Em entrevista exclusiva ao Entretetizei, Maria Casadevall apresenta seus novos projetos e fala sobre carreira
Maria Casadevall é uma atriz brasileira de prestígio e começou sua carreira na TV em 2011, na TV Globo, no papel de Tininha na minissérie Lara com Z. Após isso, Maria entrou para o elenco da novela Amor À Vida, como a inteligente e atraente Patrícia, que, na trama, inicia um romance (muito shippado na época) com o personagem de Caio Castro.
Amor à Vida foi apenas o início de longa carreira de sucesso, que conta também com a novela I Love Paraisópolis, de 2017 e uma lista de séries, como Lili, a Ex, do GNT – atuando como protagonista –, Os Dias Eram Assim como Rimena, uma médica chilena, Ilha de Ferro no papel de Júlia, uma engenheira de petróleo que contracena ao lado de Cauã Reymond, e a indiscutível e exitosa série da Netflix Brasil, Coisa Mais Linda, que traz a história da Bossa Nova e da mulher nos anos 50, no papel de Malú.
De fato, Maria Casadevall traz consigo uma carreira e uma força que inspiram, principalmente, a mulher brasileira e, recentemente, vem se dedicando às suas lutas, como seu Instagram, dedicado a divulgar o trabalho de mulheres, e à novas estreias, como é o caso do filme Garota da Moto, da Amazon Prime com uma protagonista empoderada – Joana – que trabalha em prol da liberdade feminina e faz de tudo para sustentar seu filho como mãe solo.
+ Confira os detalhes de Garota da Moto, o novo filme de Maria Casadevall
Em entrevista exclusiva ao Entretetizei, Maria Casadevall nos contou sobre suas inspirações para interpretar sua personagem, que representa diversas mães brasileiras: “minhas inspirações foram, sobretudo, mulheres comuns do dia a dia, trabalhadoras, mães solos, autônomas, precarizadas, justamente porque vi que Joana poderia representar metaforicamente, através de sua luta marcial, a força pra luta “simbólica” diária que essas mulheres enfrentam todos os dias pra criar suas familias, colocar comida no prato e garantir dignidade de sobrevivência para suas comunidades”, disse.
Além disso, Maria também nos contou sobre como foi enfrentar a pandemia da Covid-19. Segundo ela, ver as consequências de estarmos passando por uma pandemia sob um governo sem interesse na saúde foi o maior desafio. “Um governo omisso, sem a menor condição nem interesse em relação à situação de extrema vulnerabilidade a que a maioria da população estava, e continua sendo, submetida”, completou.
Para finalizar, para quem é fã de Coisa Mais Linda e acompanha a carreira de Maria Casadevall, também é possível conferir algumas considerações sobre a série, que não chegou ao seu fim e seus projetos futuros – vem muito aí!
Quer saber mais? Leia a seguir a entrevista completa com a atriz Maria Casadevall:
Maria, gostaria de começar esta entrevista agradecendo por ser quem você é. Lá em 2013, assisti a uma novela – Amor À Vida – com uma personagem que me chamou a atenção e que foi (e é) uma referência para mim como mulher. Essa personagem se chamava Patrícia, interpretada por você. Como foi estrear numa novela do horário nobre?
Foi uma experiência desafiadora de muitos aprendizados e enorme responsabilidade, principalmente para uma jovem atriz como eu, que vinha do teatro paulistano e que, até aquele momento, nunca tinha experimentado tanta visibilidade.
E já que estamos falando dessa época… o que mudou, de lá para cá, em sua carreira e em sua vida?
Desde aquele momento tenho tido o privilégio de me manter financeiramente com os frutos do meu trabalho, investindo meu tempo em vivências de aprendizado, reciclando saberes sobre meu fazer como atriz e amadurecendo meu olhar sobre mim e o mundo. Hoje me reconheço como uma artista criadora, mulher, lésbica, feminista, antirracista, vegana e anti-capitalista disposta a construir com outres (através do corpo, imagem, voz ou escrita) novas narrativas decoloniais possíveis que tenham potencial de trans-forma-ação da realidade.
