Entrevista | Lucy Alves fala de autenticidade e autoconfiança

Cantora, que lançou o primeiro single do projeto Avisa no último dia 6, lançará novas músicas do próximo álbum inspirado no Falamansa toda quinta-feira

Lucy Alves, ex-participante do The Voice Brasil, cedeu uma entrevista ao Entretetizei para divulgar seu mais novo projeto: um álbum, composto apenas por releituras das músicas do Falamansa  e uma faixa inédita, que será lançado em junho deste ano. 

O primeiro single foi divulgado na quinta-feira (6) e leva o mesmo nome do álbum, Avisa, e o segundo, Gotas de Amor/Oh Chuva, foi lançado hoje (13).

O novo projeto dará continuidade ao legado da cantora, musicista e atriz paraibana, que tem contribuído para a conexão do povo brasileiro de todas as regiões com a cultura nordestina

Em suas músicas, Lucy traz elementos do baião e do forró, tendo, na maioria das vezes, um instrumento em suas mãos. Sua mais fiel companheira é a sanfona, a qual impressionou os jurados em sua audição às cegas no The Voice em 2013.

Diante de mais um lançamento que traz suas raízes, a atriz conversou com o Entretetizei sobre a autenticidade e autoconfiança do nordestino e do brasileiro em geral.

 

Entretetizei: Então, Lucy, primeiro eu queria te perguntar o que a gente pode esperar do que vem por aí, porque vem muita coisa, né? Você vai lançar os singles toda semana, até que vai chegar no álbum. Sobre o que os fãs já podem ir se animando?

 

Lucy Alves: Ah, é um projeto bem bacana, né? É um projeto brasileiro e sobretudo tem forró e música brasileira porque é um álbum com releituras do Falamansa, de quem eu sou fã e muita gente é fã também, porque os meninos fizeram uma história muito bonita em cima das tradições do forró… E, assim, a história de lançar semanalmente é um lance interessante porque também movimenta as redes, movimenta a nossa curiosidade e a nossa expectativa para cada música que vai chegando, né? As músicas são muito legais, foi um processo bacana de construção. Não foi fácil, porque tem muita música bonita, então para escolher não foi tão fácil assim, mas eu consegui escolher sete canções que me agradam mais e que eu gosto de cantar e uma delas é inédita. Eu acho que essa é muito especial, porque realmente configura a minha parceria com o grupo. Está bem bacana, é um álbum muito especial, eu acho que vocês vão gostar.

E: Poxa, super legal! E por que que você escolheu o Falamansa? Você disse que é o seu grupo favorito, mas por que exatamente? O que te fez pensar “Quero fazer um trabalho relendo as obras deles”?

L: É um dos meus grupos favoritos. Eu acho que a escolha foi principalmente pelas canções que eu gosto muito. Eu acho que o Falamansa foi sim responsável por difundir ainda mais o forró na região sudeste e a minha intenção era unir esses dois sotaques, porque eu sou nordestina e o grupo é do sudeste. É a união mesmo dos dois, em prol do forró, em prol da música brasileira. Então, eu achei tudo muito bonito além de gostar muito das canções do grupo, que eu acho que sim, trazem um outro contexto mais urbano, mas são canções que geralmente falam do amor, que trazem mensagens positivas. O Falamansa tem muito essa característica marcante de trazer mensagens positivas, então é um momento que pede isso, né? Então, juntando essa minha vontade de cantar as músicas deles, com o amor pelo forró, pela época também que está chegando, junina, é uma forma de a gente comemorar, sabe? A gente está morrendo de saudade dos palcos. Eu sou uma artista de palco, eles também, então tem muitas coisas em comum. Eu poderia ter escolhido vários outros grupos que cantam forró, nordestinos inclusive, mas eu acho que o barato é mostrar a união desses sotaques, sabe?

Foto: @andrehawk

E: E quais outros grupos você escolheria então se você não pudesse escolher o Falamansa?

