Foto: Divulgação/SDCC

SDCC | As mulheres por trás dos projetos para TV e cinema

Conheça as mentes brilhantes que fazem parte da produção de séries de sucesso das telinhas e como elas usam seu poder para transformar o mundo do entretenimento em um painel exclusivo na SDCC

Antes de começar a escrever sobre o painel The Women Behind Film/TV Projects (As Mulheres por trás dos Projetos para TV/Filmes, na tradução literal) que aconteceu hoje (24), na SDCC, gostaria de fazer um teste com você. Feche os olhos e pense na sua série/filme/novela favorita? Agora me responda: você sabe quem produz?

Geralmente, quando falamos de grandes sucessos como Liga da Justiça, produzido por Zack Snyder, ou qualquer filme da Marvel, produzido pelos irmãos Russo, vemos que por trás das câmeras tem algum diretor, roteirista ou produtor homem, certo? Bom, errado! As mulheres estão conquistando espaço em um mundo majoritariamente masculino. Cada vez mais é possível ver que a mente brilhante por trás de grandes sucessos é do sexo feminino e como elas tiram de letra a tarefa de trazer mais inclusão, diversidade e empoderamento para dentro da indústria.

Pensando nisso, a San Diego Comic Con e o 2nd Annual Hollywood Game Changers trouxeram para o painel desse ano cinco mulheres que são produtoras, roteiristas, designers, diretoras  e supervisoras de diversos sucessos das telinhas para falar exatamente como é ser mulher, trabalhar e ser a mente por trás de tantas cenas incríveis que vemos. Apresentado por Joy Donnell, co-fundadora do Center for Intersectional Media Enterteinment, o painel contou com a presença de Mairzee Almas, diretora dos episódios cinco e seis da série de sucesso Shadow and Bone, da Netflix; Jeriana San Juan, figurinista da série original Netflix, Halston; Macy Schmidt, orquestradora e diretora musical de Ratatouille: The TikTok Musical; Jennifer Smith, supervisora musical da série Why Women Kill e Deadly Illusions; e Monica Sotto, designer de produção da série de comédia Drunk History.

Foto: Captura de tela

Logo no início do painel, elas começam falando um pouco sobre seus respectivos trabalhos e como é ser mulher dentro da indústria holywoodiana.

Essa é uma pergunta complexa. Eu posso falar apenas da minha própria experiência. Ser uma mulher dentro dessa indústria, e da minha indústria em particular que é figurinista, não é tão raro. O que eu encontro pela minha experiência é que não existe uma grande representatividade de mulheres latinas, negras, asiáticas“, comenta Jeriana San Juan, figurinista da série original Netflix, Halston. “Honestamente, essa parte sempre foi meio assustadora. Digo, sempre foi assustadora pra mim porque nunca existiu ninguém que eu realmente conseguisse me identificar dentro desse negócio. Muitas mulheres sim, com certeza, mas particularmente dentro do mundo das figurinistas têm uma camaradagem   entre elas de um jeito muito único. Mas acho que a gente se conecta mais como pessoas criativas e isso é algo que eu sempre senti como se minha voz é facilmente ignorada como figurinista porque eu tenho minha própria experiência com script que eu divido com os diretores primeiramente, mas quando você tá na mesa (de leitura de script), é legal você fazer com que seja ouvida porque você está lá por uma razão e, como mulher, eu acho que às vezes, talvez sejamos treinadas para não fazer isso, mas tudo é uma colaboração dentro da indústria.”, finaliza.

