Filme de Lúcia Murat aborda conflitos na América Latina e ancestralidade
“É provável que a ficção contenha aqui, mais verdade que os fatos.” A frase dita nos primeiros dois minutos de filme, emolduram a história que nos convida a embarcar junto no projeto de Lúcia Murat, documentarista do cinema nacional.
Stela (Stella Rabelo), uma atriz brasileira entregue a arte, a partir da exposição Mulheres radicais: arte latino-americana, 1960-1985, decide realizar um trabalho sobre cartas trocadas entre artistas plásticas latino-americanas entre os anos 70 e 80. Em meio as cartas, Stela descobre Ana (Roberta Estrela D’Avila), uma jovem brasileira pertencente ao mundo das artes, que está desaparecida.
A curiosidade de Stela diante da cativante figura cujas cartas mencionavam sempre com tanta admiração, nos leva através de uma viagem por nossas raízes latinas, entendendo o papel da mulher e as heranças socio-culturais que permeiam nosso continente.
A américa latina
Brasil. Cuba. Argentina. México. Chile. Todos esses países fazem parte do itinerário da história, com uma fotografia rica em paisagens e arquiteturas que mostram a diversidade de cada país. A viagem em busca de informações e pessoas que soubessem algo sobre Ana, cruza grandes países da América Latina nos colocando frente a frente com a dolorosa história que nos liga.
Ana, sendo a imagem de uma mulher antirracista e combativa a sociedade na década de 70, buscou asilo político em todos esses países, igualmente atingidos por ditaduras e regimes opressivos e totalitários, que resultou em uma peregrinação constante da protagonista.
Assim, indo além da narrativa, o documentário nos apresenta uma aula de história sobre os conflitos políticos que existiram na América Latina e seus reflexos em nossa sociedade até os dias atuais.
Reconhecimento e ancestralidade
A busca por Ana torna-se incessante a partir da dor. Dor de quem sentiu na pele a crueldade da ditadura. Dor de quem perdeu alguém querido para a ditadura. Da dor de quem ainda no século XXI, enfrenta a perversidade do racismo. Da dor, o encontro de três mulheres em busca de uma importante figura feminina, que marcou cada pedaço dos lugares onde percorreu. Mulher, artista, brasileira, negra, Ana.
Quando a história transcende a ficção
A verossimilhança da narrativa é surpreendente. Ana é apenas um personagem, mas retrata a história de milhares de mulheres que também tiveram suas vidas sufocadas e apagadas pelos rastros de ditaduras na América Latina. Ana. Sem titulo dá voz à histórias que até hoje são silenciadas diante do racismo e da sociedade patriarcal na qual estamos inseridos. Como no Slam Sete anos apenas, brilhantemente interpretado na cena final pela atriz Roberta Estrela D’Avila, a história de Ana se liga cotidianamente com a vida e realidade de muitas mulheres. No Brasil, na América Latina e no mundo.
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*Crédito da foto de destaque: Divulgação