 

L: Ah, eu amo o Trio Nordestino, que é clássico e que é muito responsável pela minha formação musical também…Hoje o forró abrange tantos sotaques e sonoridades musicais, assim como os Barões da Pisadinha, que eu também gosto. Eu gosto da Solange Almeida, a própria Elba [Ramalho] com quem eu já fiz coisa também, tem o Wesley [Safadão]… A gente tem muitos artistas interessantes, então gostaria de fazer um cruzamento musical com todos eles.

 

E: Isso que você estava falando sobre os integrantes do Falamansa serem do sudeste, essa mistura… A gente está observando um movimento muito bacana da música brasileira de misturar o pop e a música nordestina e brasileira e de tentar aproximar os dois, porque teve uma época em que a gente se afastou e a gente ficou muito naquela de músicas americanizadas, em inglês e de outros países. Eu queria saber qual é a sua visão desse movimento, o que você pensa dele; artistas como a Pabllo Vittar que conseguiu misturar o pop e a música brasileira. Queria saber o que você acha disso tudo.

 

L: Perfeita a sua colocação. Pronto: Pabllo é uma artista que eu acho que conseguiu fazer isso muito bem – que também é uma artista com quem eu quero fazer alguma coisa em breve – porque traz as referências dela do nordeste e conseguiu misturar com a batida pop. É o que muita gente vem fazendo, inclusive eu. Eu acho que é o momento que a gente está vivendo de mistura de influências de várias culturas. Mais do que nunca a gente é bombardeado por novidade toda hora. Então eu acho que é natural. Eu acho que quanto mais originalidade a gente conseguir trazer nessa mistura, na nossa bagagem com as batidas, a gente consegue se destacar. Mas eu acho muito massa, sabe? Hoje em dia é até difícil você colocar um artista numa caixa e dizer: “Ah, ele canta este gênero”. Os artistas estão cada vez mais plurais; são cantores, são artistas. Principalmente a gente, brasileiros, que tem forró, tem rock, tem a música do Pará, guitarrada; a gente tem várias referências. Eu acho que a gente é artista brasileiro. Eu tenho essa bagagem forte, mas é o que você falou; eu acho super natural e super legal a mistura, é saudável, sabe? Nós brasileiros temos tantas outras coisas para explorar, como a música da América Latina como um todo. A gente tem muita influência da música americana como você falou, mas a gente nem conhece a música dos nossos vizinhos. É uma coisa que eu venho pensando sobre nessa minha mistura, nesse meu movimento de agregar sons, mas eu acho muito massa, eu acho que só enriquece o som dos artistas.

Lucy Alves, Manu Gavassi e Pabllo Vittar em apresentação (Foto: Divulgação)

E: Sim… Felizmente também está havendo um movimento de trazer a música latina pro mundo pop, né? É tudo muito recente.

 

L: Exatamente. É recente ainda, mas a gente vê que está numa crescente. É um movimento muito natural, que a gente está vendo com mais frequência agora, mas que vem sendo feito.

 

E: Bom, a gente sabe que a música latina, como você disse, vem crescendo nas paradas, até nos Estados Unidos mesmo, mas eu queria saber qual é a sua opinião, como musicista, de como está sendo a recepção do público ao seu estilo de música que é bem singular, trazendo a cultura nordestina para o sudeste, por exemplo, que é dominado pela música pop e outros estilos musicais.

 

L: Ah, eu acho massa. Por exemplo, a Rosalía – que a gente fala que faz música latina, que é espanhola – é uma artista que conseguiu trazer toda a bagagem dela e misturar de uma forma muito autêntica e genuína. Então, eu acho muito bacana esse movimento dos outros sotaques, dos outros sons, terem visibilidade, né? Porque realmente a música americana dominou o mundo por muito tempo. É um grande mercado do entretenimento, isso a gente não questiona nunca, porque eles são muito bons no que fazem e têm uma qualidade extraordinária no audiovisual como um todo. Agora, é muito massa poder ver esses outros lugares chegando fortes, tendo grande identificação, porque hoje temos várias plataformas de streaming que proporcionam a chegada do material desses artistas em outros lugares do planeta. É isso, é o século XXI e é o futuro que já está no presente, né, vamos falar assim… A gente já está vivendo isso. Então eu acho que vai ser cada vez mais forte essas minorias – que na verdade são maiorias – tendo identificação e tendo essa janela para divulgar seu trabalho.

entrevista: lucy alves em divulgação do álbum Avisa
Foto: @andrehawk

E: Está tudo muito interconectado hoje, né? Com a internet a gente tem acesso a coisas que antigamente a gente não teria, sabe? A gente não teria esse contato com a cultura das outras regiões do Brasil, das outras regiões do mundo, né?

