e eu nos deixamos levar completamente pelas personagens e pela relação e, a cada dia, a cena tem uma intensidade diferente. 

Às vezes, saio tão emocionada que é difícil me controlar na coxia enquanto me preparo para a próxima cena, que é, de fato, a minha preferida: a cena da entrevista, que é onde posso explorar mais minuciosamente o raciocínio de Elis, pois é somente ela sentada numa cadeira sob um foco de luz e a imensidão que habita naquela mente fervilhante, e que vem seguida da interpretação de Aos Nossos Filhos, essa música que atravessa meu ser como nenhuma outra no espetáculo. 

Sou mãe e tenho que usar todo o meu profissionalismo e técnica pra não chorar do começo ao fim da canção, ou quando foge ao controle, entregar a música sem deixar falhar ou desafinar a voz em meio às lágrimas. Enfim, Elis também cantava chorando mas entregava tudo com maestria. E o retorno do público tem sido emocionante a cada cidade que passamos. A interação com o espetáculo tem crescido, tanto nas cenas dramatizadas quanto nas musicais. O entendimento sobre a nossa história, que serve como pano de fundo da trajetória de Elis, o envolvimento com as diferentes fases da vida dela, a participação nas músicas é uma coisa de arrepiar.

Em especial as cenas de Como Nossos Pais e O Bêbado e a Equilibrista, em que Elis encontra Henfil, essas são as cerejas do bolo, com o público fazendo um coro lindo do início ao fim da música, nos transportando para um universo paralelo que só a arte pode proporcionar. Costumo dizer que eles são o espetáculo que eu assisto enquanto estou em cena. É de emocionar!

E: Um de seus novos projetos é o espetáculo É, Foi, Será, que trata uma época difícil para todos, a pandemia. Como surgiu a ideia de retratar esse momento no teatro, e o que podemos esperar da peça?

LM: O espetáculo fala sobre a relação de dois desconhecidos, uma mãe que perdeu seu único filho e um jovem que perdeu seu marido, para quem ela decide alugar um quarto durante a pandemia para poder complementar sua renda. E dessa convivência, de certa forma, imposta por uma tragédia, uma linda história de afeto nasce e se constrói, revelando o que verdadeiramente fez a diferença diante do terror e da desgovernança que vivenciamos nesse período, que foi a empatia, a solidariedade, o fazer o bem sem olhar a quem.

A humanidade que nos habita e que aflora em nós durante esse período tão terrível nos salvou de uma catástrofe ainda maior, e acredito ser essa a grande mensagem por trás desse espetáculo, e que é de suma importância ser retratada. Esse projeto tem um significado muito grande para mim, pois além de ser o primeiro espetáculo totalmente produzido pela Mistura de Artes, produtora da qual sou sócia-fundadora, e que já atua no mercado artístico e de entretenimento há dez anos, reúne parceiros que me acompanham ao longo da minha carreira e da minha vida, como é o caso de Jonathan Mendonça, meu filho, diretor, produtor e roteirista, com quem já tenho uma gama de trabalhos premiados nacional e internacionalmente no audiovisual e que, agora, soma forças nessa produção teatral.

Arthur Chermont, outro parceiro de longa data, que é a mente por trás do roteiro e argumento e que escreveu a personagem especialmente para mim; Pedro Sá Moraes, um grande artista, diretor e pesquisador das artes cênicas, que assinará a direção e composições do espetáculo, trazendo sua metodologia de teatro-canção e integração corpo-voz para o espetáculo. Acreditamos muito na força desse projeto e esperamos trazer, além de reflexões importantes, muita beleza e emoção para o público que nos der o prazer de sua atenção.

E: Chegando em seus 30 anos de carreira, existe algum projeto que ainda sonha realizar ou pretende tirar do papel em breve?

LM: Para 2025, alguns projetos já estão em andamento. Além do espetáculo É, Foi, Será, retornarei com meu show Lílian Menezes canta Elis, para comemorar os 80 anos que Elis completaria no ano que vem, além de projetos já engatilhados no audiovisual e no teatro, não só como artista, mas como diretora e produtora

E para além do próximo ano, há muitas coisas que desejo realizar, muita gente com quem almejo trabalhar, muitas ideias na cabeça, algumas na gaveta, outras sendo projetadas, e, o mais importante para mim e o que dá sentido a tudo o que faço, estudar, sempre, e estar minimamente preparada para o que meu ofício e arte me reservam. Estou sempre aberta a convites e propostas.

Como disse Fernando Pessoa “Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”

 

O que você achou da entrevista com a Lílian Menezes? Conta pra gente nas redes sociais do Entretê — Facebook, Instagram e X — e nos siga para mais novidades sobre o mundo do entretenimento.

 

Leia também: Entrevista | Amanda Linhares fala sobre sua participação em De Volta Aos 15

 

Texto revisado por Alexia Friedmann

plugins premium WordPress

Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Acesse nossa política de privacidade atualizada e nossos termos de uso e qualquer dúvida fique à vontade para nos perguntar!