Resenha | Manhãs de Setembro, nova série da Amazon Prime, traz narrativas necessárias

Protagonizada pela cantora Liniker, a produção emociona ao abordar assuntos importantes e delicados

Com direção de Luis Pinheiro e Dainara Toffoli, Manhãs de Setembro chegou ao catálogo do streaming Amazon Prime Video na última sexta-feira (25), trazendo aos holofotes tópicos delicados e necessários de uma maneira leve e autêntica. Quando, ao mesmo tempo, traz reflexões que ficam rodando a nossa mente por um bom tempo. Estrelado pela cantora Liniker, a produção inclui um elenco de peso com Paulo Miklos, Karina Teles, Thomás Aquino e o ator mirim Gustavo Coelho.

Foto: Amazon Prime Video/Divulgação

Com cinco episódios de menos de 40 minutos e uma fotografia belíssima da cidade de São Paulo, o original da Amazon conta a história de Cassandra (Liniker), uma mulher trans negra, que deixou sua cidade natal e veio para São Paulo conquistar sua independência e traça seu caminho para ser a mulher que sempre sonhou. O que ela não contava é que a vida lhe traria uma surpresa de 10 anos que a chamava de pai. 

A chegada de seu filho Gersinho (Gustavo Coelho) e sua mãe Leide (Karine Teles) viram o mundo de Cassandra de cabeça para baixo.  A motogirl e cantora havia acabado de conseguir seu apartamento, estava em um relacionamento que a deixava feliz, com Ivaldo (Thomás Aquino), e essa revelação em sua vida se torna um grande obstáculo. Ou como a própria personagem diz: “um pacote que não tenho onde entregar”.

No roteiro, escrito por Josefina Trotta, Alice Marcone e Marcelo Montenegro, essa nova relação na vida de Cassie se desenrola de maneira lenta e natural, sem acontecimentos repentinos. Assim como na vida real, há uma construção do afeto entre a cantora e seu filho que acontece aos poucos. Sendo assim, como espectador, ver como o afeto surge entre os dois, em pequenos gestos ou sorrisos tímidos, nos dá um quentinho no coração. Uma das cenas que mais marcam essa mudança da visão de Cassandra, acontece no terceiro episódio, quando Gersinho ao vê-la cantando Paralelas, de Belchior, pela primeira vez, se encanta e em sequência sai cantarolando. De longe, a sequência mais perfeita da série.

Foto: Reprodução

O desenrolar da trama mostra a autodescoberta de Cassandra enquanto mulher independente e como mãe, utilizando da experiência de Leide, explorando o desafio que é ser uma mãe solteira. O encontro dessas duas narrativas enriquecem todo o enredo de maneira brilhante, ao ponto de que você duela entre sentimentos de empatia e de puro espanto com diversas atitudes e situações que acontecem durante os episódios.

Todos os personagens da série passam por um desenvolvimento muito bem traçado e ganham  visibilidade em momentos muito adequados. Mas aqui, vale destacar a personagem de Gersinho, ele é o acalanto e derrete nosso coração, como no caso da cena em que o menino olha para o seu “pai” e diz: “Você é muito bonita, pai”. É a leveza e a pureza que nos deixam presos em frente a tela.

Para além desse enredo ao redor do descobrimento da personagem Cassie, a série aborda uma situação que muitos brasileiros podem se relacionar, com a rotina de trabalhadores que precisam se desdobrar para ter o mínimo e, muitas vezes, utilizam do conhecido jeitinho brasileiro para conseguir sobreviver. Junto disso, é trazido diversas críticas e debates sociais necessários, em volta do tema de grupos LGBTQIA+, como a transfobia – seja explícita ou em microagressões -, a negação do amor às pessoas transsexuais, mas não só, a série fala sobre as desigualdades tão presentes em nosso país. E de forma muito orgânica, o roteiro deixa pequenas lacunas, que nos deixam ansiosos por uma segunda temporada para compreender como elas serão preenchidas.

Por vezes, é quase possível achar que o que está na nossa tela é um documentário ao invés de uma obra fictícia, pela facilidade com a qual você pode se empatizar com as personagens. Em diversos instantes, é difícil imaginar outra atriz para interpretar Cassandra, além de Liniker.

Foto: Reprodução

Manhãs de Setembro é um soco na boca do estômago, com o roteiro que fala sobre assuntos dolorosos e ácidos, que por muitas vezes ignoramos, mas com acalento e leveza na medida certa, sem suavizar a discussão tão necessária da trama. Caso haja uma segunda temporada, as expectativas são para um roteiro ainda mais maduro e aprofundado nessa história tão rica. 

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*Crédito da foto destaque: Amazon Prime Video/Reprodução

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