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É muito comum que as pessoas vejam alguém vestido todo de preto ou com maquiagens pesadas e automaticamente pensem “esse aí é gótico”. Entretanto, a cultura vai muito além de uma estética estereotipada. Para combater essa pré-concepção negativa foi criado o Dia Mundial do Gótico, comemorado em 22 de maio para celebrar a cena e exaltar essa tradição artística, filantrópica e política.
Ao longo da história, o termo gótico foi usado para definir diversas formas artísticas, comportamentais, culturais e estéticas. Entretanto, apenas no início da década de 80 que a subcultura surge, influenciada por correntes filosóficas e sociais, como o expressionismo, o niilismo, o antimaterialismo e o existencialismo.
Além disso, a subcultura também apresenta forte apelo para a estética de momentos históricos, utilizando de elementos da Idade Média e da Era Vitoriana. Em suas manifestações artísticas, é comum encontrar um romantismo sombrio, referências neoclássicas, obscuridade, decadência, melancolia, terror psicológico, medo, loucura e monstros sobrenaturais, como demônios, fantasmas, vampiros e bruxas.
Essas características góticas podem ser encontradas em filmes de terror, suspense ou fantasia, na literatura, moda, arquitetura e, principalmente, na música, em bandas muito marcantes para a cultura, como Joy Division, Bauhaus e The Cure. Além disso, a cena gótica também tem cunho político, com manifestações artísticas anti consumistas e contra a discriminação de minorias.
O adjetivo gótico ao longo da história
O termo gótico nasceu no período renascentista para descrever, de forma pejorativa, o estilo arquitetônico medieval utilizado pela Igreja Católica, além de toda a produção artística da época. O adjetivo deriva de godos, um povo germânico considerado bárbaro e grosseiro. Dessa forma, os renascentistas classificavam a arte medieval como gótica para descrevê-la como bárbara.
Com o surgimento do romantismo no século XVIII, a palavra passou a designar parte da literatura romântica que idealizava a Idade Média de forma macabra e sobrenatural. Os contos góticos tinham uma ambientação sombria e fantasiosa, utilizando cenários como castelos e cemitérios, além do drama psicológico e mórbido.
Quando bandas de pós-punk passaram a denominar seu trabalho como gótico e obscuro no final da década de 70, o termo ganhou novamente outro significado, dando início à subcultura que hoje conhecemos. A forma como tal adjetivo foi se transformando ao longo da história explica a base de vários elementos da cultura gótica.
A história do cinema gótico
Conforme comentado anteriormente, além da literatura, música, moda e política estarem muito presentes na cultura gótica, o cinema também é uma forte representação dessa tradição.
É muito complexo definir cinema gótico como um gênero, mas filmes que apresentam as características e os elementos descritos anteriormente, como a tal ambientação sombria, ou o sobrenatural, e a sensação etérea, que podem ser considerados góticos.
Grande parte dos filmes góticos são baseados em livros de terror e suspense, porém isso não é uma regra geral, já que as obras também podem ser originais, e não adaptações. Os primeiros romances com elementos góticos começaram a aparecer nas telonas na década de 20 e 30, com obras clássicas do expressionismo alemão que brincavam com a iluminação e a maquiagem de forma artística para criar uma ambientação bizarra.
Depois de toda essa história, tenho certeza que você se interessou ao menos um pouquinho pela subcultura, mas não faz ideia de por onde começar a conhecê-la, né? Não se preocupe, pois é para isso que o Entretê veio te ajudar.
Selecionamos alguns filmes introdutórios para mostrar como a sétima arte expressa essa cultura ao longo das décadas!
O Gabinete do Dr. Caligari (1920)
A narrativa conta a história de Dr. Caligari (Werner Krauss), que exibe um sonâmbulo hipnotizado chamado Cesare (Conrad Veidt), que diz prever o futuro. Quando uma série de assassinatos começa a acontecer, o sonâmbulo passa a ser o principal suspeito. Esse pode ser considerado um dos primeiros filmes de terror psicológicos do mundo e foi dirigido pelo alemão Roberto Wiene.
As formas psicodélicas e os cenários sombrios distorcidos com fundos geométricos são utilizados de forma artística e metafórica para representar como está a mente insana dos personagens e causar certo desconforto ao assistir. A dualidade entre insanidade e sanidade está presente em toda a trama através de um narrador não confiável.
