Resenha | Minari e a incansável busca pelo subestimado sonho americano

Minari retrata, com muita sensibilidade, a famosa tentativa de alcançar o “sonho americano”, objetivo de vida subestimado de muitas pessoas

 

O longa coreano Minari é o favorito ao Oscar 2021. Indicado a seis categorias, a produção conta, delicadamente, a história de imigrantes coreanos que vivem nos Estados Unidos, nos anos 80, em busca de uma vida melhor. Ao se mudarem da Costa Oeste (Califórnia), para a zona rural de Arkansas, pai, mãe e filhos têm que lidar com as mudanças em meio a uma difícil situação financeira. Com 115 minutos de duração, Minari retrata, com muita sensibilidade, a famosa busca pelo subestimado “sonho americano”.

Conhecendo os personagens de Minari

Jacob (Steven Yeun) é um homem trabalhador e que vai até o fim pelos seus sonhos. Ao chegar à Arkansas, se depara com uma realidade diferente da cidade grande e vê, em seu terreno, uma oportunidade de colocar em prática o sonho de ter uma fazenda e plantar alimentos coreanos, que raramente são encontrados na região. Com uma personalidade mais robusta, acredita até o fim que a mudança para o campo não foi em vão, mas acaba se preocupando demais com o dinheiro e de menos com sua família e sua mulher, que não está satisfeita com a situação a que estão expostos.

Foto: Divulgação | Medium

Monica (Ye Ri Han) é uma jovem mãe, que, junto ao seu marido, trabalha com toda garra em uma granja próxima à sua fazenda, onde ambos se responsabilizam em separar o gênero de pintinhos. A moça se mostra não satisfeita em morar em uma casa com rodas  e sente falta da Califórnia, principalmente porque, lá, cuidar de seu filho mais novo era mais fácil. Monica lida com a enfermidade de sua mãe, que veio de longe para ajudar.

Foto: Divulgação | Electric Literature

David (Alan S. King) é um garotinho que convive com um problema grave no coração. Esperto e inteligente, ele vê em sua nova vida uma oportunidade de explorar e conhecer a vida no campo. Apesar de sua situação, quer sempre ir além e tem seu pai como um espelho, o qual quer sempre acompanhar para aprender um pouco mais sobre cada atividade que faz.

Foto: Divulgação | Variety | Créditos: Josh Ethan Johnson

Anne (Noel Kate Cho) é a filha mais velha do jovem casal. Madura, ela cuida praticamente o tempo todo de seu irmãozinho e também ajuda os pais no que for preciso. Pela sua idade, é uma criança bem à frente de seu tempo e certamente entende as dificuldades ao seu redor.

Foto: Divugalção | Teen Vogue

Um roteiro sensível, com uma história real

Minari carrega uma história conhecida e comum, contada de forma delicada, onde encontramos a realidade do sonho americano com todos os seus defeitos e dificuldades. A ideia de que se mudar para os EUA trará estabilidade financeira e felicidade muitas vezes é acompanhada de dificuldades e perdas.

Logo no início do filme, nos deparamos com Jacob e Monica com perspectivas diferentes: ele tem certeza que vai conseguir sucesso em sua nova terra, já ela, se mostra, o tempo todo, insegura e com medo do que pode acontecer, além de sentir falta de sua família, amigos, de sua cultura e da cidade. Ambos trabalham muito em uma granja composta por trabalhadores coreanos e um trabalho não tão fácil e agradável assim, afinal, separar pintinhos o dia todo não é algo que sonhamos para nosso futuro.

Foto: Divulgação | Movie House Memories

Sendo assim, vemos o desenvolver da história com muita delicadeza nos detalhes, de forma que, muitas vezes, entendemos a mensagem sem nem mesmo ouvir um diálogo. Anne e David também se mostram crianças extremamente maduras: entendem que a relação do pai e da mãe não está boa e agem de maneira muito mais madura do que o esperado para a idade que têm. Apesar disso, tentam adaptar-se à nova vida e vêem, com a chegada da avó, uma nova oportunidade de aproveitar o espaço.

A chegada de um membro da Coreia e a mistura de culturas

Soonja (Yuh-Jung Youn) chega da Coreia para ajudar sua filha e, finalmente, conhecer seu neto. A ideia de convidá-la para viver com a família no campo surgiu como forma de não deixar as crianças sozinhas. Mas, quando a avó chega, começamos a perceber como há um choque de culturas entre famílias asiáticas, com filhos nascidos nos Estados Unidos.

