Resenha | Monarca: série mexicana aborda escândalos políticos e temas sociais

Produção da Netflix Lationamérica aborda escândalos, temas cruciais para nossa sociedade e escancara o sistema corrupto mexicano numa história incrivelmente real. Conheça Monarca

[Contém Spoiler]

A série mexicana Monarca está disponível em duas temporadas na Netflix e acompanha a história da família Carranza, dona de um império pioneiro no ramo de tequila e influente em todo o país. O sucesso da empresa vem acompanhado de escândalos, segredos e claro, o sistema corrupto mexicano que, caso você não tenha ideia de como funcione, vai entender cada detalhe ao longo da série.

Tudo começa com a morte do patriarca, dono do império Monarca: Fausto Carranza (David Rencoret), um homem que, por natureza, tem um histórico de crimes e corrupção, mas que se arrepende de todo o mal que já causou e, ao tentar limpar a imagem da empresa, acaba sendo traído pela própria família. Os membros da sociedade Monarca começam então a se revoltar e segredos começam a ser revelados.

 

Uma guerra entre familiares foi iniciada

Os irmãos Carranza | Divulgação: Netflix

Com a chegada da única filha da geração Monarca, Ana María Carranza (Irene Azuela), que morava nos Estados Unidos, o clã fica mexido, já que a moça sempre foi a favorita do pai e liderar a empresa era um desejo de todos. Com a morte de Don Fausto, o desejo pelo poder aumenta entre os irmãos e Ana María acaba conseguindo a presidência da empresa. A partir daí, a guerra entre os irmãos é declarada – e a busca por manterem a imagem de “família feliz” fica cada vez mais difícil.

Ana María Carranza | Divulgação: Netflix

Percebemos, com o desenvolver dos episódios, a forte influência da ilegalidade nos negócios do México. Ana María, por exemplo, até tenta gerenciar Monarca na legalidade, mas o próprio sistema mexicano a obriga a tomar decisões nem um pouco limpas. Apesar da mãe prezar pela união entre os irmãos, vemos, a todo momento, os mesmos sabotando uns aos outros, sempre com um objetivo: o poder. Chega a ser bizarro a linha tênue entre a boa imagem que a família passa para a imprensa e a realidade dos fatos, onde nada é perdoado e tudo é motivo para derrubar quem está “acima”.

 

Mulheres se destacando, mesmo em meio à uma sociedade machista

Antes de mais nada, é importante ressaltar a figura feminina nessa série, que, se pensarmos, está em minoria, já que, grande parte da família Carranza é composta por homens. Mas claro, mesmo estando em minoria, as mulheres da série se sobressaem, com alto poder de liderança e personalidades fortes, que se destacam, em meio a um machismo tóxico, presente não somente na produção em si, mas na sociedade como um todo.

Nesse sentido, Ana María consegue a presidência de Monarca por puro mérito e é totalmente capaz de gerenciar a empresa, mas, nas entrelinhas, percebemos como uma mulher em cargos de importância ainda incomoda o patriarcado e quando se trata de México, é ainda pior. Apesar dos erros e tropeços, Ana María se destaca a todo momento, mesmo nos momentos mais difíceis, com seu temperamento forte e determinação, que a faz lutar até o fim pela empresa e por sua felicidade. Bem como Ana María, outra personagem que precisamos destacar é Pilar Ortega (Daniela Schmidt), candidata à Presidência do México – tópico que falaremos a seguir.

Pilar Ortega | Divulgação: Netflix

 

Apesar da forte presença feminina, o famoso “final feliz” não foi alcançado por nenhuma das personagens da história, apenas Sofía (Fernanda Castillo), que só obteve sucesso ao sabotar Ana María. Num geral, o fim da série está mais próximo da realidade do que se talvez tivessem colocado um final feliz para as mulheres, mas claro, sempre esperamos a vitória feminina.

 

Uma eleição fictícia, mas que se compara ao que é vivido na política atual

Do mesmo modo que é tema na vida real, a eleições para Presidência foi outro ponto presente na série e um dos assuntos que geram mais polêmica no México – e no mundo, mas, particularmente falando do país em questão, a inserção da temática em Monarca foi crucial, já que o México é conhecido como uma das políticas mais autoritárias da América Latina. Para quem acompanha a histórica política do país, sabe que lá se vive uma verdadeira ditadura – não é à toa que temos, no mundo do cinema, o filme La Dictadura Perfecta, também disponível na Netflix. 

Um candidato fictício que se compara aos da realidade | Divulgação: Netflix

 

Em Monarca, a família em questão se divide quando Ana María decide apoiar à candidata Pilar Ortega (citada acima), uma mulher feminista, homossexual e independente. Pilar, que tem uma ficha limpa, comparada com seu maior concorrente, quase precisa implorar para conseguir falar e expressar suas opiniões. Em certo momento da série, um beijo entre ela e Ana María é vazado e a mídia transforma a situação em um escândalo, enquanto outros assuntos, bem mais importantes como a corrupção, deveriam ser levados em conta.

