Querido Evan Hansen, adaptação do musical da Broadway de 2016, chega aos cinemas hoje (11)
Partindo da premissa de ampla disseminação dos musicais da Broadway, Querido Evan Hansen se junta ao já lançado Em Um Bairro de Nova York e ao futuro Wicked e chega às telas dos cinemas de todo o mundo. Na adaptação cinematográfica, Ben Platt reprisa seu papel dos palcos como Evan, performance que garantiu um Tony Awards ao ator e cantor de 28 anos.
Aqui acompanhamos a adolescência pra lá de conturbada de Evan Hansen, um jovem que enfrenta algumas doenças emocionais, como depressão e ansiedade. Tais transtornos afetam diretamente sua vida social, levando-o a um completo isolamento e a um constante medo de socialização. Quando um de seus colegas comete suicídio, Evan se vê no meio de um mal entendido que gera a falsa impressão de que os dois eram melhores amigos, mentira que acaba sendo alimentada conforme o protagonista ganha atenção das pessoas e passa a ter um certo grupo de amigos.
No meio de diversos atos musicais, o filme nos introduz a assuntos de extrema importância no que tange a questão de saúde mental, principalmente durante a transição da infância para a fase adulta. Apresentando brutas consequências, como o suicídio, a produção consegue focar nas batalhas diárias de quem convive com essas questões psicológicas e como o mundo ao redor lida e como deveria lidar com esses assuntos.
Elenco
Como já dito anteriormente, Ben Platt (The Politician) reprisou seu papel da Broadway nesse filme e, por isso, interpretou o jovem Evan, de aproximadamente 17 anos. Esse foi um fator que gerou dúvidas no público, que considerou o ator de 28 anos velho para o papel. Platt afirmou que o filme dificilmente seria feito sem a sua presença, já que ele eternizou o personagem com sua atuação nos palcos e com o desenvolvimento em workshops por três anos.
Por outro lado, a atuação de Amandla Stenberg (O Ódio que Você Semeia) e Nik Dodani foram pontos altos do musical, recebendo críticas positivas. Amandla interpreta Alana, a representante e oradora da turma, conhecida por fazer parte de diversos grupos e estar sempre entrosada nas atividades estudantis. Porém, o destaque veio com a construção de camadas da personagem, que apesar de toda sua participação social, enfrenta ansiedade, travando pequenas batalhas diariamente para não deixar transparecer a realidade que ela vive.
Dodani pode ser considerado o alívio cômico de Querido Evan Hansen, sendo uma risada garantida em todas as cenas que aparece. O ator de Atypical interpreta o único amigo do protagonista, mesmo que aparentemente eles só sejam conhecidos de família e o ajuda quando Evan se envolve na mentira sobre Connor (Colton Ryan), o garoto que se suicidou.
Um grupo que merece uma menção honrosa é o dos atores que interpretam os pais, composto por Amy Adams, Julianne Moore e Danny Pino. Os três conseguiram transmitir toda a emoção da trágica morte de Connor e das dificuldades enfrentadas com Evan com maestria, contando inclusive com números musicais. Nesse quesito, Moore, que atuou como mãe do personagem de Platt, recebeu um solo incrivelmente real sobre criar um filho sozinha, chamado So Big/ So Small.
Atos Musicais
Obviamente, por se tratar de um musical adaptado da Broadway, Querido Evan Hansen não deixa a desejar nas cenas musicais, englobando quase todo o elenco e sempre transmitindo os pensamentos dos personagens. A maioria das músicas são versões das originais do teatro, como as icônicas Waving Through A Window e Sincerely, Me, a última sendo uma das canções mais animadas e que garante um momento mais leve e engraçado, com direito a mudanças de cenário.
Em relação às músicas feitas especialmente para o filme, damos destaque à The Anonymous Ones, interpretada por Amandla Stenberg e com uma versão pop cantada por SZA. Na letra, Alana (Stenberg) narra a vida de alguém que mantém em segredo a dificuldade de viver com transtornos emocionais, sempre se escondendo na multidão e fingindo que está tudo bem, mesmo que não estivesse.
Além disso, You Will Be Found tem uma versão com Sam Smith e Summer Walker, enquanto no filme temos um ato com diversos personagens cantando um trecho ao falar sobre nunca estar sozinho e sobre o apoio que as pessoas ao redor podem dar.
A trilha sonora ainda conta com Carrie Underwood, Dan + Shay, FINNEAS e Tory Kelly.
A saúde mental através de Evan Hansen (e todos os outros personagens)
A produção consegue retratar com exatidão diversas questões sobre saúde mental, com destaque para os sintomas de ansiedade social. Evan, ao tentar falar com as pessoas, começa a suar as mãos, sintoma que aumenta conforme ele pensa nisso, e sempre se preocupa ao extremo com coisas pequenas do convívio social, como a saudação perfeita. Pensando neste tópico, Alana é a representação perfeita da maioria das pessoas, que sofrem em silêncio, procurando ajuda médica mas sem deixar que as pessoas percebam algo diferente do que é considerado normal.
A confusão principal do filme é mantida por um desejo de Evan de se enquadrar em algum grupo e ser querido, por isso, o desenvolvimento do personagem é claro e mostra a importância de ter alguém por perto, para te ajudar e te amparar. Podemos ver essa “mentira” como uma terapia para ele e até para a família de Connor, que o adotam como filho, para conseguirem superar o luto.
Por cumprir seu papel de representação da realidade, o filme acaba sendo bem triste, mas necessário para levantar discussões e evitar que pessoas ao seu redor acabem tomando decisões irreversíveis.
Crítica
O filme entrega exatamente o que anunciava no trailer, muita música permeando uma situação triste, ao mesmo tempo em que explora assuntos importantes, como depressão e suicídio. Nesse último tópico, temos uma abordagem mais leve, mesmo tendo essas questões como gatilhos para todas as situações.
Dois principais problemas vem com a contratação de atores mais velhos representando adolescentes, uma prática comum no mundo cinematográfico, mas que prejudica de uma forma ou de outra a experiência com o filme. Outro ponto a ser discutido é a angustiante trajetória de Evan com a sua mentira, gerando um constante medo de que o jovem tenha o mesmo destino cruel de Connor e torcendo para que a situação nunca fosse totalmente esclarecida.
Apesar de gerar conversas acerca de saúde mental, a produção deve ser vista com uma certa moderação e o telespectador deve atentar-se aos seus gatilhos, já que a história pode atingir cada um de uma forma diferente. No final, chegamos a um ponto que quase todos os personagens que estavam do lado do protagonista o abandonam, dando a impressão de que ele está sozinho nessa jornada e que deve seguir com sua vida normalmente, quase que desconsiderando tudo o que foi vivido.
As músicas não falham em seu propósito de transmitir os pensamentos mais profundos dos personagens e, por isso, vale destacar Requiem, interpretada pela família do Connor (Amy Adams, Danny Pino e Kaitlyn Dever) e mostrando como cada um está lidando com o luto e como cada um via o ente falecido, e You Will Be Found, com quase todo o elenco jovem do filme.
Querido Evan Hansen chega aos cinemas do Brasil hoje (11).
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*Créditos da foto de destaquue: Divulgação/ Universal Pictures