Foto: divulgação/Embaúba Filmes 

Crítica | A Flor de Buriti

Uma história sobre décadas de resistência do povo Krahô

 

Em 1940, duas crianças do povo indígena Krahô encontram durante a noite um boi muito perto da aldeia em que moravam. Esse foi o presságio de um massacre que seria realizado pelos fazendeiros da região com o povo da aldeia.

Nos dias atuais, o povo Krahô continua sofrendo com ameaças, violência e desrespeito em suas terras, mas resistem e enfrentam os riscos de todas as maneiras que conseguem. O longa foi vencedor do Prêmio de Melhor Equipe da mostra Un Certain Regard, do Festival de Cannes 2023

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As dificuldades do povo indígena

O povo Krahô – nativo do Tocantins – enfrenta há décadas a presença de invasores em suas terras, e o filme retrata a difícil realidade de roubo de animais e desrespeito que acontece na aldeia, mostrando as muitas formas de resistência que os indígenas colocam em prática ao longo dos anos. 

A violência e o sentimento de ver suas aldeias serem invadidas começa a se tornar rotina, e até mesmo as crianças da aldeia passam a vigiá-la para que os cupe – os não indígenas – não consigam adentrar sem permissão.

O português João Salaviza e a brasileira Renée Nader Messora, diretores do longa, mostram as estratégias de fazendeiros e agricultores que querem impedir a demarcação das terras indígenas, a fim de usar a área para criação de gado e plantio que será comercializado. 

A mescla entre passado e presente mostra que os Krahô enfrentam esses problemas há muito tempo e, além de ameaçados, também foram enganados com falsas promessas. Mas sobretudo, A Flor de Buriti mostra as transformações do povo indígena e a força em ir atrás de mudanças.

Foto: divulgação/Embaúba Filmes
O ritmo do filme 

Algo que talvez faça com que parte do público não consiga se conectar com o filme é a lentidão com que as coisas vão tomando forma, e por mais que alguns dos momentos relatados no longa sejam necessários para o contexto geral da narrativa, a sensação que fica ao final é de que algumas cenas não se conectam ao filme. 

A alternância de tempo entre passado e presente tem o ponto positivo de dar contexto e maior intensidade à história que está acontecendo nos dias atuais, mas também faz com que tudo aconteça de uma forma arrastada. 

Crowrã

A parte final do filme acompanha os Krahô durante a organização para irem a Brasília participar dos atos do Acampamento Terra Livre – maior encontro anual dos povos indígenas – no ano de 2022. 

Aqui observa-se o dia a dia da aldeia, as conversas e tomadas de decisões entre eles, sobre o que podem fazer de maneira política para mudar a realidade difícil que estão enfrentando. A potência do evento, que reúne milhares de indígenas de todo o país, é apresentada de maneira real e simbólica.

Foto: divulgação/Embaúba Filmes

O filme mostra que os atos de resistência com o passar das décadas mudaram: se antes a maior defesa desse povo era construir cercas que impedissem os invasores de entrar, hoje, munidos da internet que os permite acompanhar a política e aqueles que os representam, eles podem se unir para exigir seus direitos, mesmo que muitos insistam em tentar prejudicá-los.

Crowrã é a palavra, segundo a mitologia dos Krahô, que dá nome à flor da árvore de Buriti, conhecida por eles como a árvore da vida. E esse é um dos pontos principais que o filme retrata: a resistência e luta do povo indígena pelas suas vidas e a preservação da terra que foi primeiro habitada por eles. 

A Flor de Buriti estreia hoje (4), nos cinemas nacionais.

 

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Texto revisado por Cristiane Amarante

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