 

L: Total. E é muito louco. A gente fica louco, a gente acorda e já quer saber qual é a música que está tocando lá do outro lado do mundo, o que está fazendo sucesso, sabe? Eu acho que aumentou a pesquisa, a gente agora escuta muita música de todo lado. Eu fico imaginando um cara que só teve oportunidade de ouvir música na rádio, que morava lá no interior, para pesquisar, para criar, para escutar músicas de outras pessoas, tinha que viajar, tinha que sair em turnê. Hoje a gente tem acesso assim, acorda e numa clicada a gente já tem muita informação. Às vezes é muito difícil para o artista manter o seu. Você tem muitas influências externas e é muito bacana quando você consegue preservar o que você tem de autêntico, o que é só seu. Eu acho que isso é muito importante também: não se mirar tanto no trabalho dos outros, que é sempre bom pesquisar – eu gosto de pesquisar e escutar -, mas manter o que é só teu, tua característica, seja como cantor, compositor, instrumentista. A gente tem uma Lizzo da vida que toca flauta e hoje é uma grande representante da música pop e todas as causas sociais que ela traz também; então é um case único, sabe? Eu acho que é muito importante a gente preservar o que a gente tem de mais original enquanto artista; na verdade, esse que é o grande tesouro, eu acho que é o grande lance no meio de tanto artista diferente, é muito importante você descobrir o que é só seu.

Lucy Alves, quando mais nova, com sua sanfona (Foto: Divulgação)

E: Sim! E sobre essa questão da autenticidade, eu estava vendo os seus vídeos e suas apresentações e fiquei muito admirada com a sua autoconfiança e sua coragem de ser você mesma e trazer sua bagagem, de trazer algo novo para a música, independente do que esteja por aí. Além disso, o seu talento, porque você toca vários instrumentos, canta muito bem e a coragem que você tem que ter para chegar no palco do The Voice Brasil em que todo mundo está cantando aquelas músicas com aqueles beltings e aqueles melismas todos do pop e você chegar lá com uma sanfona e cantar uma música brasileira. Qual é a sua dica para chegar nesse ponto e conseguir essa coragem?

 

L: Obrigada pelos elogios! Eu acho que é o que a gente está conversando: a nossa maior riqueza é a nossa autenticidade, porque são coisas que só a gente pode ter. Cada indivíduo e cada artista é muito único. E, assim, quando eu cheguei no palco do The Voice Brasil eu não era uma pedra bruta, então, eu saí depois de viver minha vida inteira na Paraíba e ter aprendido tudo que aprendi enquanto musicista lá: eu estudei, frequentei universidade, me formei. Tanto as experiências viajando, tocando em palcos populares quanto na universidade, que também foi muito responsável pela minha educação musical. Então, eu cheguei lá no palco, com tudo que era meu, tudo que eu aprendi muito vivo, muito pulsante: eu sou isso. Eu acho, também, que a minha espontaneidade e o que eu carreguei foram responsáveis por me levar até a final. Eu me destaquei, vai ver se eu tivesse cantado alguma outra coisa parecida com outro participante, talvez eu não teria me destacado. O fato de ser nordestina, de tocar sanfona, de cantar música brasileira, que é a minha escola maior desde sempre, com certeza me abriu muitas portas, então é importante a gente muita vezes dar valor ao que é produzido aqui no país, que é muito rico e que lá fora as pessoas admiram muito a qualidade da música brasileira, da arte que a gente faz aqui, que é muito rica mesmo. Então, é difícil você ir para um programa, um reality assim. As pessoas me perguntam: “Você iria de novo?”. Não, não dá mais! (risos) O que tinha que acontecer aconteceu, foi ótimo, aprendi bastante, mas foi difícil. Eu tive que enfrentar um medo muito grande de palco, de um julgamento, eu acho que foi o maior julgamento que eu enfrentei, obviamente, em frente às câmeras e a tantos brasileiros.

