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Foto: reprodução/Jorge Bispo

Entrevista | Priscila Sztejnman lança sua primeira plaquete e conta como foi o processo de criação

A atriz, escritora e roteirista conversou com o Entretetizei sobre seu mais novo projeto, Nasceu Menina, e relembra sua trajetória desde os tempos do Tablado

Uma artista nunca é uma artista solo, sempre vem com sua banda a tiracolo. É muito difícil encontrar artistas que façam uma única arte; quando o bichinho da imaginação pica, não tem mais jeito. Pode ser que foi mais ou menos isso que aconteceu com a atriz, roteirista e escritora, Priscila Sztejnman. Ela, que foi inserida nesse meio desde muito cedo, adora projetos que a desafiem. Não à toa, Nasceu Menina, sua primeira plaquete, veio com tudo e um pouco mais.

O Entretetizei bateu um papo saboroso com essa multiartista que encanta a todos com suas palavras e seu talento. Confira nossa conversa:

Entretetizei:  Quem veio primeiro, a Priscila que atua ou a Priscila que escreve?

Priscila Sztejnman: Comecei a fazer teatro no Tablado aos nove anos. Achava estar no palco algo encantador. Comecei a escrever durante as aulas. Escrevi minha primeira peça de esquetes aos dez anos para poder me apresentar na peça de fim de ano. Depois escrevia para atuar junto com meus amigos de turma. Era como se atuar fosse um objetivo e escrever uma meta para alcançar o objetivo. 

E: Como surgiu a ideia da plaquete? Foi uma daquelas catarses, que às vezes ocorre, ou foi algo premeditadamente elaborado? 

P: Surgiu pela necessidade provocada por um convite. A Janela Livraria além de ser uma excelente livraria, faz um trabalho lindo de editar e lançar plaquetes em parceria com a Mapa Lab. São livretos, rápidos de ler e com custo benefício mais acessível que um livro. Participei ano passado do ciclo de leituras de plaquetes como atriz e me perguntaram se eu teria algum texto para publicar como escritora. Eu respondi: “posso ter”. Sentei e escrevi o conto Nasceu Menina. 

Foto: reprodução/Jorge Bispo

E: E quanto ao tema? Os relatos são muito reais e tão pessoais… o quanto da sua vida tem ali?

P: O tema surgiu a partir de uma percepção de como conduzimos temas estruturais na formação sexual das meninas de maneira opressora. Como nossa cultura é habituada a reprimir o desejo e o prazer feminino. Como o corpo feminino é considerado equivocadamente como um assunto de objeto público. Como é perigosa a prática de julgar, acessar, invadir e possuir o corpo feminino. Algumas situações da prosa eu vivi. Mas a maioria veio a partir do meu imaginário enquanto mulher e da continuação de pensamentos e ideias que eu questiono observando o mundo. 

E: Eu li o livro e me identifiquei com algumas partes e em outras a história foi diferente. Assim como eu, muitas outras mulheres podem ter se sentido dessa forma, esse era o seu objetivo inicial? 

P: Meu objetivo era gerar questionamento. Ao final do processo de escrita, percebi que contei a história de uma única mulher, mas que poderia, infelizmente, ser de qualquer mulher. Escolhi usar a segunda pessoa como fio condutor da narrativa para convidar a leitora a sentir tudo que a protagonista vive. Reservei os sentimentos para o público e limitei os personagens aos fatos. É triste e bonito ver como chega o conto nas mulheres. Todos os eventos que participei geraram um diálogo potente ao final, com mulheres compartilhando histórias fortes que viveram. A sensação é que elas precisavam falar e principalmente saber que não estão sozinhas, que infelizmente é pertinente a nós mulheres muitas situações que a protagonista vive. Mas tenho esperança na mudança. E toda transformação começa com a conscientização. 

E: Com 20 anos de carreira e já tendo passado por inúmeros trabalhos diferentes, é a primeira vez que desenvolve um projeto como esse. Deu o mesmo friozinho na barriga?

P: Sim. Esse frio na barriga é uma adrenalina que gosto de sentir. Me faz me sentir viva. São 20 anos atuando textos que profissionais que admiro muito escreveram, e escrevendo textos que profissionais que admiro tanto atuam. Nasceu Menina é a primeira vez que me aventuro na prosa e que eu mesma estou sendo a voz das minhas palavras. Ler meu conto nos eventos literários que estou participando está me emocionando bastante. Sempre escrevi roteiro de novela, minissérie, programa, filme, peça e desde que acabou meu contrato exclusivo de autora por 13 anos com a Globo, quis me provocar em escrever literatura. Desejo que seja a primeira de inúmeras próximas experiências e sentir frio na barriga abrindo novas portas. 

E: O que fez escolher a prosa para esse projeto?

P: O desafio. Nesse formato de plaquetes, tudo era possível. Escrever diálogo, poesia, esquetes… Eu quis escrever um conto em prosa para me provocar na síntese de uma história única com começo, meio e fim. E escrever um drama adulto como gênero de ficção. Escolhi fazer o que nunca havia feito antes. Experimentar o novo. 

Foto: reprodução/Jorge Bispo

E: Já chegou a pensar em uma ideia para um livro, algo mais longo e tão intenso quanto este?

Muitas leitoras me perguntaram se eu não tenho vontade de desenvolver mais esse conto em um possível livro. É uma possibilidade. Eu preciso abrir essa janela de tempo na minha vida para experimentar se essa história tem estofo para um romance. Acho que só vou saber sentando e suando no computador. 

E: Você é daquelas que podemos chamar de multiartista, tem o dom para tocar em diversos lugares diferentes. Pensa em se aventurar por mais algum lugar em que nunca esteve?

P: Eu adoro um desafio. É uma energia que me move. Sou destemida em arriscar no que acredito ter potencial de expressão artística. Acredito que se me emociona, tem chance de também emocionar o outro. Sempre tenho vontade de me aventurar em lugares novos. Isso me motiva artisticamente. Sinto muito prazer na criação e principalmente na realização. Colocar uma ideia no mundo me satisfaz. 

Esse ano, por exemplo, comecei a trabalhar fazendo curadoria artística, ofício que nunca tinha feito e estou adorando. Sinto que desde que seja alguma vertente no universo artístico, eu fluo bem. É um lugar que eu me sinto confortável, feliz e relevante no mundo. 

E: Quais conselhos daria para as pessoas que sonham em seguir os mesmos passos que você? 

P: Acho que cada um tem que experimentar os seus próprios passos. Únicos. E principalmente, começar. Acredito que existam inspirações, mas cada um tem a sua trajetória; cada um vai construir o seu caminho, caminhando. O movimento é fundamental. Sair do mundo das ideias e ir para a prática. Não adianta se comparar, você nunca vai sentir tudo que o outro sentiu para estar onde está.  Melhor se entender, se conhecer, estudar sempre e muito. Você nunca vai controlar o resultado, mas pode controlar o quanto você vai se dedicar para que o movimento aconteça.

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Texto revisado por Angela Maziero Santana

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