E aí, galera, beleza???
Hoje vim apresentar a vocês o Luan Vieira, um menino de 23 anos, natural de Três Rios (RJ) que sempre foi apaixonado por teatro. Segundo ele, já sabia que queria seguir essa carreira desde criança, quando participava de peças teatrais na igreja e na escola: “Parece aquelas frases clichês, mas eu já sabia desde criança que queria ser ator e isso era muito certo pra mim. Nas rodas de conversa dos coleguinhas, quando perguntavam, eu sempre dizia que queria ser ator”.
O tempo foi passando, ele iniciou, com 14 anos, as aulas de teatro, entrou para a Martins Pena —a escola de teatro mais antiga da América Latina — e para a Unirio, onde está muito feliz.
Sabe o que mais? Ele fez uma participação no espetáculo “Um Beijo para Alice”, que foi parar no jornal O Globo. Imagina só que incrível ver seu trabalho sendo prestigiado em um jornal tão conhecido e tão importante!
Isso tudo está bem mais contado nessa entrevista que vem abaixo. Uma entrevista para que todos possam se motivar a fazer o que AMAM (mesmo que não seja nada a ver com teatro ou cinema). É sempre bom conhecer histórias de pessoas que vão atrás de seus sonhos e não desistem facilmente. Então chega de papo! Leia abaixo a entrevista exclusiva que o Luan deu para o nosso Blog:
– Para começar, conta pra gente como o teatro entrou na sua vida e como mudou sua visão de futuro desde lá.
A vontade de estar em cena sempre esteve presente. Parece aquelas frases clichês, mas, eu já sabia desde criança que queria ser ator e isso era muito certo pra mim. Nas rodas de conversa dos coleguinhas, quando perguntavam, eu sempre dizia que queria ser ator. Mas, não conhecia o teatro. E também não tinha ninguém da televisão como referencias. Eu sabia que queria ser ator, mas nao me identificava muito bem com aquilo que via na tv. Estranhamente eu queria aquilo, mas, não daquele jeito. Enfim, fui crescendo e descobrindo o Teatro, na escola e na igreja, fui várias vezes Jesus cristo, e a minha primeira peça foi os três porquinhos, eu era o da casa de tijolo, e tinha 4 anos. Era um evento no bairro em que morava nas épocas de festas cristãs, qualquer pessoa que fosse à igreja saberia que eu estaria lá, atuando. E nesses dias a igreja lotava. Mas, apesar desses ensaios, desse engatinhar, o teatro chegou, de fato, aos 14 anos. Eu fazia parte de um projeto social de cinema. Nesse projeto participei de um curta metragem que chamou atenção do diretor Rodrigo Portella, coordenador do curso. No ano seguinte ele me convidou para participar de uma peça profissional. Digo: ganhando por isso. A partir dali, eu sabia exatamente o que queria. Nunca mais trabalhei com outra coisa. Pegava qualquer trabalho, mas todos eles tiveram alguma ligação com a cena. Então, foi ali, aos 14 anos que eu de fato me iniciei no caminho teatral. Eu Não faço idéia como seria meu futuro, mas sei que existiria uma enorme possibilidade de eu não me sentir tão realizado como sou com o teatro.
– Quando foi que você decidiu que esse era o caminho que queria seguir? Você já pensou em desistir ou sempre foi muito firme na escolha da profissão?
Eu já pensei, não em desistir totalmente, mas de focar e depositar energia em outras profissões. Por não ter feito nenhuma outra coisa, que não fosse teatro, eu, por volta dos 19 anos me questionei se eu queria aquilo ou se estava habituado, confortável, apenas seguindo o fluxo. Nessa fase decidi estudar artes plásticas. Mas, não entrei. Depois eu radicalizei mais um pouco, e quis sair até das artes. Foi quando cursei psicologia. Mas, nunca larguei o teatro por completo, apenas dividi o foco. Foi ao me afastar um pouco, precisamentenque pude notar a importância da arte, e em espacial o teatro. O valor transformador e de crescimento humano que essa arte proporcionava. Larguei a faculdade e optei por não dividir mais meu foco. Esse foi meu único, “deslize”.
– Em que momento da sua vida você percebeu que deveria sair de sua cidade para ir atrás de seus sonhos na cidade do Rio de Janeiro? E quais foram as principais mudanças que aconteceram desde aquele momento até os dias de hoje?
