A série acerta no roteiro misturando folclore e pautas sociais, mas se envolve em debate sobre apropriação cultural
Cidade Invisível (2021) é a nova série brasileira original da Netflix que está dando o que falar, tanto no Brasil quanto internacionalmente, e já está no Top 10 da Netflix de vários países.
A produção de fantasia é dirigida por Júlia Pacheco Jordão (Samantha!, Julie e os Fantasmas) e Luis Carone (Antônia, Pico da Neblina) com um roteiro de Carlos Saldanha (A Era do Gelo, Rio, O Touro Ferdinando), Carolina Munhóz (O Escolhido), Raphael Draccon (O Escolhido) e Mirna Nogueira (Meus 15 Anos, Detetives do Prédio Azul: O Filme).
O seriado aborda o policial ambiental Eric (Marco Pigossi) que, consternado com a morte de sua esposa Gabriela (Julia Konrad), começa a investigar as circunstancias misteriosas ao redor do aparente assassinato. Ao longo da trama, ele vai se deparando com lapsos de memória e tendo cada vez mais contato com seres do nosso folclore brasileiro no meio do Rio de Janeiro. A filha do casal, Luna (Manuela Dieguez), também começa a ter comportamentos fora do comum que começam a preocupar sua família.
Integram o elenco, também, a veterana Alessandra Negrini, além de Fábio Lago, Áurea Maranhão, Jessica Cores, Jimmy London, José Dumont, Rafael Sieg, Rubens Caribé, Samuel de Assis, Tainá Medina, Thaia Perez, Victor Sparapane e Wesley Guimarães.
Depois de muitos anos assistindo e cultuando produções gringas trazendo as mais diversas mitologias (grega, egípcia, indiana, nórdica…), os brasileiros tem uma para chamar de sua, pelo menos uma produção adulta, já que todos nós ainda lembramos de O Sítio do Pica-pau Amarelo. Cidade Invisível traz o folclore clássico que todos conhecem desde a infância: Saci Pererê, Curupira, Iara, Cuca, Boto Cor-de-Rosa, entre outros.
A forma como os personagens são introduzidos traz aquele gancho de mistério necessário que te faz maratonar todos os episódios. É uma série que agrada até mesmo quem não gosta de séries com muitos episódios: há apenas sete na primeira temporada.
Além do gancho dos personagens folclóricos, a série também procura trazer pautas de vulnerabilidade social, como os personagens que estão às margens da sociedade, invisíveis à sociedade (como o título sugere) tanto pela suas condições quanto pelo seu folclore, e também ao abordar a desapropriação de terras da fictícia Vila Toré, por uma construtora que planeja construir uma pousada de luxo. Esta parte do roteiro cria uma história ainda mais poderosa e importante.
Porém, apesar de toda a aclamação ao redor da série que já caminha para uma possível confirmação de uma segunda temporada, a série não soou bem para todos, pois se apropria de uma cultura. Cidade Invisível está sendo criticada por ativistas indígenas quanto a falta de atores indígenas nos papéis centrais, além de tornarem a cultura indígena como algo exótico e deturpado na produção. A comunicadora Alice Pataxó mostrou seu ponto de vista no Twitter:
Até quando se trata de nós, somos os últimos a sermos lembrados e procurados, essa poderia ter sido uma oportunidade incrível de indígenas nas telinhas, mas a apropriação virou primeira opção.
— Alice Pataxó🏹 (@alice_pataxo) February 15, 2021
É importante entender que cobrar representatividade e posicionamento antirracista não é apenas quando esse movimento está em alta, todos os dias nossas culturas são usurpadas e incorporadas ao status brasileiro, enquanto nós somos excluídos.
— Alice Pataxó🏹 (@alice_pataxo) February 15, 2021
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*Crédito da foto de destaque: Netflix