Acusado por alguns de xenofobia, falsidade e desrespeito, o filme de Jacques Audiard provoca indignação até mesmo entre aqueles que não o assistiram.
Emília Pérez, estrelado por Selena Gomez e Zoe Saldaña, conta a história de Manitas, um chefe de cartel mexicano que deseja fazer a transição de gênero. E não seria a primeira vez que Hollywood peca em representações culturais de outros países.
O impacto social retratado no filme de Jacques Audiard foi destaque em um artigo do The Guardian, que relembrou a violência e os desaparecimentos no país. Questões como feminicídio e violência contra pessoas trans apresentam números alarmantes, mas, segundo a crítica da BBC, Gaby Meza, a produção usa essa “tragédia atual… para gerar um produto de entretenimento”.
A dubladora mexicana Vero López Treviño endossou a crítica de Meza, apontando a abordagem superficial do filme. “Vejo muitos erros, mas o maior deles é tratar esses temas difíceis com um tom musical frívolo”, declarou em entrevista.
A fala do diretor
Uma das principais críticas ao projeto e ao diretor Jacques Audiard é a falta de pesquisa sobre o país que retrata. O próprio cineasta admitiu não ter se aprofundado no estudo da cultura local. “O que eu precisava saber, eu já sabia um pouco”, afirmou o francês.
A declaração gerou indignação. “Acho atroz um diretor de cinema admitir que nunca estudou o México. Foi movido por clichês? Que tipo de profissional não se interessa pelo país sobre o qual está falando? Ele trata de um tema sério (múltiplas mortes) superficialmente, sem considerar o impacto real para um país inteiro”, criticou Vero López Treviño.
A falta de comprometimento também incomodou o designer de som Charlie Barrientos, que comparou a situação a uma invasão de privacidade. “É como se alguém representasse sua própria casa em um set de filmagem sem nunca a ter visitado.”
Outro ponto polêmico foi como o filme retrata os narcotraficantes. Para o ator Diego Coto, a abordagem revela desconhecimento. “Pode não parecer grande coisa, mas é como fazer um filme nos EUA e confundir o FBI com a CIA”, apontou.
As críticas refletem uma insatisfação generalizada com a produção, que, para muitos, explora uma realidade dolorosa sem o devido respeito e comprometimento.
A escolha do elenco
Outro aspecto controverso de Emília Pérez é a escolha de um elenco predominantemente estrangeiro para interpretar personagens mexicanos. Jacques Audiard justificou sua decisão alegando que não encontrou atrizes adequadas no México, o que intensificou as críticas sobre a falta de representatividade.
Dos seis personagens principais, apenas Adriana Paz é mexicana. Já entre os três papéis de maior destaque, Karla Sofía Gascón é espanhola, enquanto Zoe Saldaña e Selena Gomez são americanas. O que por si só trouxe muitas questões ao fato de o filme ser indicado a melhor filme estrangeiro, sendo que o longa foi filmado completamente em Paris.
Em uma entrevista ao Hollywood Reporter, Audiard disse que visitou o México “três ou quatro vezes”, mas achou que filmar no país em que seu filme se baseia seria limitante.
“Quando os mexicanos lhe dizem que um filme… está retratando um México cheio de estereótipos, ignorância, falta de respeito e está lucrando com uma das mais graves crises humanitárias do mundo”, escreveu o ator mexicano Mauricio Morales em uma declaração no X. “Talvez… apenas talvez, acreditem nos mexicanos”.
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Texto revisado por Cristiane Amarante