A posição de Pilar e Ana María se torna necessária na série, porque, mesmo que no final elas não vençam a batalha, o caminho percorrido para chegarem à posições pouco alcançadas anteriormente por mulheres é extremamente atual e necessário, principalmente para o público refletir sobre suas escolhas políticas para as próximas eleições – inclusive os brasileiros.

Ao passo que a campanha de Pilar nos chama a atenção, assim também ocorre com Jorge Laborde (Daniel Ducoing), o típico candidato que já estamos acostumados a ver por aí: influente, popular e claro, envolvido com o narcotráfico – que entre tapas e beijos, sempre favorece aos ques mais os obedecem. Laborde deixa sua marca na série, principalmente porque, apesar de ser um personagem fictício, poderíamos compará-los com incontáveis candidatos da vida real, de tão factual que o personagem é.

 

O Narcotráfico e seu poder sob a sociedade

O narcotráfico é um tema bastante conhecido quando falamos do México. Para quem acompanha a política mexicana ou produções mais novas do país, certamente sabe que estamos falando de um Estado comandado pelo tráfico de drogas, com regimes autoritários e machistas. Felizmente, produções mais modernas nos ajudam a entender melhor como funciona esse sistema e, como citado mais acima, tudo fica muito claro em Monarca.

Joaquín Carranza, interpretado de forma brilhante por Juan Manuel Bernal, é um homem influente e o primogênito da família. Seu desejo exorbitante pelo controle de Monarca o deixa cego: tudo desmorona quando ele se envolve com o tráfico. Sem perceber, ele vai perdendo o controle de tudo em sua vida, inclusive, o de seus próprios filhos. Acompanhar o desenvolvimento do personagem é contagiante, ao mesmo tempo que enternecedor, pois sua figura representa muito bem a realidade de empresários e políticos mexicanos – que, em sua maioria, acabam não tendo um “final feliz” quando se envolvem com esse sistema desprezível.

Joaquín Carranza | Divulgação: Netflix

 

O lado mais interessante de acompanhar o desenvolvimento desse tema na produção é que conhecemos o lado do empresário, da pessoa de poder e não “apenas” dos narcotraficantes, como acontece na maioria das produções que retratam o narcotráfico. Dessa maneira, entendemos que, em muitos casos, não é o narco que vai atrás do político ou do empresário, mas o contrário.

 

A luta por ser homossexual no méxico: outra realidade abordada na série

Após a queda de Ana María, quem assume Monarca é Andrés Carranza (Osvaldo Benavides), que também se destaca com uma atuação impecável. Andrés é homessexual e vive uma relação muito conhecida na política: é casado com uma mulher, já que precisa fazer uma boa imagem à imprensa e à sociedade e tem casos extraconjugais com homens…. e mulheres. Pode parecer estranho e completamente bizarro, mas é mais comum do que você imagina.

Andrés Carranza | Divulgação: Netflix

 

O caso de Andrés já foi retratado em outras produções de sucesso no México e vem como mais uma crítica ao sistema político mexicano, repleta de políticos que vivem quase como uma vida dupla: mostram uma história para a mídia e seus espectadores, e outra completamente diferente para quem vê a realidade. Coincidência ou não, sentimos junto a Andrés o sofrimento de ser negligenciado por sua família, que, apesar de declarar que tudo é feito PELA família, se mostra apenas interessada na boa imagem e no status.

Ao terminar as duas temporadas de Monarca, o espectador se depara com uma produção que não somente revela a realidade da política mexicana, como também faz duras críticas ao sistema, através dos acontecimentos de seu enredo. Sistema esse que pode ser comparado a outros espalhados pelo mundo, como o Brasil. Fica muito clara a influência do narcotráfico e da política nos negócios, na vida em sociedade e nas escolhas de cada um, que, em sua maioria, só consegue crescer ou ter sucesso com a “ajuda” desses meios.

Infelizmente, a série acaba de ser cancelada pela Netflix, o que deixou os próprios atores surpresos, já que havia mais história para se contar e certamente muitos pontos para criticar. Apesar disso, a produção certamente não será esquecida e ficará como um legado, um presente a todos os que querem – e devem – conhecer a realidade de um povo repleto de cultura, mas manchado pela impunidade e pelo crime organizado. Além de objetiva, a série vem como uma oportunidade de conhecermos um pouco mais da política latino-americana e deixa no ar críticas que deveríamos questionar todos os dias de nossas vidas.

 

E você? Já conhece Monarca? O que achou da série e qual outro título você recomenda pra gente? Responda lá nas redes sociais do Entretetizei – Insta, Face e Twitter – e até a próxima!

 

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*Crédito da foto de destaque: Divulgação / FilmAffinity

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