Resenha | A Metade Perdida: um exercício de empatia

Livro de Brit Bennett desenvolve-se em torno da discussão do racismo e trata de temas como transsexualidade e bullying

 

A Metade Perdida, obra de Brit Bennett, é o livro perfeito para fazer você calçar os sapatos de outra pessoa, como dizem os estadunidenses. No português brasileiro, colocar-se no lugar do outro. A história, que se passa nos Estados Unidos nas décadas de 60 a 80, desenvolve-se em torno da temática do racismo. A narrativa fala sobre o impacto do preconceito racial em todos os aspectos das vidas das pessoas pretas. Além disso, fala da forma como ele molda as oportunidades e situações pelas quais as pessoas passavam – e ainda passam – nos Estados Unidos. Isso porque a época retratada é a da segregação legalizada baseada na cor da pele.

Foto: Kirkus Reviews

O livro gira em torno da família Vignes, composta por duas metades: as irmãs Vignes. Nascidas em uma pequena cidade marcada pela busca pelo embranquecimento, as gêmeas decidem fugir para Nova Orleans. Porém, as metades perdem-se uma da outra pouco depois da mudança. Isso marca um futuro completamente oposto entre as duas. Stella decide passar a vida fingindo ser branca, por ser uma preta de pele clara. Desiree, no entanto, casa-se com um homem negro. Além disso, o tom da pele dele é ainda mais intenso do que o dela, e tem uma filha, Jude, com o mesmo tom de pele do pai. A partir daí, vemos o desenvolvimento de tais experiências tão opostas.

Homem preto retinto
Foto: Sim à Igualdade Racial

 

A importância desta leitura no combate ao racismo

 

Com isso, a Metade Perdida e suas protagonistas pretas fazem os brancos, como a autora desta matéria, verem o mundo pelos olhos de pessoas pretas. Com a leitura do livro, fazemos um exercício para compreendermos um pouquinho os pensamentos, sentimentos e experiências pelas quais a população negra passa. Isso inclui os que talvez nem façamos ideia de que existam antes da leitura! A obra de Bennett é a definição de lugar de fala. Ela mostra como brancos nem imaginam o que é ser preto. Por essa razão, devemos ouvir quem sofre com o racismo e não silenciá-los quando relatarem suas experiências. 

 

Lugar de fala 

 

Diante disso, somos apresentados à visão de mundo diferenciada de cada personagem principal da história (as gêmeas, a filha de Desiree, etc.). Isso amplia nossa compreensão da negritude de pele clara – a ponto de ser confundida com a branquitude – até a da negritude bem mais retinta. Nesse quesito das vivências, outro ponto importante é o quanto o livro nos mostra que todos têm seus sofrimentos e alegrias.

Diante da temática do colorismo, apresentada no enredo, outro ponto tratado é o bullying sofrido por Jude, a filha de Desiree. Tais experiências impactam sua autoestima até a vida adulta em vários aspectos. Um deles é seu relacionamento com seu namorado, um homem preto e trans (outro tema abordado na história).

 

Perfeito, sensacional; o único defeito é que queremos mais!

 

Contudo, nessa troca de pontos de vista e de décadas, a história termina não se aprofundando em certos trechos do enredo. No início do livro, ficamos íntimos da história de Desiree e seu interesse amoroso. A partir da metade, Desiree praticamente some. A metade perdida! (Além de redatora, piadista).

Mas, sinceramente, esse é o único ponto fraco no qual consegui pensar. Não deixe essa chance passar! Leia esse livro que, por tudo o que já foi dito, é muito necessário nos dias atuais. 

 

Quais outros livros escritos por pretos você acha sensacionais? Conta pra gente no Face, Insta e Twitter do Entretetizei.

 

* Crédito da foto de destaque: Intrínseca

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