Cantor e compositor Rodrigo Suricato fala sobre novo single, inspirações e projetos futuros
“Diga, você que conduz essa dança, me avisa se eu faço um café ou se eu faço a mudança”. Se você nunca ouviu falar de Rodrigo Suricato, essa é a oportunidade perfeita para conhecê-lo. Com cinco álbuns de estúdio e participação em grandes festivais como Rock in Rio e Lollapalooza, Rodrigo Suricato conquistou fãs no Brasil inteiro com seu som tranqüilo, gostoso de ouvir e letras apaixonantes. No último dia 5, ele lançou o single A Dois – uma releitura da música da banda carioca Tem Amor –, com participação especial de Vitor Kley.
A música ganhou um videoclipe exclusivo, com imagens gravadas no Rio de Janeiro e em Santa Catarina. Produzido por Gabs Hand e com roteiro do próprio Suricato, o vídeo mostra bem a vibe sol, praia e mar que Suricato e Kley têm, além de mostrar paisagens lindíssimas.
Além de cantor, Rodrigo Suricato também é compositor, multi-instrumentista e produtor e já possui mais de dez anos de carreira. Com sua banda, Suricato, ele participou do programa Superstar da Globo, sendo um dos finalistas, e ainda garantiu um Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock com Sol-te.
Em 2020, em meio à pandemia, lançou três discos, Suricateando e One Man Band volumes 1 e 2. Os últimos tendo como grande diferencial o fato de ter sido todo composto, arranjado, tocado, interpretado e produzido por ele. Uma banda de um homem só, com certeza. Com 11 faixas, o álbum envolve letras com algumas percepções do cantor sobre si mesmo e o momento em que vive o mundo. One Man Band ainda ganhou um mini DVD no Youtube, com imagens de um show ao vivo no Rio de Janeiro.
E você pensa que para por aí? Em 2017, ele aceitou o posto de vocalista em uma das maiores e mais famosas bandas de rock do Brasil: o Barão Vermelho. Substituindo Frejat como frontman, Rodrigo viajou o país cantando sucessos da banda. Em 2019, lançou o primeiro álbum com o Barão, Viva, com nove canções inéditas e compostas por todos os integrantes.
Em entrevista exclusiva para o Entretetizei, Rodrigo Suricato fala do lançamento de A Dois, suas maiores inspirações e ainda canta um pedacinho do single. Confere aí:
Entretetizei: Eu soube que você gravou A Dois depois de ouvir a música sendo tocada pela banda Tem Amor. Pode contar pra gente como você conheceu a banda e como foi o processo de gravação?
Rodrigo Suricato: A banda Tem Amor é uma banda que eu gosto bastante aqui no Rio de Janeiro. Eu produzi o primeiro EP deles e na turnê do meu disco Na Mão As Flores, que foi interrompido pela pandemia, eu chamava artistas independentes e deixava espaço de abertura aberto para que eles se apresentassem. Às vezes, seis artistas, em vez de ser só um. Cada um ia chamando o outro. Cada um tocava duas músicas e tal e flertava com o outro, um cantava no show do outro, tocava violão no show do outro e assim fazia realmente um intercâmbio porque esse é realmente o meu objetivo, ficar junto de bandas independentes. E a banda Tem Amor foi uma dessas bandas que eu chamei pra abrir meu show aqui no Rio de Janeiro e, quando eu escutei essa canção, foi amor à primeira vista. Eu passei um tempo muito imerso no meu próprio repertório e na minha própria maneira de desenvolver a minha linguagem artística. Então, eu gravei todos os instrumentos do meu disco Na Mão As Flores, eu produzi esse álbum compondo todas as minhas músicas. Esse universo é muito individual, mas quando o trabalho é seu, não é um lugar egoísta. É um lugar realmente de experimentação, um laboratório. Aí [sic] eu consegui realizar as coisas que eu queria realizar e falei “Ufa! Deixa eu dar uma olhada pro lado e ver o que está acontecendo” e vi que essa música é uma música maravilhosa, de uma banda independente que eu curto e quando eu escutei a primeira vez, eu falei cara taí [sic]. Talvez eu fique amarradão de gravar. Taí uma música que eu gostaria de ter feito. Aí eu falei “Po, cara acho que vou gravar essa música” e pedi pro Ramon pra gravar. Seria muito fácil fazer. Eu tenho muitas outras canções na fila, mas eu acho que ele celebra um pouco desse meu desejo de estar com outras pessoas, potencializado pela pandemia, a gente não aguenta mais ficar em casa. Quer encontrar o público. Então, deixa eu cantar a música de outras pessoas. Deixa eu prestigiar artistas contemporâneos, independentes, sabe? Que não têm esse holofote todo. Seria muito fácil eu pegar a galera que já escreve, já tá bombada e tudo, então acaba que a gente faz um lindo dar as mãos nesse momento porque o Vitor é um artista de mainstream, dando a mão para um artista de midstream e esse artista de midstream dando a mão para um artista independente. Então, eu acho que eu queria fazer mais círculos como esse. Essa foi a minha ideia e a música é uma delícia, eu adoro!