Foto: Divulgação/Instagram: Jeriana San Juan

Acho que na minha área em particular, as mulheres são bem menos representadas. Digo, eu lembro de crescer indo para os shows na Broadway e eu sempre abria o programa e via toda a lista de nomes e ver quem ganhava os créditos e acho que nunca foi surpresa que, tantos anos depois, eu não tenha mentoras femininas na minha área“, comenta Macy Schmidt, diretora musical de Ratatouille: The TikTok Musical. “Nos últimos dez anos na Broadway, temos apenas uma orquestradora mulher em um show em algum momento e não tem nenhuma mulher negra fazendo esse trabalho. Sim, eu acho que, de um lado, nunca foi mais um momento mais equitativo na história do show business para ser uma mulher nessa indústria, mas, ao mesmo tempo, eu penso muito sobre como eu torço para que a próxima geração de mulheres que estão fazendo esse trabalho que nós fazemos não tenha as mesmas respostas que temos agora em painéis iguais a esse. Ser uma mulher dentro dessa indústria, para mim, é boa parte pensar que o que estamos fazendo está mudando o cenário para a próxima geração de mulheres e um pouco disso é realizado apenas por ter mulheres alcançando novos patamares de sucesso“, finaliza.

Foto: Divulgação/Instagram: Macy Schmidt

O que Macy fala sobre os programas de shows da Broadway é algo que dá pra ser visto em quase todos os cenários dos do mundo do entretenimento. Não existem muitas mulheres sendo citadas em cargos efetivos. Maizree Almas, diretora de Shadow and Bone, respondeu que espera que, “com o tempo, esses painéis não aconteçam mais e que sejam irrelevantes no futuro, mais ou menos como perguntar o que você acha de ser morena dentro da empresa em que trabalha“. Ontem (23), a SDCC teve um dia com painéis recheados de mulheres do alto escalão de Hollywood conversando sobre seus trabalhos, sobre a inclusão de mais personagens femininos e a sexualização delas nas telas. Você pode conferir tudo o que foi falado clicando aqui.

Joy Donnell continuou o painel perguntando qual foi o momento mais marcante da carreira das entrevistadas, dentro da própria jornada pessoal, que elas sentiram que elas estavam no lugar certo. Macy respondeu primeiro.

Sabe, eu nunca pensei que fosse responder isso nesse tipo de pergunta, mas a pandemia, com certeza, foi um momento marcante na minha carreira pessoal“, diz. “Eu fiquei andando em círculos, trabalhando em grandes shows em que me senti sortuda por trabalhar, servindo às visões das outras pessoas, e foi só quando eu tive aquele espaço que eu percebi que eu não tinha criado nada que fosse meu e isso meio que “os grandões que estão na mesa nem sempre vão abrir espaço pra gente“. E eu fiquei pensando que dentro da indústria tem essa escada e eu vou trabalhar muito para subí-la e é até meio brega, mas construa sua própria escada e sua própria mesa, sabe? Eu fiz muito isso já e acabei andando em círculos, trabalhando para as outras pessoas, para os sonhos delas. Eu, finalmente, comecei a aprender a construir minha própria escada. Eu fundei uma orquestra majoritariamente feminina e negra e consegui financiamento para continuar com o projeto e lancei durante a pandemia. Isso se tornou uma grande parte da minha vida. O momento mais marcante pra mim foi entender que os sistemas e escadas existentes não foram feitos para que mulheres e pessoas pretas tenham sucesso“, finaliza.

Joy, então, perguntou sobre os trabalhos individuais de cada uma, o que elas estão fazendo ultimamente durante esse período criativo para chacoalhar o sistema. Para Mairzee, que é diretora de Shadow and Bone, Joy perguntou como foi dirigir a série e qual o foi a abordagem que ela utilizou para contar a história nas cenas em que os personagens tiveram momentos íntimos.

Historicamente, as mulheres têm sido usadas como dispositivos de enredo e, geralmente, elas são bastante objetificadas e em Shadow and Bone esse não é o caso. Claro que nossa personagem principal, Alina, tem muita influência e era muito importante para mim, como diretora, e também com um elenco e público tão jovem, certificar que nosso personagem tivesse influência como indivíduo e também fazendo escolhas e sentindo as consequências delas. E também a noção de consenso estava muito clara e, frequentemente, fazíamos um teste em que pensávamos “se trocássemos nossos personagens femininos pelos masculinos, eles continuariam em pé?”, ou seja, se você diz que o personagem masculino não é tão ativo, então você tem que dizer isso sobre os personagens femininos também“, comenta.

