Jane The Virgin -- "Chapter Sixty-Six" --Image Number: JAV402a_0090.jpg -- Pictured: Gina Rodriguez as Jane -- Photo: Scott Everett White/The CW -- © 2017 The CW Network, LLC. All Rights Reserved.

Jane the Virgin: a série que vai virar sua melhor amiga

Straight out of a telenovela, right?

Jane the Virgin foi a minha grande companheira dessa Pandemia e foi simplesmente uma das melhores produções americanas que eu assisti nos últimos tempos.

Divulgação: EW

Confesso que não foi de primeira que a série me encantou – ela estreou em 2014 e eu só assisti seis anos depois. Alguns amigos e familiares já tinham comentado: “Essa série é a sua cara, assiste!”, mas aquele título não me pegou. Eu pensava: uma série sobre uma virgem?! E olha eu aqui, toda emocionada com tudo o que assisti.

Creio que nada acontece por acaso. Fazia um tempo que eu não pegava uma série grande e americana para maratonar – tenho me interessado mais pelas séries espanholas e brasileiras, talvez porque eu estava procurando algo menos “americanizado”, menos padrão. Ter começado a assistir Jane durante a quarentena me salvou, literalmente.

Divulgação: Film Daily

Inspirada numa telenovela venezuelana, a produção conta a história de Jane, uma menina de 23 anos que foi inseminada artificialmente por engano e, por vir de uma família muito católica e latina, a notícia foi um choque para todos. Ela já estava namorando com Michael (Brett Dier) e tinha inúmeros sonhos, como o de virar uma escritora. Tudo em sua vida mudou a partir daquele dia.

A série gira em torno das mulheres Villanueva – Jane (Gina Rodrigues), Alba ou Abuela (Ivonne Coll) e Xiomara (Andrea Navedo), as três atrizes porto-riquenhas simplesmente se entregaram profundamente nas personagens. Detalhe: durante toda a série, a Abuela fala só em espanhol.

Jennie Snyder (criadora da série) estruturou-a de forma que nós, latino-americanos, nos sentíssemos em casa. Sabe quando você respira aliviado por assistir algo que é a sua cara? É o acontece com Jane. Usando de forma muito inteligente a linguagem latina e o realismo mágico*, a narrativa ficou próxima à nossa realidade, com todos os clichês e exageros que uma boa telenovela latina possui, sem contar que Gina Rodriguez deu um show interpretando essa personagem tão especial.

Divulgação: Scott Everett White/The CW

Creio que o personagem que melhor representou todo esse exagero foi o Rogelio de La Vega (Jaime Camil). Ele é um ator renomado no México e tenta a todo custo conquistar a fama na América – o que também é uma crítica a essa famosa busca pela fama nos EUA. Para isso, Rogelio usa todo o seu talento dramático e dá um show de exageros. Cada cena dele é um sorriso no rosto. Não tem como negar que tudo é uma homenagem às telenovelas, sempre presentes na vida dos latinos.

Foto: Divulgação | TV Equals

Como uma pessoa que cresceu, literalmente, assistindo novelas, foi como ver toda a minha vida, até agora, na forma de uma série. O que dizer dos chiffhangers (reviravoltas)? Quando pensávamos que mais nada poderia acontecer, algo inesperado acontecia – para mim, o mais chocante foi a virada da temporada 4 para a 5. As reviravoltas tornaram a série ainda mais atraente e, junto à edição, apresentou uma nova forma de produzir série nos Estados Unidos.

Divulgação: CW

Dar vida ao mundo ao redor dos personagens, apesar de já ser uma característica da narrativa latino-americana, é algo muito inovador para os EUA. Para mim, a parte mais fofa desse realismo mágico foram os corações, que brilhavam quando um personagem estava apaixonado. (Clichê? Sim, mas a gente ama!) – ainda mais quando vem acompanhado de um triângulo amoroso repleto de emoções.

Divulgação: EW

Ao longo das temporadas, cada personagem teve sua chance de crescer. Um ponto interessante foi perceber como teve uma “quebra de padrões” entre os supostos mocinhos da história: Rafael (Justin Baldoni) começou como um galã, babaca e malhado e, após ser pai, foi aprendendo com a vida e se transformou completamente, de forma que era impossível não amar aquele personagem. O mesmo com Petra (Yael Grobglas): loira, magra, rica e mimada. Ela aprendeu tanto com a vida, que se tornou uma das personagens mais queridas da série. A forma como a vida foi aproximando-a de Jane fez com que uma nova relação surgisse, como de irmãs. 