O Dr. Caligari representa figuras tirânicas da Alemanha pós-Primeira Guerra, contexto em que o filme foi feito, onde o extremismo desenfreado ganhava cada vez mais palco. É evidente a crítica de como o poder e o controle mental que autoridades fazem na mente das pessoas pode criar o caos.
Há muitos elementos presentes nesse longa que remetem à tradição gótica, como as reflexões dos medos e das ansiedades presentes no subconsciente, o visual expressionista e singular que causa uma sensação de desconforto e medo, além do ambiente e dos personagens sinistros.
Onde assistir: Youtube
Nosferatu (1922)
O longa, dirigido por Friedrich Wilhelm Murnau, conta a história de Thomas Hutter (Gustav von Wangenheim), um agente imobiliário que viaja ao encontro de Conde Orlok (Max Schreck), o Nosferatu, para auxiliá-lo na compra de um imóvel em Londres. O vampiro milenar, corcundo e careca, acaba se apaixonando pela esposa de Hutter e começa a aterrorizar essa família que precisa descobrir como derrotá-lo.
Essa história te lembra alguma coisa? Se você disse o livro Drácula, de Bram Stoker, acertou.
O filme queridinho dos amantes de clássicos já nasceu polêmico, pois os criadores da obra tinham o objetivo de adaptar Drácula para as telonas. Entretanto, Florence Stoker, a viúva de Bram, se recusou a vender os direitos autorais do livro para a Prana-Film. Mesmo assim, a produtora foi até o fim com sua ideia. Drácula se tornou Nosferatu e outros personagens tiveram seus nomes alterados, além de acrescentarem elementos novos.
Mas é claro que uma história icônica sendo adaptada não passaria despercebida. Florence entrou com um processo contra a Prana-Film para retirar todas as fitas do filme de circulação em território alemão. Como o livro já era de domínio público nos EUA devido a erros de registro, a obra continuou circulando livremente por lá.
Apesar dessas tretas, essa é uma das maiores referências do expressionismo alemão, com jogos de câmera horripilantes e uma caracterização de personagem bizarra e marcante, tendo introduzido elementos vampirescos muito conhecidos hoje, como a ideia de que vampiros morrem no sol.
Vale lembrar que um remake será lançado em dezembro de 2024 e a previsão de estreia no Brasil é para janeiro de 2025. Nosferatu (2024) tem direção de Robert Eggers, experiente em terror macabro e alternativo, tendo O Farol (2019) e A Bruxa (2015) em seu currículo.
Onde assistir: Youtube
Drácula (1931)
Bela Lugosi, o astro do terror das décadas de 30 a 50, dá vida ao Conde Drácula neste longa dirigido por Tod Browning. Essa adaptação da obra de Bram Stoker traz diversos elementos narrativos diferentes do produto original, mas, no geral, a história é a mesma.
Em Drácula (1931), o vampiro se muda para Londres e aterroriza a vida dos moradores locais. Em meio a suas aventuras, acaba se interessando por Mina Seward (Helen Chandler) e a atrai com sua hipnose vampiresca. O comportamento peculiar e macabro do Conde levanta suspeitas do pai da jovem, o Dr. Jack Sewar (Herbert Bunston), que precisa desvendar como esse ser incompreensível pela ciência se comporta, a fim de derrotá-lo.
Mesmo que não seja uma das adaptações mais fiéis ao livro e tenha um final considerado anticlimático por muitos, Drácula (1931) tem seu charme e é merecidamente um clássico do cinema gótico. Desde o lançamento, o longa tornou-se aclamado pela crítica. Em 2000, ele foi escolhido para ser preservado na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos através da seleção National Film Registry, que todos os anos adiciona 25 obras consideradas “visualmente, historicamente ou esteticamente importantes” na lista.
Onde assistir: Telecine e Amazon Prime
Frankenstein (1931)
O clássico personagem Frankenstein, que aparece até em alguns gibis da Turma da Mônica, é muito mais antigo do que muitos pensam. O filme é baseado no romance gótico de Mary Shelley e é dirigido por James Whale.
Na trama, o cientista Henry Frankenstein (Colin Clive), ao lado de seu bizarro assistente Fritz (Dwight Frye), tenta dar vida, através de eletricidade, a um corpo feito com partes de outras pessoas que já morreram. Seu experimento é um sucesso, mas o monstro escapa de seu laboratório, fazendo com que Henry precise ir atrás de sua criação.
Assim como Drácula, essa obra também está preservada na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Apesar de ser norte-americano, Frankenstein possui diversas e claras características do expressionismo alemão.