Ainda em 2013, após sua primeira novela na Globo, você, de cara, já foi eleita como Mulher do Ano pela revista GQ Brasil, mostrando como você já era gigante, mesmo que muitas pessoas ainda estivessem conhecendo quem era a Maria Casadevall. Os anos se passaram, você participou de outras novelas/produções, vimos você amadurecer e o carinho e identificação do público aumentou mais ainda. Do ponto de vista da Maria, como foi seu processo de amadurecimento ao longo dos anos?
Aos poucos fui amadurecendo a cada trabalho e, podendo fazer escolhas a partir deste lugar, tenho buscado construir uma carreira alinhada com valores éticos e cada vez mais consciente da responsabilidade artística, social e política que é ser reconhecida pelo meu trabalho e consequentemente trazer visibilidade para histórias, temas e discussões que muitas vezes estão invisibilizados pelos grandes meios de comunicação.
Falando um pouco sobre cinema e entretenimento: a pandemia da Covid-19 afetou drasticamente os artistas e profissionais do entretenimento, assim como o Cinema Nacional, que já vinha sofrendo com a falta de apoio por parte do Governo. Ao mesmo tempo, vimos o cinema se reinventar, com o crescimento dos streamings e o público assistindo às novas produções de casa. Como foi gravar e lançar um filme – Garota da Moto – durante a pandemia? E como foi, como artista, sobreviver a esse período de isolamento?
O filme Garota da Moto foi filmado poucas semanas antes do isolamento começar aqui no Brasil e o maior desafio deste período foi ver as consequências de estarmos passando por uma pandemia sob um governo omisso, sem a menor condição nem interesse, em relação a situação de extrema vulnerabilidade a que a maioria da população estava, e continua sendo, submetida.
Uma das coisas que me chamou a atenção e que me inspirou na pandemia, foi seu projeto no Instagram, de transformar sua conta pessoal em um grande espaço para falar e divulgar os trabalhos de várias mulheres. Pessoalmente, sendo responsável por um portal feminino, com mais de 40 mulheres, sei da luta que é trabalhar online e fazer o público entender a importância dos projetos em prol da liberdade feminina. Pode nos contar um pouco sobre como surgiu esse projeto e o que podemos esperar do “EspaçA Coletiva” para 2022?
A espaçA Coletiva nasceu, e ainda está nascendo, de uma reflexão antiga sobre como ocupar de forma responsável e representativa aquele espaço com alto potencial de visibilidade, assim, com a chegada da pandemia e a relevância ainda maior que receberam os espaços virtuais, me pareceu ainda mais absurda a ideia de ocupar aquele espaço sozinha. Naquele momento de isolamento, de maior vulnerabilidade sobretudo para mulheres artistas e/ou autônomas, a artista Larissa Nunes e eu, partindo de um ponto de reflexões em comum sobre essas questões, começamos a gestar a ideia de partilhar com outras mulheres este capital simbólico (a visibilidade) de um milhão e trezentos mil seguidores.
Fizemos os chamamentos e montamos juntas este grupo. Hoje somos 21 mulheres, na sua maioria mulheres não brancas, de diversas origens e realidades sociais/profissionais que se apropriam desta visibilidade, se identificando nas postagens e trazendo seus conteúdos de forma independente. A ideia ainda está germinando de forma orgânica, respeitando o tempo de cada uma e visionando (quem sabe) a consolidação de uma Coletiva que dê conta da diversidade de mulheridades, suas diferentes lutas, demandas e que possam, em algum momento, se organizar juntas num mesmo espaço com propósitos comuns.
Você ainda vê as redes sociais como um meio de propagação de boas ideias que podem mudar o futuro da nossa sociedade? Ainda vale “lutar” pelo espaço online?
Sem dúvida, acredito que ainda estamos engatinhando no uso dessas tecnologias tão recentemente desenvolvidas e que existem forças importantes, e capitalistas, que se apropriaram de forma avassaladora deste bem que deveria ser comum e servir à todes, mas sei que superaremos essa forma narcisista/individualista de se relacionar com as redes e digo isso porque já tem bastante gente maravilhosa fazendo isso de maneira muito eficiente, trazendo visibilidade para pautas urgentes, compartilhando saberes e disputando narrativas. Este é o caminho.
Voltando ao assunto Garota da Moto, o filme traz uma protagonista empoderada, que arrisca sua vida para salvar o filho. Joana é uma personagem da ficção, que sabe as dificuldades de ser uma mãe solo e que vive em prol da liberdade feminina, mas poderia ser uma mulher da vida real. Como foi a preparação para essa personagem e o que ela representa para você?