O fato é que TODO MUNDO foi o herói da história em algum momento. Cada um, com suas qualidades e defeitos, protagonizou uma bela história de vida, que, se pararmos para pensar, são como nossas histórias. Uma jovem solteira, completamente apaixonada e com sonhos de vida; uma mãe que engravidou muito cedo e teve que assumir responsabilidades antes do tempo; uma avó que migrou da Venezuela em busca de uma vida melhor para a sua família… Histórias que olhamos e nos identificamos, porque elas existem na vida real.

A forma como a história de cada personagem foi se conectando à do outro formou um novo jeito de caracterizar família, afinal, família não está apenas no sangue, mas também nas amizades, nas escolhas e encontros que vamos fazendo ao longo da vida. Essa “grande família” de Jane the Virgin conquistou nossos corações, como se eles agora fossem realmente parte da nossa família.

Representatividade

Sentir-se representado é muito importante, principalmente nos tempos de hoje – e isso inclui colocar latinos, negros e personagens LGBT como pessoas completamente normais e bem sucedidas, como realmente é ou pode acontecer na vida real.  Não queremos mais ser retratados – apenas – como traficantes, pobres e sem sucesso na vida. Não é que isso não aconteça, mas é que nossa história vai muito além disso: somos diversos, somos importantes e queremos ver isso também na TV – não só na TV latina.

Ah, como foi emocionante acompanhar a história da Alba, avó da Jane, um rosto que representa todos os imigrantes latinos nos Estados Unidos. Acompanhar sua luta e todo seu processo de legalidade foi realmente tocante. Creio que muitas pessoas nem imaginam como é sair de seu país, sem dinheiro e com pouquíssimas coisas, para um país repleto de preconceito, leis imigratórias absurdas e xenofobismo. Alba passou por tudo isso com muita garra e coragem, mas sempre com uma certeza: que sua fé a sustentaria para ela ir até o fim. A cena em que ela recebe seu green card é certamente uma das que jamais vou me esquecer. 

Foto: Divulgação | Project Fandom

Jane The Virgin sempre será aquela série amiga que eu terei o prazer de comentar com todo mundo. É gratificante ver uma produção em que as mulheres são ensinadas a andarem juntas, em parceria e não a serem competitivas, como nós somos ensinadas. A união entre as mulheres é algo muito forte e que precisa ser reforçado. Essa série veio em um momento  que o mundo precisava. Eu assisti e me apaixonei em um momento que eu precisava. E que venham mais produções assim.

Jane é uma série que fala de afeto, que enfatiza o poder do pensamento positivo e das pessoas de bom coração. É sobre histórias de amor que nem sempre acontecem da forma que nós desejamos. É sobre os conflitos da vida, das pessoas vulneráveis e do poder das amizades. É sobre respeitar e ser respeitado, não importa a raça, o gênero ou a orientação sexual. Tem tanta coisa pra gente aprender com Jane, que eu poderia ficar horas aqui listando – aliás, listas é algo que a gente vê durante a série inteira, rs.

Divulgação: Tell Tale

Finalizo com uma fala da Ivonne Coll, que interpreta a Abuela, em que ela comenta sobre a questão do medo – que sempre estará presente em nossas vidas, assim como esteve na vida da Jane, mas não conseguiu impedir que ela seguisse em frente: “Está tudo bem sentir medo. O que não está bem é deixar que o medo nos impeça de viver.”

Todas as temporadas de Jane The Virgin estão disponíveis na Netflix.

 

*Realismo Mágico – termo usado em produções latinas e citado pela própria Jennie Urman no episódio 99. Significa dar vida a objetos inanimados e ao mundo à sua volta – como brinquedos que falam com os personagens, o coração que brilha quando apaixonado e objetos que se mexem nas cenas. Não é algo tradicional na TV americana, mas esteve presente o tempo todo em Jane The Virgin.

(Deixo aqui esse GIF só pra todos que também sofreram por esse casal perfeito aqui: #Jafael):

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