E: A Dois é uma música linda, que fala de amor e carinho, com clipe incrível. Como você acha que as suas canções impactam o seu público, principalmente em tempos tão sombrios? O que você espera da reação deles?
RS: Eu faço canções realmente para me curar das minhas próprias questões, sabe? Eu não faço como uma encomenda de um jingle para as pessoas ficarem felizes e se sentirem assim ou assado. Como somos todos humanos, acaba que o que eu vivo, todo mundo vive também. Então, o que eu escuto muito em relação às minhas canções é gente que tava deprimida, que passou por depressão e por momentos delicadíssimos da vida e a minha música, em algum momento, fez sentido pra elas se reerguerem em um momento em que elas estavam precisando. E isso não tem preço! Não tem dinheiro que pague uma sensação dessas, pro artista. Então, isso é o que eu ouço muito. Eu ouço muito também sobre a minha canção ser Good Vibe, ter um astral solar e, realmente, as minhas canções têm essa pegada meio good vibes, não que eu seja feliz o tempo todo, não que eu seja um cara radiante, que esteja alienado do que vem acontecendo com a gente, mas ser good vibes é quase ser um protesto ao que vem acontecendo com a gente. Então, eu falei “cara, vou ser bom só de sacanagem, sabe? Como é ser positivo só de sacanagem com tudo isso que está acontecendo com a gente?” Porque tudo que está acontecendo com a gente pode levar a gente pra um lugar muito pessimista das coisas, mas acho que dentro de todo esse pessimismo, dentro de tudo aquilo que acontece com a gente e a gente se corta e fica ferido, acaba que, na minha vitamina, acaba saindo uma mensagem bacana pras pessoas. Porque é o que eu tento fazer dentro de mim. Ninguém consegue viver num estado emocional denso a vida toda, isso consome muito. Então, a minha maneira de colocar pro mundo essas questões que as pessoas chamam de good vibe e eu aceito de boa, eu adoro!
E: É meio que bater de frente com o sistema, né? Já que tá todo mundo triste, vamos levar um pouquinho de luz…
RS: Apesar de que a tristeza vende um pouco mais, em termos marketeiros. Existe realmente esse interesse, a sofrência, meio que um povo gótico. Nós somos, basicamente, alcoólatras e cornos. É um povo muito triste, muito pesado. Mas enfim, cada um na sua. Eu tento realmente tirar alguma lição das coisas que eu vivo e dar alguma luz pras pessoas. É quase uma medicação. Eu uso uma expressão que é sob efeito de música. A gente tá o tempo todo sob efeito de música porque ela provoca reações químicas muito sérias na gente. A gente consegue ficar feliz com uma música. Outros conseguem entrar em uma emoção profunda, lembrar de algo lá de trás só porque você escutou uma melodia que tem a ver com alguma coisa que você viveu na sua vida, então é uma droga poderosa, sabe? As pessoas que, se quiserem pegar meu medicamento pra determinadas coisas, tem. Tem medicamento pra ficar triste, pra ficar feliz, só pra relaxar… tem tudo isso na minha farmácia!
E: Você tem vários feats ao longo da sua carreira, como o Melim, em Astronauta e a regravação de Um Certo Alguém com o Lulu Santos. Agora você escolheu um queridinho da galera, que é o Vitor Kley. Com quem mais você gostaria de fazer um feat?
RS: Eu quero fazer feat agora com todo mundo, cara. De verdade. Eu recebo bem os estilos nossos diferentes. Porque eu comecei a minha carreira acompanhando artistas. Então, eu tinha que tocar o repertório que vinha pra mim, no meu trabalho. Então, eu aprendi a escutar música de uma forma apartidária. Isso foi muito bom pra mim. Cara, eu adoraria fazer coisa com o Lenine, com a galera do rap, que realmente eles representam o rock hoje em dia. Eu queria flertar com essa galera. Agora eu tô mais aberto ao outro, sabe? Eu to mais seguro. Eu sou muito tímido, eu tenho, às vezes, complexo de inferioridade com algumas músicas. Eu fico com medo de mandar pra alguns artistas e ver se eles gostam ou não. Mas não se iluda, a galera que me vê. Eu já mandei música pra muita gente tentando fazer feat e as pessoas não toparam fazer, não se identificaram naquilo. Então, eu tomo com a porta na cara também de vez em quando.
E: Eu vi que você fez um post de inspirações femininas pro dia das mulheres, achei muito legal. Muitas artistas ali eu não conhecia. Musicalmente, você tem uma bagagem mais conectada ao pop e tal. Lá atrás, quem te influenciou como compositor e como instrumentista?
RS: Eu fui inspirado muito pelo blues, pelo rock clássico, né? Então, lá de fora Led Zeppelin também, tudo que -, Beatles, tudo isso me colocou -, Van Halen também, tudo isso me colocou no faro da guitarra, e aqui no Brasil, é… as minhas referências são Roberto Frejat, do Barão, e o Herbert Vianna, então pra mim foi um dos melhores guitarristas. É… depois eu fiquei atento às fichas técnicas dos discos né, os guitarristas que gravavam os discos que eu gostava, então eu olhava a ficha técnica… Então muita gente foi minha referência nesse sentido.