Foto: VEJA

 

E: Mas você não transpareceu nem um pouco. (risos)

 

L: Mulher… Por dentro estava morrendo, tremendo, me acabando, mas a música também tem essa coisa: quando a gente entra no palco, é um lugar mágico. Eu me transformo. Geralmente sou uma pessoa muito tímida na vida, mas o palco é um lugar muito abençoado para mim. E ainda ter meus instrumentos ali, que são meus companheiros, então eu nunca estava muito sozinha. Tem a minha fiel escudeira, que é a minha sanfona, isso me ajudou bastante e foi muito especial. E aí, toda vez que você tem a oportunidade de ver um paraibano, uma pessoa da sua região, sendo vocês, defendendo as suas tradições, sua cultura, o seu sotaque, quem você é na TV, como a gente viu agora num outro reality, no BBB (Big Brother Brasil) com a nossa campeã Juliette, que é paraibana, é motivo de orgulho. Eu acho que ela [Juliette] virou esse fenômeno por ser quem ela é mesmo. Ela foi ela o tempo todo, mostrou essa força para se manter sã, sendo quem ela era, sem ter que se render a julgamentos alheios. Então, é muito importante, né? Acho que a gente tem essa força, muitas vezes a gente não sabe, mas todos nós temos. Então é aquela coisa: temos que acreditar na gente.

 

E: É, a gente nunca sabe o quanto é forte até estar lá naquela situação e precisar ser forte, né?

 

L: Exatamente! Nem eu sabia. Por mais que eu passe essa mulher destemida, forte, corajosa e que, sim, eu sou, eu sei que eu sou, isso aí eu reconheço, mas eu também tenho muito medo. Eu duvidei de mim muitas vezes: “Poxa, será que com essa sanfona, cantando o meu repertório eu vou conquistar meu espaço? Será que eles vão me respeitar?” Claro que isso passou pela minha cabeça. Tive os meus medos, sou frágil também como qualquer pessoa, tenho minhas dúvidas, mil dúvidas, mas é uma luta diária de preservar o que é meu. Por exemplo, atualmente, eu vivo no Rio de Janeiro e sou bombardeada constantemente com muitas coisas, mas é uma luta diária para manter o que é meu. Quando eu estou me sentindo perdida, tento me lembrar de onde vim. Por isso que eu estou sempre na Paraíba também, sempre bebendo da fonte, que, para mim, é muito importante.

Foto: Isabella Pinheiro/TV GLOBO

E: E você mencionou que lá fora admiram bastante a cultura brasileira. Realmente, a gente conseguiu chegar lá fora com a bossa nova e o samba e agora a Anitta abrindo várias portas para os brasileiros. Você acha que o forró e o baião também são gêneros que vão conseguir chegar lá fora ou você ainda não está sentindo esse movimento na indústria?

 

L: Eu acredito, porque eu sou uma pessoa da esperança e da fé, que acredita sempre. Eu acho que agora a gente inicia esse movimento. O forró não é, realmente, conhecido da forma que deveria ser lá fora e é um ritmo e uma tradição muito popular. Assim como o samba, o forró vem dessa raiz do povo, das reuniões, da coisa popular, então eu acredito que agora, com esses meios todos que a gente tem de comunicação, eu sinto isso no ar, que o forró está querendo ser descoberto cada vez mais. Até pelo próprio país, eu vejo o forró tocando por todo lado, novos artistas do forró aparecendo, ingressando em gravadoras e construindo suas carreiras, então eu acho que é um início disso. Eu vejo uns movimentos de forró mais pé de serra na Europa, nos Estados Unidos… São pequenos movimentos. Eu já tive oportunidade de participar de festivais assim. São pequenos movimentos, mas que agora eu vejo possibilidade de crescerem mesmo pela repercussão dos grupos que vêm dominando as plataformas. Então, por isso que eu sinto que a gente está nesse caminho de o pessoal lá fora enxergar e reconhecer esse ritmo como genuinamente brasileiro que é e chegar até um reconhecimento da bossa nova, que é o movimento mais conhecido lá fora ainda. Mas o forró vai chegar, viu? Ah, minha filha, vai sim, tenho certeza! (risos)