Eu decidi vir pro Rio de Janeiro, quando percebi que era preciso investir todo meu foco e energia pra alcançar um crescimento profissional. Larguei todo conforto que já tinha estabelecido, e vim estudar. Buscar as novas formas de se pensar e fazer. Entrei pra Martins, e Unirio. E, apesar de ainda estar me adaptando financeiramente, tenho pretensões de permanecer mergulhado 24 horas, nas artes cênicas. Penso que pra alcançar um lugar mais profundo é preciso certo radicalismo. Encher o pulmão de ar e mergulhar. E eu me cobrei alcançar outro nível nesse oceano fantástico que o teatro nos banha. Um nível mais profundo, onde vivem espécimes raras. E por isso estou aqui. E por isso, sai da calmaria da minha cidade Pra me jogar no caos, porém adaptável, que é O Rio de Janeiro!
– A sua participação no espetáculo Um Beijo para Alice foi muito bem criticada, inclusive no jornal O Globo, no qual Macksen Luiz elogiou seu trabalho de corpo e voz, certo? Conta pra gente como foi para você ler essas críticas e como elas podem ser construtivas para sua carreira.
Alice mandou um beijo, foi o trabalho mais transformador que fiz até agora. Eu já tinha decidido por investir toda minha energia só no teatro. Já estava totalmente focado. E passava noites tentando compreender ou ter alguma sensação próxima ao que os livros descreviam que os autistas tinham. Foi muito difícil dar vida ao Roberio, porque se tratava de um personagem que qualifica de uma outra forma as coisas que significa de outra forma o universo de signos do nosso mundo. Então,eu me vi fazendo esforço tremendo de descontruir para começar a construir o Roberio. Na época, era só um personagem que tinha uma deficiência mental, mas, que não sabíamos mais nada sobre ele. Nesse esforço que envolvia: noites mal dormidas, estudos, desconstrucao , e sensibilização. Eu fui encontrando o Roberio da forma como ele é hoje. Algumas sensações me trouxeram um estado corporal diferente. E formas Sutis de expressar esses estados internos, mas, que depois foram se tornando dilatadas. Aos poucos o Roberio foi criando vida dentro de mim. E isso refletia no meu corpo, automaticamente. Depois de preenchido, de munido de referenciais, o corpo apenas obedeceu, e eu permitia que ele fosse coerente com o meu estado mental. Foi dessa forma que se deu a descoberta do personagem, dentro e fora. Depois veio muito ensaio pra fixar e tornar isso tudo consciente. Foi bem trabalhoso. Por isso, ouvir qualquer crítica que reconheça todo esse esforço, que não se fala sobre. É extremamente emocionante. Pois, é como voltar nas noites mal dormidas, retornar ao presente e sentir que todo esforço sempre vale a pena.
A crítica do Macksen Luiz no globo, dado a representatividade que ele tem no meio que eu escolhi me inserir, foi de encher os olhos sim! Foi um reconhecimento e tanto! Mas, também aquelas que não foram publicadas, se quer ditas, me trouxeram muitas felicidades.Os inúmeros abraços e relatos sobre pessoas que conhecem autistas, e se emocionavam com o Roberio. Essas que não são divulgadas por mídia nenhuma, mas, tem tanto valor quanto as divulgadas. Emocionantes em igual tamanho, se não para os sedentos de opinião dos meios de comunicação , pra mim, criador desse personagem que tanto me moldou. Essas eu não compartilho no face porque são eternizadas no presente de cada abraço ao final do espetáculo.
– Fiquei sabendo que você passou para a mais antiga escola de Teatro do país e também para a famosa Unirio. Está gostando da sua atual faculdade? Lá você “se encontrou”, se sentiu “em casa”? Por quê?
Sim, essas duas escolas estão me fazendo bem feliz! Incrível como mesmo utilizando da mesma ferramenta, as duas me trazem um estado muito diferente. A Martins Penna é um levante, um movimento que se utiliza e resiste pelo teatro. Tem muito calor e amor ao ofício ali! Me coloca em estado de proteção. Sinto-me protegido quando estou lá. Tem aquele fato maravilhosamente reforçado de todos serem filhos da Martins e o sentimento de estar entre irmãos, é muito empolgante. A UNIRIO também acolhe. Mas não protege! Ela te lança. Te cobra a atitude, postura sozinho. A receptividade foi muito boa. Penso que isso é característica dos artistas. Nós acolhemos. Portanto, Essas duas escolas juntas tem feito eu me sentir muito completo e realizado. É como ser adulto com as responsabilidades de adulto e ainda ter o afago da mãe. Sei pouco sobre a UNIRIO, estou lá há muito pouco tempo. Mas, por enquanto é assim que me sinto diante das duas escolas. Estou muito contente e realizado.
– Falando sobre família: quando você falou para seus familiares que gostaria de seguir a carreira dentro das Artes, qual foi a reação deles? Eles sempre te apoiaram durante todos os anos que morava em Três Rios?