E: Ah, legal. Bom que você pegou uma galera do rock lá de trás né. Pouca gente conhece – quer dizer, ‘pouca gente conhece né’, todo mundo conhece os Beatles, mas pouca gente não pega, eu acho que não pega essa referência do rock lá de trás, estão sempre pegando um pouco mais pra perto né…
RS: É, é. Eu acho que as pessoas não tem mais aquela cronologia, por exemplo, eu sei cada disco dos Beatles, o que que veio antes, o que que veio depois. Alguém mais novo sabe das músicas meio… então o negócio é meio louco assim, essa cronologia pras pessoas. Tem gente inclusive que me pergunta se o Cazuza foi do Barão Vermelho! Então, a história tá meio misturada pra uma galera que tem lá seus 25 anos, a gente acha que eles tem tudo – não, não tem, eles não sabem, eles conhecem as canções, mas eles não amarram o fio né.
E: Pegando esse gancho, o que mudou do Rodrigo do Superstar pro Rodrigo de hoje?
RS: Pô, profissionalismo. O máximo possível, eu aprendi na porrada… é… a… a proteger o meu business de pessoas que eu não quero tá perto, proteger meu projeto Suricato, é… de mim mesmo né, das minhas vontades, por exemplo, o que que eu digo de proteger o projeto do Suricato, eu decidi – eu percebi que o Suricato é o núcleo criativo, quero ter a liberdade de fazer de cada disco um lugar diferente pra mim. Então não posso casar com quatro pessoas dentro da banda se eu tenho vontades diferentes né, a não ser que eu tenha/ queira realmente estar com aquelas pessoas o tempo todo, mas se de repente eu não quiser mais, ou se o relacionamento tiver ruim, de briga, eu não sou obrigado a tá com pessoas que eu brigo, carregando o meu projeto. Que eu acho uma infelicidade viajar com pessoas que você não gosta, sabe?
E: Sim, claro…
RS: Cara, Lorraine, a gente escolhe o caminho mais difícil que é o da arte. Fazer arte num país como o nosso. E po, a gente escolhe ainda ser infeliz? Então não dá, então realmente, eu moldei o meu business de forma que eu me sinto orgulhoso. Ultimamente, é, eu tenho estudado muito sobre gestão de carreira, sabe? Anita Carvalho – coordenadora do Music Rio Academy – me influenciou tanto quanto o Van Halen cara (risos). Sabe? Então, eu Rodrigo, preciso prestar contas ao Suricato, entendeu? O Suricato precisa andar pra lugares, e o Rodrigo precisa trabalhar pra empresa, e pra esses lugares são onde eu quero que ela esteja. Então pra mim foi muito importante começar a estudar sobre gestão artística. Eu recomendo a todos os artistas, até cinco anos atrás, esses assuntos, eles não tinham bibliografia, você não tinha nada! Na verdade, você nem tem muita bibliografia sobre isso. Você tem alguns cursos de pessoas que estão começando a falar sobre os assuntos. Era tudo mato! Eu queria ter começado a fazer música sabendo o que eu sei hoje, no sentido não da… da porrada, da experiência, é de montar uma planilha do Excel.
E: Toda a burocracia por trás, né?!
RS: O mínimo possível, sabe? Então, tirar a música do lugar de informalidade, que ela não merece estar, sabe? Pô, isso gera dinheiro, isso gera… isso trabalha com nossos sonhos, nossas angústias sabe, então tem que levar o negócio à sério. Eu passei muito tempo estudando sobre isso, e agora eu quero voltar, ter o empresário um pouquinho de lado, pouca coisa, pra começar a compor pro disco que eu quero lançar agora até o final do ano.
E: E, pra finalizar, pode deixar uma mensagem para os seus fãs que acessam o Entretetizei?
RS: Galera, eu tô muito feliz de dar entrevista prum [sic] site novo, né, com essa iniciativa de ser só de mulher porreta [sic] mesmo, trazendo essa sensibilidade. Geralmente, quando mulher me entrevista, eu já fico muito ligado que mulher sabe muito das coisas. Eu sempre tomo uma banda com perguntas que são muito bem feitas, muito bem elaboradas. Então, prestigiem esses veículos, né, esses canais feitos por mulheres. A gente precisa ser entusiasta dos lugares que a gente quer ver mais por aí. Tem que ser entusiasta da música que a gente gosta e tem que ser entusiasta e prestigiar os sites e os portais que a gente gosta. Então, prestigiem!
E: Obrigada, Rodrigo! E, mais uma vez, parabéns pelo sucesso!
E não se esqueçam, sábado, dia 13, teremos uma Live com o Rodrigo Suricato no Instagram oficial do Entretetizei. Separe suas perguntas e manda para a gente pelo Insta, Twitter ou Face!
*Crédito da foto de destaque: Divulgação