 

E: Talvez o que falte para a gente chegar lá seja o nosso orgulho de ser brasileiros, porque os gringos amam o Brasil. O que falta na gente é esse amor também pelo Brasil, porque a gente tem muito daquela “síndrome de vira-lata”, de ficar só consumindo conteúdo lá de fora e achar que o daqui é ruim ou menor por algum motivo.

 

L: Você falou uma coisa massa. Eu também acho, sabe? Acho que no momento que a gente acreditar mesmo – estamos falando toda hora de acreditar – o negócio vai, porque, de novo, usando a Juliette como exemplo que está muito preso aqui na memória: toda a equipe dela é paraibana. Então, você vê um trabalho fantástico que foi feito nas redes sociais de um time genuinamente paraibano que se uniu e que está batendo no peito dizendo “Cara, a gente é nordestino com orgulho e é isso”. Houve identificação. Então, eu acho que no momento que a gente acredita no nosso produto, que é tão bom quanto, que não deixa a desejar… A gente vê um monte de artistas que têm interesse em fazer colaboração com a gente, então falta essa crença na gente mesmo, porque somos muito capazes. A gente tem tudo na mão: o produto, os artistas, o mercado… E agora é acreditar.

 

E: Sim, e o povo brasileiro é um povo muito voltado para o lado da música, da arte, da dança, então a gente tem todo o potencial mesmo. Agora, mudando mais ou menos de assunto, mas ainda sobre a sua carreira e tudo o que você faz: você também é atriz, então eu queria saber o que você acha que trouxe do seu lado de atriz para o lado musical e vice-versa. Você acha que se não fosse uma das duas coisas, a outra seria diferente?

 

L: Hoje sim, com certeza! Vendo a minha trajetória eu vi o quanto eu aprendi das duas coisas. Houve uma troca muito intensa. Eu não era atriz, me descobri atriz, fui convidada e a música me ajudou muito na hora de decorar texto e de trazer uma entonação para a personagem, sabe? Na hora de interpretar mesmo o que eu estava falando – e foi a musicalidade das palavras que eu já fazia cantando. Também pude trazer uma força cênica e entendimento de movimentos, de controle de emoções que eu aprendi atuando, então teve essa troca intensa sim. Hoje eu já não me enxergo mais sem fazer os dois, embora a música tenha vindo primeiro e eu a amo. Eu amo música, eu amo cantar, eu amo tocar, mas eu gosto muito de atuar também. Eu acho que um complementa o outro. É a história de ser um artista, né? Eu acho que, hoje, os artistas, mesmo os cantantes, têm se entendido como artistas múltiplos e a gente vê cantores que estão no cinema, na dramaturgia. Enfim, eu gosto muito das duas artes.

 

E: É muito comum atualmente, né? A pessoa não fica mais só restrita a uma coisa só: ela também é dançarina, atriz, modelo.

 

L: É isso. Eu acho que lá fora essa coisa do artista ser multi já existia um pouco antes. Agora a gente começa a reconhecer cada vez mais; são poucos exemplos que a gente tem de cantores que levam as duas carreiras no Brasil. A gente não tem tantos exemplos. Eu acho que a gente está caminhando para ser artistas num sentido mais amplo, então está sendo mais comum ver um artista que canta, dança e atua.

 

E: Mas então: você gosta muito dos dois, mas se pudesse escolher um, qual seria? Essa pergunta é maldade, eu sei! (risos).