Foto: Divulgação | GoldDerby | Créditos: A24

Para começar, David sente medo de conhecer a avó e não entende alguns costumes da mesma. O menino chega a comentar que a avó “fede à Coréia” e, para ele, o fato dela não saber cozinhar e falar palavrões faz com que ela não pareça uma avó de verdade. É curioso perceber que as crianças nascidas no país são muito mais influenciadas pela cultura americana – mesmo convivendo com os costumes coreanos dentro de casa – como, por exemplo, David que, com o pouco de idade que tem, já fala e entende mais inglês que seus pais.

Outro ponto interessante de se destacar sobre esse choque cultural está no próprio dia a dia da família, que vai à igreja evangélica, tenta fazer amizades com americanos e contrata um ajudante para a fazenda um tanto quanto fanático por religião – que chega até a benzer a casa.

A família é a única coreana na igreja | Divulgação: LINE Today

É curioso ver como duas culturas tão diferentes, de repente se combinam sem se combinar e a forma como cada personagem lida com essa mistura é muito individual, podendo ser positiva ou não  – como é o caso das crianças, que gostam de ir à igreja e conhecer novos amigos e Jacob, que aceita a cultura americana, mas não entende a necessidade das orações ao longo do dia.

A solidão dos imigrantes coreanos e as dificuldades de adaptação

O fato é que a história vivida pelos personagens é muito comum entre as famílias asiáticas que vem para a América. Além de saírem de sua zona de conforto, têm que enfrentar um novo idioma, leis trabalhistas que exploram os trabalhadores e a solidão. Essa última, conhecemos bem em Monica, uma mulher que se mostra triste e só, mesmo com seus filhos e sua mãe todos os dias ao seu lado. Essa solidão vem com um sentimento de saudade: saudade da família, dos amigos, da comida e de tudo o que foi deixado para trás.

A solidão também pode vir acompanhada por imprevistos: ao passar mal sozinha em casa com seus netos, Soonja só é socorrida quando sua filha retorna do trabalho. Resultado: o AVC foi muito mais grave do que imaginavam. Esse momento é retratado também de forma muito sutil, em que acompanhamos uma evolução na relação entre avó e netos

Divulgação: El País

De fato, a chegada da vó mexeu com a família. David culpa a avó por tudo, mas entende que ela é necessária. Em uma determinada cena, vemos como a avó acredita no menino, ao encorajá-lo a correr e levantar após um tombo. “Você é mais forte do que pensa, David”. E realmente era.

O que é realmente importante em um lar?

Essa é uma pergunta que me questionei ao finalizar Minari. Após o AVC da mãe, Monica se vê cada vez mais sem rumo e decide que precisa retornar à Coreia. Ela só não contava com uma coisa: a melhora repentina na saúde de seu filho. Após retornarem do hospital e descobrirem que o coração de David teve uma melhora absurda, o médico recomenda que continuem a fazer o que estavam fazendo, seja lá o que fosse, porque estava dando certo. Para Monica, foi como um milagre, mas ela ainda estava segura de que precisava voltar.

O ponto principal está bem no final, em que nos questionamos o que seria necessário para que todos percebessem que o que faltava ali era união. Como a avó era uma mulher esperta e estava acostumada a ajudar, ela aproveitou a saída da família para limpar o que estava sujo e colocar o lixo para fora. O problema é que, com as sequelas do acidente que teve, acabou colocando fogo em parte da fazenda e não conseguiu apagá-lo. E foi aí que entrou o que faltava.

Divulgação: Panela de Séries

Marido e mulher fizeram de tudo para salvarem o que ainda estava intacto, enquanto os netos foram atrás da avó que, assustada, tinha fugido para longe. Foi preciso perder tudo para perceberem que o que mais precisavam era estar juntos, por completo, como um time, e que o dinheiro seria uma consequência disso.

Diante disso, eles perceberam como eram incríveis juntos e que aquele pé de Minari, planta originária da Ásia, plantado pela avó quando chegou da Coreia tinha um novo significado, como um recomeço, uma nova chance de começarem de novo e diferente.

Divulgação: GoldenDerby

Minari nos deixa com uma reflexão sobre a vida, sobre a importância da família e da união entre os seus membros sob a perspectiva de uma criança, que aparece como um exemplo de que algumas mudanças na vida podem surgir com desvios no caminho, mas que no fim, todo o percurso vale a pena ser enfrentado, até que se chegue ao destino.

Escrito e dirigido por Lee Isaac Chung, Minari estreia nos cinemas brasileiros em 22 de abril e concorre a seis categorias do Oscar: Melhor Filme, Melhor Ator (Steve Yeun), Melhor Direção (Lee Isaac Chung), Melhor Atriz Coadjuvante (Yuh-Jung Youn), Melhor Roteiro Original e Melhor Trilha Sonora. Confira o trailer a seguir:

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*Crédito da foto de destaque: Divulgação/Austin Film Critics Association

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