Filme mostra que o que importa é a jornada, não só o destino final
As animações da Pixar sempre tocam em pontos muito humanos e reflexivos e isso vem sendo cada vez mais claro em suas produções mais recentes. Enquanto Divertida Mente aborda os sentimentos e sensações dentro do cérebro humano, Viva – A Vida é Uma Festa mostra a ideia de memórias afetivas e saudade. Soul, por sua vez, chega pra fechar essa sequência de vida, morte e sentimentos de uma forma madura, refletindo sobre o sentido da vida.
A nova animação de Pete Docter, também diretor de Divertida Mente, Up: Altas Aventuras e Monstros S.A., nos faz refletir sobre nossos propósitos, sonhos e os pequenos prazeres que estar vivo significa.
A vida além de um propósito
Soul nos conta a história de Joe, um um professor de música do ensino médio que sempre sonhou em ser um músico de jazz. Joe, na verdade, é um fracassado que não perde a esperança de um dia realizar seu grande sonho e aquilo que ele acredita ser o seu propósito no mundo: ser um grande músico.
Quando ele finalmente tem a chance da sua vida de participar de uma apresentação grandiosa como pianista, um acidente faz com que sua alma seja separada de seu corpo, nos levando a um novo espaço.
Aqui, Joe se encontra em uma longa esteira que está levando sua alma para o “Além Vida”. Assustado, o protagonista tenta fugir e cai em um lugar chamado de “Pré Vida”, onde as almas chegam para serem designadas para as pessoas que estão para nascer.
No Pré Vida, cada alma antiga recebe a tarefa de auxiliar uma alma nova que vai chegar na Terra em uma nova pessoa. E Joe, que não era para estar lá, tem apenas uma meta em mente: voltar para a Terra e para seu corpo, afinal, ele estava a um passo de ter a vida que sempre sonhou.
O músico então, decide virar mentor de uma das almas para tentar conseguir voltar para o seu corpo, e é aqui que ele se encontra com 22: uma alma que nunca completou sua personalidade e, portanto, está há séculos tentando conseguir seu passe para a Terra.
Quando Joe cruza com 22, ele descobre que a alma não quer ir pra Terra e o contraste entre ambos é explícito: o pianista quer mais do que tudo voltar à vida e a amargurada alma não vê propósito na existência. Joe apresenta a 22 diversas opções de coisas que podem ser feitas na Terra, e, relutante, a alma insiste em não querer ter uma vida.
Vale reforçar que isso tudo e muito mais é contado em uma ambientação estética e técnicas visuais impecáveis. Com cores marcantes, nitidez nas texturas e claro, na criação das personalidades dos diversos personagens para contar a história.
Uma história simples, fácil de entender, sem muitas coisas mirabolantes ou de outro mundo, mas certamente, uma história com uma mensagem muito importante por trás.
Afinal, qual o sentido da vida?
Quando surge uma oportunidade para Joe voltar para o seu corpo, uma confusão acaba acontecendo e a alma que vai para o seu corpo é de 22. Joe, por sua vez, cai de paraquedas no corpo de um gato.
É a partir desse momento, que o filme traz a sua mensagem principal: você fez o que queria ou apenas viveu esperando por algo que nunca aconteceu? Quando Joe ensina a 22 ser um ser humano, ele percebe que a alma acaba ensinando muito mais a ele.
22, que não via um propósito na existência, nos mostra que são os pequenos detalhes do mundo e das nossas vidas que realmente importam. Coisas simples, como parar para observar as folhas das árvores caindo e sentir uma felicidade contagiante ao comer um simples pedaço de pizza.
Muito mais que correr atrás dos nossos sonhos é ter uma jornada em busca de uma vida mais realizada e que não despreze a importância de detalhes pequenos do nosso dia a dia. São os pequenos prazeres de se estar vivo, que dão sentido à vida.
A autossabotagem e ansiedade abordados de uma forma delicada
Em determinado momento do filme, somos apresentados às almas perdidas. Elas são, basicamente, pessoas da Terra que não conseguem se livrar das suas ansiedades e obsessões e ficam perdidas, desconectadas da vida.
Quando o protagonista consegue voltar para o seu corpo, é 22 que passa a precisar de ajuda. De volta ao Pré Vida, a alma começa a se questionar se um dia vai conseguir achar o seu propósito ou se é boa o suficiente.
Uma cena extremamente delicada, muito bem abordada e trabalhada. O filme nos apresenta aquilo que vemos e questionamos todos os dias: como lidar com a ansiedade? Ao ter tido uma experiência na Terra, 22 passa a se auto sabotar, virando uma alma perdida.
Engolida por sua ansiedade e tudo aquilo que a aflige, é Joe que consegue fazer 22 se livrar da sua alma perdida. A cena nos faz refletir sobre os nossos próprios questionamentos sobre a nossa vida e o rumo que damos a ela.
Um filme para crianças e adultos
Que a Pixar mudou o rumo de seus filmes é nítido. Não são mais tão infantis como eram em Toy Story, Carros, Monstros S.A. ou Os Incríveis. A nova era da Pixar acaba sendo muito mais para os adultos do que para as crianças, por conta da complexidade dos temas abordados.
Apesar da empresa querer abordar temas como vida e morte de formas mais leves, com cores chamativas e cenas cómicas para os pequenos, tem quem ache que eles ainda não entendem a mensagem e o filme acaba sendo só mais um filme de criança, mas com uma mensagem para os mais velhos.
Mas mesmo com piadas bobinhas e trocadilhos, a moral da história de Soul é, por essência, para todas as idades. Porém, não tem como negar que o filme toca muito mais nós, adultos, do que as crianças.
Soul definitivamente vai tocar sua alma. O filme talvez seja o mais profundo e emocionante da Pixar. Trabalhando uma série de questionamentos e abordagens existenciais.
Você pode assistir ao filme no Disney+
Quer ver mais dicas e resenhas? Acompanhe as novidades do mundo do entretenimento, no perfil do Entretetizei no instagram e no twitter.
* Crédito da imagem de destaque: divulgação Disney/Pixar