Resenha | A Guerra da Papoula é um intenso embate entre o poder e a crueldade humana

O primeiro volume da trilogia A Guerra da Papoula, vencedora do Astounding Award, uma das principais premiações de livros de ficção científica e fantasia, introduz um universo extremamente bem construído

 

Se você acompanha as principais tendências literárias, já deve ter ouvido o título A Guerra da Papoula ser citado por aí. O livro escrito por R. F. Kuang e publicado pela Intrínseca, tem inspiração na Segunda Guerra Sino-Japonesa, na história militar da China no século XX e na chegada de Mao Tsé-Tung ao poder, para construir um enredo bem costurado, repleto de reviravoltas e sentimentos.

Foto: divulgação/Instagram @kuangrf

 

É impossível não se comover com a brutal jornada de Rin na tentativa de salvar seu país das destruições da guerra. O bom desenvolvimento e riqueza de detalhes são características dessa leitura, uma fantasia considerada pela revista Time como uma das melhores de todos os tempos.

 

Foto: divulgação/Intrínseca

Sobre a obra

Essa história começa nos apresentando a jovem Fang Runin e a série de acontecimentos que mudaram sua vida para sempre.

Após ser obrigada a se casar com um homem desprezível, Rin decide fugir do futuro que não desejava para si, estudando horas e mais horas para prestar o exame imperial, que pode lhe garantir uma vaga na academia militar de Sinegard, para se ver livre daquela situação.

Quando finalmente consegue atingir o objetivo, torna-se alvo de preconceito dos alunos e professores, por ser órfã de guerra, pobre e de pele escura. Apesar disso, a garota não desiste de lutar e treina todos os dias.

 

Foto: divulgação/Intrínseca

 

Anos atrás, no coração do Império Nikara, a guerra fez que uma Trindade que caminhava entre os deuses unissem a nação contra a inescrupulosa Federação de Mugen e seus atos cruéis. Décadas se passaram e a paz reinou, mas conforme boatos de que a Terceira Guerra da Papoula estava chegando, os alunos ficaram ainda mais apreensivos.

Recebendo a ajuda e as orientações de seu mestre, ela passa a estudar principalmente os poderes xamânicos e como acessar sua deusa, a vingativa Fênix. Ao longo dos dias, mais e mais obstáculos surgem, assim como Rin também percebe que a magnitude daquele poder pode fazê-la perder sua humanidade para sempre.

Agora, para salvar sua nação dos horrores da guerra, ela precisará fazer uma escolha.

 

A Guerra da Papoula

Foto: divulgação/Instagram @intrinseca

A forma dedicada como R. F. Kuang constrói cada pedacinho da história torna A Guerra da Papoula uma obra sem furos de roteiro ou eventos desamarrados uns dos outros. Além disso, outro grande destaque fica para a maestria no desenvolvimento dos personagens, equivalente a uma evolução que, muitas vezes, só é trabalhada nesse nível em alguns livros após vários volumes, o que não é o caso desse. Um exemplo é a protagonista, que conhecemos com certas atitudes e pensamentos no início, e, ao longo do livro, notamos o quanto vão mudando, evoluindo diversas vezes.

A riqueza histórica e cultural deixa o livro completo. A autora consegue descrever os fatos de forma dinâmica, sem cair em páginas arrastadas ou situações que apenas tapam buraco. Pelo contrário, o primeiro volume dessa trilogia tem cenas marcantes do começo ao fim.

Vestimentas, gestos e expressões são descritas de maneira habilidosa, o que eleva a capacidade de imaginação da cena. Um recurso bastante usado durante o livro é descrever o que os olhos dos personagens tentam transpassar. É uma técnica que funciona, já que os olhos conseguem ser a janela da alma de cada um, e conseguimos imaginar ainda mais cada sentimento.

Cenas de ação bem planejadas tornam as batalhas bem narradas, e a autora consegue trazer para a história toda a dor sentida por um povo, sua indignação e raiva, abordando o quão grande pode se tornar a violência, se não detida. E, por falar em violência, é importante destacar que o livro contém aviso de gatilhos, por isso, confira antes de começar sua leitura, já que muitas cenas têm descrições bastante gráficas. Os elementos fantásticos são descritos com precisão e criatividade, o que dá o toque de magia ao enredo.

As responsabilidades de controlar um enorme poder, a importância de se amar do jeito que é, sem a vergonha de ser diferente, a importância das amizades que fazemos ao longo da vida, são alguns dos fatos trazidos entre as páginas.

Com diálogos importantes e bem feitos, os personagens interagem e constroem ligações cada vez mais fortes. Alguns dos melhores são protagonizados entre Rin e os membros do Cike, ela e Kitay e, ainda, com seu mestre Jiang.

Uma protagonista forte, destemida e inspiradora, que cresce junto à pessoa leitora e a leva na direção dos acontecimentos imprevisíveis, que sempre conseguem surpreender, mesmo que tenhamos de fazer teorias para tentar adivinhar o que vem em seguida. A Guerra da Papoula é um livro impactante, necessário e com uma escrita de excelente qualidade.

 

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*Crédito da foto de destaque: divulgação/Intrínseca

 

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