Onde assistir: Telecine, Amazon Prime, Apple TV, Youtube e Google Play Movies
Edward Mãos de Tesoura (1990)
Esse filme de fantasia e romance gótico americano narra a história de Edward (Johnny Depp), que, como o próprio nome já diz, possui tesouras no lugar das mãos. Quando uma vendedora de cosméticos chamada Peg Boggs (Dianne Wiest) o encontra após tentar comercializar produtos na mansão gótica em que o jovem vive, fica com pena da sua situação e o convida a morar com ela, percebendo a ingenuidade do personagem.
Toda a trama de humor, drama e fantasia se destrincha ao redor da realidade que Edward vive no dia a dia, por não se encaixar nos padrões. Dessa forma, é possível sentir profundamente os amores e sonhos dele.
A direção desse clássico fica por conta de Tim Burton, o cineasta conhecido por criar filmes icônicos com um estilo único de terror, cheio de elementos góticos e arrepiantes, porém, de certa forma, fofos. A Noiva Cadáver (2005) é um dos maiores exemplos do estilo cinematográfico de Burton.
Assim como em Frankenstein, aqui temos outro protagonista não humano com a sensação de não pertencimento à sociedade, uma metáfora comum em obras góticas. Presságios, o sobrenatural, a tristeza e o horror também fazem parte do longa. Além disso, o cenário e a caracterização de Edward possuem inspiração e um claro pé na subcultura gótica.
Onde assistir: Disney+ e Apple TV
Entrevista com o Vampiro (1994)
Imagina ser um jornalista e, em um fatídico dia, alguém chegar e te dizer “sou um vampiro, quer ouvir a minha história?”. Nesse filme, Louis de Pointe du Lac (Brad Pitt) narra seu passado para o jovem biógrafo Daniel Molloy (Christian Slater), contando sobre sua transformação, vida, trajetória e as reviravoltas emocionantes e excitantes que aconteceram ao longo de sua história centenária.
Assim, descobrimos que, após a morte de toda sua família, Louis conheceu o vampiro Lestat de Lioncourt (Tom Cruise), que o persuadiu a escolher a imortalidade em vez da morte. Tendo apenas um ao outro, ambos tornam-se companheiros de vida.
O elenco milionário, a performance incrível dos atores e a série de plot twists incríveis são o maior charme desse filme. É impossível entender como conseguiram reunir Tom Cruise loiro e Brad Pitt para formarem um casal de vampiros milenares, e ainda pais de menina! Além dos dois grandes astros, o icônico Antonio Banderas também compõe esse time de astros.
Esse romance gótico é uma adaptação do livro de mesmo nome, escrito por Anne Rice. Ele tem estética vitoriana, figurinos impecáveis e uma vibe tóxica e cativante de sofrimento, suspense e amor. Aclamado pela crítica, o longa ganhou vários prêmios, incluindo o de Melhor Direção de Arte no 67º Oscar.
Onde assistir: Amazon Prime, Apple TV, Youtube e Google Play Movies
O Fantasma da Ópera (2004)
Esse é para aqueles que amam um musical cult. No enredo de O Fantasma da Ópera, Erik (Gerard Butler), é um músico genial que se torna obcecado por uma jovem cantora chamada Christine (Emmy Rossum). Por ter seu rosto desfigurado, Erik se esconde na casa de Ópera de Paris e começa a aterrorizar a vida dos artistas que vivem ali. Ao mesmo tempo, ele treina Christine.
Todo esse enredo é baseado no lendário musical de Andrew Lloyd Webber, que carrega o mesmo nome do filme. E… adivinha? Assim como tantos outros filmes dessa lista, o musical também é baseado em um livro homônimo, o romance francês publicado em 1910 e escrito por Gaston Leroux.
Os figurinos, a maquiagem e, principalmente, os cenários são composições artísticas deslumbrantes, com diversos elementos góticos. A fotografia da obra consegue transmitir a sensação melancólica e bela de um amor tóxico e sem volta.
A narrativa de O Fantasma da Ópera possui várias adaptações para as telonas. Apesar dessa não ser uma das preferidas dos críticos, continua sendo um clássico. Além disso, essa versão de 2004, dirigida por Joel Schumacher, não tem muitos elementos do terror gótico, mas do romance gótico e seu sentimentalismo obscuro.
Onde assistir: Apple TV, Google Play Movies e Youtube
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Texto revisado por Michelle Morikawa