Reinterpretando Zelda Fitzgerald: um guia

Uma doente mental impossível de lidar ou uma mulher talentosa reprimida por um marido controlador? Temos um guia para te ajudar a chegar as suas conclusões

Zelda Fitzgerald é conhecida por muitas façanhas. Nenhuma delas se compara a ter sido esposa de F. Scott Fitzgerald, considerado até hoje um dos maiores romancistas norte-americanos. Esta é também, a coisa menos interessante sobre ela. Durante sua vida, foi pintora, bailarina e também escritora. 

Desde os anos 1970, tem tido grande interesse em reinterpretar sua obra e o modo como Zelda é caracterizada. Se você já leu Paris é uma Festa (1964) de Ernest Hemingway ou o filme Meia Noite em Paris (2011), têm a visão mais comum pela qual ela é retratada: uma mulher desequilibrada, fútil, impulsiva, festeira e sem talento.

O que pretendemos oferecer é um pequeno guia para que seja possível investigar sobre Zelda com fontes diversas, em busca de compreendê-la por si mesmo. Desta forma, vamos apresentar alternativas aos textos de Scott, que contribuíram para a imagem que temos hoje de sua musa. O escritor admitia publicamente que a representava nos papéis femininos, como uma semi-biografia da vida do casal.

O outro lado da história

Recentemente, várias releituras surgiram, incentivadas pelo movimento feminista. É importante ressaltar que Zelda foi uma das flappers, mulheres de 1920 com pensamento independente e atitude não convencional. O próprio Scott a batizou de “a primeira flapper americana”. 

Antes de casada, era considerada rebelde: não usava espartilho e costumava beber e fumar em público, o que chocava um Estados Unidos sulista conservador. Muito havia nessa mulher que como muitas outras, entrou para a história como sombra de um homem que se destacou na sociedade. 

No caso de Zelda, o modo como ela é conhecida também foi consequência do seu status de musa de Scott, aparecendo, principalmente, envolvida em um casamento decadente, tema comum de suas obras. Assim, a narrativa pelo ponto de vista masculino tomou o controle sobre como esta artista é lembrada ainda hoje.

Exatamente por isso, releituras sobre essa mulher complexa são tão importantes. Ainda mais hoje que temos outras informações para preencher as lacunas. Por exemplo, Scott se apropriou de cartas e diários de Zelda para escrever seus livros, copiando trechos inteiros. Ao contrário da mulher invejosa do talento do marido, há uma linha de pensamento divergente que defende que Scott a impedia de prosperar artisticamente, barrando inúmeras oportunidades e a desencorajando.

A visão dominante que ainda temos hoje dos Fitzgeralds como um casal de celebridades da Era do Jazz, regados a bebidas e um sucesso precoce, é apenas uma parte da história. Seu final foi tão trágico como algo tirado da ficção: Scott faleceu em 1940 alcoólatra, falido e esquecido, enquanto Zelda morreu oito anos depois em um incêndio no hospital que estava internada, devido a problemas mentais. Hoje também se desconfia da veracidade deste diagnóstico.

Entretanto, esta não é uma matéria para defender Zelda ou fazer uma releitura sobre sua história, desta já existem muitas. De fato, o que se passou entre os Fitzgerald ainda é muito especulação, é difícil separar o fato do que se tornou um mito. Esta é uma das razões pela qual o casal permanece em nosso imaginário. É mais um desses mistérios que podemos não desvendar… Mas como é divertido tentar.

Nosso objetivo é apresentar a quem lê meios de tirar a sua própria conclusão sobre essa mulher que no mínimo pode ser considerada polêmica. O que apresentamos a seguir é um guia para os curiosos se aventurarem a participar do movimento de releituras de obras femininas e fomentar discussões de forma plural sobre Zelda.

Interprete você mesmo

  • Esta Valsa é Minha (1932) – Zelda Fitzgerald

Ninguém melhor que a própria Zelda para falar de si mesma. Seu único romance foi escrito em seis semanas, enquanto estava internada no hospital. No livro, ela usa da personagem Alabama Knight para contar sua história. Os acontecimentos em comum com sua vida são vários. Durante anos, o livro foi mal recebido e visto como uma versão alternativa de Suave é a Noite (1934) de Scott, ambos com temas em comum. Hoje ele avança como mérito em si mesmo, com a voz de Zelda tomando o controle de sua vida e narrativa.

Capa do livro
Foto: Amazon
  • Z: O começo de tudo (2015)

A fascinante história de Zelda é contada nessa série da Amazon de apenas uma temporada, estrelada por Christina Ricci. Baseado no livro Z: um romance sobre Zelda Fitzgerald (2013), de Therese Anne Fowler, temos a oportunidade de conhecer a flapper desde sua juventude no Alabama até os primeiros anos do casamento.

  • Zelda: A biografia (1970)

O livro de Nancy Milford é o resultado de anos de pesquisas e entrevistas que buscam desvendar a personalidade de Zelda, seu talento artístico e o colapso. Esta é a primeira obra a lidar com as nuances de sua vida conturbada e conflitos referentes a sua posição como esposa e mãe. A obra também aborda os problemas psicológicos e faz uma análise de sua obra literária. Para quem quer um olhar detalhado e profundo, o livro é uma oportunidade completa.

Capa do livro
Foto: Amazon

Afinal, qual sua opinião sobre a Zelda? Entre nas redes sociais do EntretetizeiInsta, Face e Twitter – e conte para a gente suas impressões e conclusões sobre ela.

 

*Crédito da foto de destaque: Domestika

 

 

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