Como disse sempre quis estar envolvido com a cena. Minha família sempre aceitou muito bem. E se enchem de orgulho da minha atitude diante da profissão, pelo menos é o que falam! Meu pai sempre me preparou muito bem pra seguir o que eu queria, sem decidir por mim o que eu deveria querer. Meu irmão jamais opinou sobre o que e como eu devia fazer, há respeito calado nele. Minha irmã, me apóia em qualquer coisa. Amiga, e irmã, ela sabe o que me faz feliz e quer me ver assim. Ela costuma brincar que mesmo se eu cometesse um crime ela ia arranjar uma forma de apoiar mesmo punindo. E minha mãe? Era ela quem mais gostava de me ver em cena na época de bairro. Quem gravou o VHS da minha primeira peça e que espalha pro bairro todo notícias a meu respeito, sinal de orgulho. Ou seja, na minha família todos me apóiam.
– E como foi sair do interior do Rio para a cidade grande? Você sente muita saudade de sua família e amigos? Quais as maiores dificuldades para essas pessoas que necessitam se mudar para correr atrás dos sonhos?
Sair da minha cidade foi fácil, já que meu objetivo estava todo aqui. Acho que a coisa mais natural comum a todos os seres vivos, é a capacidade adaptativa. Deixar algumas pessoa me dói todos os dias, mas é totalmente natural. A responsabilidade sobre quem cativamos é sentida também em nós mesmos. Cativar é isso. É sentir o outro em você e vim saudade! E a saudade é sintoma de coisa boa, não de coisa ruim. Além do mais tenho notado que nada se perde. As relações estabelecidas verdadeiramente continuam a existir mesmo sem o nó da rotina. Do ver todo dia. É por isso que sentir essa saudade não pode ser ruim para alma, pois é saudade de coisa que não se perdeu. É a passagem pra viver o amor lembrando, ao invés de viver estando!! Penso que a maior dificuldade pra alguém que vem em busca do sonho é dinheiro. Se o sonho está aqui, ele vai te elevar e fazer vc superar qualquer coisa. Mas, o dinheiro é algo muito real. Não se resolve em pensamento. Se vc não tem grana, essa com certeza vai ser sua maior dificuldade. Pelo menos é o que sinto agora. Francamente nessa cidade, pra mim, agora, a maior dificuldade é o dinheiro!
– Em algum momento você sofreu preconceito por estar estudando Teatro? Como foi e como você superou essa situação?
Nunca sofri preconceito, se sofri, não estava atento, e não percebi. Me defendo contra essas coisas ignorando. Penso que mesmo que aja preconceito eu não sofro porque não me importo. Então, é um possível sentimento de alguém pra mim que acaba na própria pessoa e não me alcança.
– Para finalizar: o que você diria para uma pessoa que deseja seguir carreira como a sua ou qualquer outra que não seja muito bem aceita pela sociedade? Quais as dicas para superar o medo e as dificuldades?
Dizem que o sucesso no ofício será combinação de trabalho, com sorte e talento. E desses três com certeza o trabalho é o mais importante e o único capaz de fazer nascer o talento e dar oportunidade pra sorte ser identificada. Talento sem trabalho não é nada, é como ter hidrelétrica cheia potencial mas não ser usada pra gerar energia! E olha que em teatro a energia usada nem destrói biomas. E sendo a sorte, sensibilidade para sacar a oportunidade certa na hora exata, você acaba aumentando a possibilidade de ela aparecer com muito trabalho! A Sorte sem trabalho nem aparece. Então, boa parte do sucesso cabe na palavra trabalho! Eu estou apostando nisso agora. Mais pra frente posso falar se é só isso mesmo. E uma outra coisa eu diria: Foco! Foco! Foco! Foco! Foco!!!
Gostaria de agradecer, de coração, ao Luan, que deu essa entrevista tão interessante; desejamos muito sucesso para você. Que você não desista desse sonho tão bonito e desafiador, mas que é gracioso. Ser ator é uma tarefa que exige esforço, e ver jovens como você tendo a audácia de seguir esse caminho, é curioso e inspirador. Parabéns e que venham muitos trabalhos! Também gostaria de agradecer ao Paulo, que conseguiu esse contato pra gente, adoramos! Muito sucesso para você também 🙂
Espero que tenham gostado!!!! É muito legal conhecer histórias diferentes e ver que, para seguir um sonho, muita gente muda completamente sua vida para um dia poder ser feliz fazendo o que ama.
Um beijo, e até a próxima…
Anna e Luiza ;*
Confira abaixo fotos da peça “Um Beijo para Alice”:
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