Sim, minhas inspirações foram, sobretudo, mulheres comuns do dia a dia, trabalhadoras, mães solos, autônomas, precarizadas, justamente porque vi que Joana poderia representar metaforicamente, através de sua luta marcial, a força pra luta “simbólica” diária que essas mulheres enfrentam todos os dias pra criar suas familias, colocar comida no prato e garantir dignidade de sobrevivência para suas comunidades. Para que isso fosse possível e crível, tivemos uma rotina prévia de aproximadamente dois meses de treinamentos, exercícios físicos e ensaio de coreografias com o treinador e preparador Renan Medeiros.
Sobre o tema “Luta Feminina”, diversas personagens que você interpretou são exemplos perfeitos da história da mulher brasileira, entre elas, a Malu, de Coisa Mais Linda, personagem – e série – que não podemos deixar de citar já que toda sua história conquistou o público e abriu espaço para novas discussões. Você pode compartilhar conosco um pouco da experiência de estar nessa produção?
Foi uma experiência profunda de encontros e aprendizados, estar em cena com mulheres que admiro muito, tanto humana quanto artisticamente, e ainda por cima abordando discussões tão importantes e urgentes para o mundo atual em que vivemos.
Em 2021, foi confirmado que Coisa Mais Linda foi cancelada, o que abalou muita gente Brasil afora, ainda mais porque era uma série que, do ponto de vista do público, tinha um grande potencial para se tornar, talvez, a maior série da Netflix Brasil. Para que o público possa matar um pouco a saudade dessa belíssima produção, que final veríamos para Malu e as demais personagens e o que você gostaria de ver no desfecho dessa história?
Difícil dizer qual seria o final que estava na cabeça das roteiristas e roteiristas mas o que eu, pessoalmente, gostaria é que essas mulheres estivessem ainda mais unidas, fortalecidas e por consequência aprofundando a consciência política, que entrassem em contato com a efervescência social e revolucionária daquele final dos anos 60, com as lutas dos movimentos negros, feministas, antirracistas, dos trabalhadores, pelos direitos humanos e que o o clube fosse um centro de arte e resistência com música, debates, encontros entre mulheres e até sessões de cinema.
Em 2022, veremos Maria Casadevall de volta às telas, em Ilha de Ferro 2. Pode nos contar um pouco sobre a série e o que podemos esperar da temporada 2?
A série acompanha a vida de Dante e Julia dentro da PLT137, com a minha personagem se tornando gerente de plataforma e tendo que mostrar que está totalmente apta a assumir, porém por ser uma mulher inserida neste contexto masculinizado, além de todos os desafios profissionais, é obrigada a lidar cotidianamente com o machismo instituído neste meio para garantir o espaço de atuação que lhe é de direito.
A segunda temporada da série Ilha de Ferro se aprofunda na vida pessoal de cada personagem, explorando mais suas vidas e relações fora da plataforma.
E o que podemos esperar de você, no próximo ano? Veremos Maria em outras produções?
Estarei na série Rio Connection, uma parceria entre a Globo e a Sony toda falada em inglês que conta a história real de três estrangeiros que chegaram no Brasil na década de 70 para implantar no país um esquema de tráfico de drogas internacional, mas a série ainda não tem previsão de estreia.
Para finalizar, como dito no início dessa entrevista, você é um dos grandes nomes e exemplos do feminismo no Brasil hoje em dia. Quando penso em luta feminina jovem, de cara, penso em Maria Casadevall. Sendo assim, qual recado você gostaria de deixar para as mulheres desse Brasil e a todes que vão ler esse bate-papo?
Mente firmada, corpo presente e espírito livre.
O que nós, mulheres, podemos fazer para garantir um futuro melhor para nós e para as futuras gerações?
Resgatar antigos saberes que estão adormecidos no nosso dna, recebendo e honrando os ensinamentos das nossas mais velhas, vamos aos poucos restaurando e invocando essa linhagem materna ancestral para que estejamos fortalecidas no presente, amando e ocupando nossos corpos com nossas ideias, caminhando cada vez mais juntas umas com as outras visionando outros mundos possíveis, que muito provavelmente não estaremos mais aqui para ver e viver mas que, com certeza, teremos feito parte dessa construção.
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*Crédito da foto de destaque: Entretetizei