A prática controversa de escalar atores brancos para interpretar personagens negros levanta questões sobre racismo e diversidade
A representação no cinema desempenha um papel crucial na forma como as pessoas percebem diferentes grupos étnicos e raciais.
Infelizmente, ao longo da história cinematográfica, tem sido comum ver personagens negros sendo interpretados por atores brancos. Esta prática, é profundamente problemática e perpetua estereótipos racistas. Os impactos negativos da apropriação cultural e a importância da representatividade autêntica no cinema devem ser mais comentadas.
O embranquecimento no cinema e televisão atinge diversas raças e etnias, o blackface, tem suas raízes no século XIX, quando atores brancos pintavam seus rostos de preto para retratar personagens negros de forma caricata e ofensiva.
Embora essa prática tenha diminuído ao longo dos anos, a representação inadequada destes personagens por atores brancos persiste até os dias de hoje.
A importância da representatividade autêntica
Mais recentemente, o termo whitewashing foi adotado. Ele é usado para descrever uma prática na indústria do entretenimento, especialmente no cinema e na televisão, onde personagens de origem étnica ou racial não-branca são interpretados por atores brancos.
Essa prática é considerada problemática e controversa, pois resulta na exclusão de atores de minorias das oportunidades de representar seus próprios grupos na tela.
O termo não apenas nega oportunidades de emprego, mas também perpetua a ideia de que apenas os brancos são adequados para papéis principais ou heroicos, enquanto personagens não brancos são reduzidos a estereótipos secundários ou negativos.
Veja alguns exemplos:
- Em O Preço da Coragem (2007), Angelina Jolie interpreta Mariane Pearl, que na vida real é mestiça, com descendência afro-cubana.
- Rota de Colisão (2007) foi baseado na vida real de Chante Mallard, uma afro-americana. Porém, ela foi retratada no filme por Mena Suvari, uma mulher branca.
- Elizabeth, Michael and Marlon (2016) é um filme de TV britânico inspirado na suposta viagem de carro que Michael Jackson, Marlon Brando e Elizabeth Taylor fizeram. No entanto o personagem de Michael que era afro-americano foi interpretado por Joseph Fiennes um ator branco
- Lawrence Olivier ganhou um Oscar em 1965 ao interpretar o personagem Othello, que é negro, de William Shakespere, no filme de mesmo nome. Para realizar o papel o ator fez uso de blackface.
- A ex-BBB Gyselle Soares interpretou Esperança Garcia, uma mulher escravizada, considerada a primeira advogada do Piauí, em uma peça de teatro. Quando questionada sobre sua atuação, a mesma declarou: “Se eu quiser ser uma escrava, vou ser uma escrava”.
- Gérard Depardieu interpreta o autor do livro Os três Mosqueteiros, Alexandre Dumas no filme L’Autre Dumas (2010). O ator francês é branco e de olhos claros, enquanto o escritor era negro.
Além destes exemplos, na foto de capa desta matéria está o ator Sergio Cardoso (um homem branco), que interpretou Pai Tomás, um homem negro, na novela A Cabana do Pai Tomás, exibida pela TV Globo em 1970. Para exercer este papel, o ator também fez uso de blackface.
Estes são apenas alguns dos vários casos que existem no audiovisual, onde muitas vezes atores e atrizes de diferentes etnias não são sequer cogitados para papéis de destaque que deveriam ser seus. A representatividade autêntica no cinema é crucial para promover a diversidade e a inclusão.
Quando personagens negros são interpretados por atores negros, há uma oportunidade de retratar experiências de vida reais e complexas, que ressoam com o público de forma genuína. Além disso, abre portas para talentos negros na indústria cinematográfica e ajuda a desafiar normas racistas.
As razões por trás do whitewashing
Uma das razões mais comuns para o whitewashing é a preocupação com os lucros. Os estúdios muitas vezes acreditam que escalar atores brancos em papéis principais aumentará a aceitação do filme pelo público em geral, especialmente em mercados internacionais onde a diversidade é menos valorizada.
Infelizmente, isso reflete uma mentalidade que privilegia o lucro sobre a autenticidade cultural. Enquanto a escalação de atores brancos para papéis negros continuar, a indústria cinematográfica não será capaz de alcançar seu pleno potencial como um meio de contar histórias autênticas, inclusivas e livres de preconceitos.
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Texto revisado por: Thais Moreira