Foto: Divulgação/Website: Mairzee Almas

Joy segue a entrevista falando com Monica Sotto, designer de produção da série de comédia Drunk History. Monica foi indicada para um Emmy no ano passado por sua atuação em Drunk History e Joy reitera que ela poderia estar trabalhando com qualquer época, em qualquer hora. Joy complementa dizendo que acha que precisa de muita pesquisa, interpretação e reinterpretação histórica. Ela, então, pede para Mônica contar um pouco sobre esse trabalho.

É realmente desafiador para todo mundo porque apenas dar uma ideia para todos é meio que, veja, são 14 páginas de script e nós podemos ter, mais ou menos, 15 sets para esse parâmetro de script e nós filmamos tudo isso em um único dia e pode ser que tudo fique bom ou ruim em um dia. Nós tentamos escolher locações ou palcos em que a gente possa ficar, pelo menos, três dias… ou seja, você está tentando filmar diferentes épocas, em diferentes sets, em diferentes histórias em uma grande locação, então se você mora em Los Angeles, nós usamos muito os ranchos da Disney, vamos em mansões históricas. Precisamos de muitos locais internos e externos, então não existe um set permanente e o jeito mais simples é, geralmente o jeito mais fácil. Dependendo do que estamos filmando, tem muita pesquisa, muitas visitas à biblioteca e ao Google“, comenta.

Foto: Divulgação/Instagram: Monica Sotto

Para finalizar, Joy conversa com Jennifer Smith, supervisora musical da série Why Women Kill e Deadly Illusions, e pergunta uma das maiores curiosidades dos fãs: como ela sabe que encontrou a música certa para cada série.

O que é mais legal do áudio, pelo menos da forma como eu trabalho, é que com ele nós estamos criando um universo através do som. Então, o áudio é algo muito importante. Quando você vê algo sem som , todo mundo acha esquisito porque, mesmo no nosso mundo, nós não temos um silêncio absoluto, tem sempre algo tocando. Eu amo criar esse universo através do som. É um processo realmente colaborativo. Eu falo muito com os meus produtores, meus diretores, com o autor, se ele estiver envolvido, nós temos essa conversa em que falamos sobre os plots e personagens e eu crio as histórias, por exemplo, essa pessoa cresceu ouvindo esse artista em particular porque o pai dele o apresentou. Eu crio playlists sobre as histórias de personagem para me ajudar a entender o que o produtor, autor ou diretor está visualizando. E o som é tão interessante tanto quanto a música porque todo mundo fica “oh, eu amo essa música”, mas a música eleva a história e o personagem, então quando você coloca uma música em uma foto nem sempre funciona. É realmente sobre criar essa comunicação e essa língua entre os colaboradores... Para mim, do jeito como eu trabalho, tudo é intencional, mesmo sendo apenas uma música de fundo que eu uso em uma cafeteria, por exemplo, que são pequenos easter eggs que ajudam a contar a história. Em Deadly Illusions, na cena do shopping, tem uma música de uma banda indie e as letras eram exatamente o que a personagem Mary estava pensando de Grace naquele momento“, diz.

Foto: Divulgação/Instagram: Jennifer Smith

Para esta que vos escreve, poder participar de um painel em que grandes mulheres do cinema falam de seus próprios trabalhos e em como elas conduzem as cenas com maestria, só me mostra que precisamos ter mais mulheres no comando. É incrível ver o que elas podem realizar, em um mundo em que a maioria dos cargos são compostos por homens. Aqui no Entretetizei, somos mais de 30 mulheres trabalhando em conjunto com um só objetivo: informar você, leitore, sobre as maiores novidades do mundo do entretenimento e é incrível ver a habilidade e o empenho de cada uma de nós para fazer acontecer. Por isso, um conselho que eu dou para você que está lendo: consuma obras de artistas femininas! Vejam mais filmes com personagens principais femininos; leiam livros de autoras; comprem e ouçam discos de cantoras e ajude o movimento a continuar crescendo. As mulheres precisam – e merecem – de mais espaço!

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*Crédito da foto de destaque: Divulgação/SDCC

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