 

L: Por que vocês gostam de fazer essa pergunta? Eu não entendo! (risos)

 

E: A gente gosta de ver o circo pegar fogo!

 

L: Que isso, gente! Mas para quê? Olha, eu gosto dos dois. Eu ficaria com a música, porque eu acho que eu já consigo ser intérprete na música de outra forma, sabe? Eu sou cantora, compositora e tem essa coisa da intérprete. Então, acho que a atuação está presente também nos palcos e espetáculos. A música me encanta muito, ela é uma coisa louca.

Foto: Divulgação

E: Você teve toda uma história com a música, né? Desde a infância você a teve muito presente na sua vida, então faz sentido!

 

L: Faz sentido, né? É, desde muito criança eu comecei com os instrumentos, sou instrumentista antes de qualquer coisa, depois descobri a voz, vi a força dela, o quanto a gente consegue impactar cantando, porque tem palavra e palavra é um negócio que vai direto no entendimento da gente, do coração. As melodias também, mas a palavra tem uma força muito louca. Então é a música, botando aí na hierarquia.

E: E de todas essas experiências que você teve, qual você acha que te fez entrar nela sendo uma pessoa e sair sendo outra?

 

L: Eu acho que a primeira novela que eu fiz me mudou, artística e humanamente falando. Eu acho que foi um processo muito intenso e rico porque eu pude cantar e minha personagem tinha instrumento. Termina que todos os meus personagens têm um encontro com a música e isso para mim é incrível, mas a novela me mudou muito. Foi um ano de experiência que pareceu cinco anos, devido a tanta intensidade e tanta informação que a gente teve: encontros com outros artistas, levando minha cultura também. A minha primeira personagem é muito forte, falava de todas as minhas tradições e raízes, aí eu lembrei de todas as mulheres da minha família. Então, carrega uma bagagem bem intensa artisticamente e sentimentalmente também. Eu acho que amadureci muito.

Foto: Caiuá Franco/Globo

 

E: Lucy, foi muito interessante essa conversa toda! Então, eu queria encerrá-la te perguntando se você tem uma mensagem para o povo brasileiro para a gente conseguir se abraçar mais e abraçar nossa cultura, a nossa autenticidade.

 

L: Eu acho que sempre vale a pena acreditar nas pessoas e na bondade, seguir trabalhando e tendo fé. Acho que temos que acreditar muito na gente e nas pessoas, porque, ultimamente, nos distanciamos uns dos outros por preferir enxergar apenas um lado ruim, de que não vai dar certo. Mas eu acho que temos que ser positivos, ter esperança e acreditar na gente, porque vai dar certo. Eu acho que o que a gente planta, de alguma forma o universo vai dar um jeitinho de resolver isso, então, é acreditar na nossa força e potencial e na bondade das pessoas. Acho que a gente está tão distante pelo momento que estamos vivendo, pela pandemia, pela revolução tecnológica… Muita coisa do nosso mundo está na tecnologia, mas a gente está se distanciando e o material humano é muito importante, tudo o que vem da gente. Então, acho que temos que acreditar uns nos outros e, sobretudo, em nós mesmos. Recomendo alguns artistas nordestinos que inspiram e são influenciadores: tem Lina Cordeiro, que é mais que uma chef, mas uma mulher do Rio Grande do Norte que ensina muito sobre ser mulher e nordestina nesse contexto atual e ela sempre traz muita coisa para além da comida, afeto, ensinamentos. Ela traz muito desse novo nordeste que eu acho que é muito importante a gente conhecer agora mais do que nunca – tem muita gente redescobrindo o nordeste. Bráulio Bessa, que é um grande poeta cearense e que tem coisas lindas que falam não só sobre o Nordeste, mas eu acho que sobre ser gente nesse mundo, então ficam aí duas dicas para vocês.

 

E você, concorda com a Lucy? Como podemos ser mais autênticos? Quais artistas nordestinos, além dela, você nos indicaria? Deixe sua sugestão no Twitter, Insta e Face do Entretetizei.

 

Créditos da foto de destaque: @andrehawk

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