Maika Monroe em Longlegs
Foto: divulgação/Diamond Films

Crítica | Longlegs – Vínculo Mortal

Filme com Nicolas Cage tem atmosfera perturbadora

Após uma certa crise do terror na última década, o gênero vem dando sinais de recuperação nos últimos tempos, com A Morte do Demônio – A Ascensão (2023), Fale Comigo (2022) e outras produções que se destacaram. Por isso, a expectativa para Longlegs era alta, principalmente depois de uma campanha de tirar o chapéu. Nomeado publicitariamente como “o filme mais perturbador do ano”, o longa chegou trazendo um terror atmosférico que envolve o espectador de forma angustiante.

Longlegs traz a história de Lee Harker (Maika Monroe – Corrente do Mal, 2014), uma jovem agente do FBI escalada para lidar com um caso reaberto sobre um serial killer que se autointitula Longlegs, e que supostamente assassina famílias sem deixar vestígios. Trabalhando em conjunto com o agente William Carter (Blair Underwood – LA Law, 1994), Lee passa a analisar as evidências e busca por padrões que os levem até o assassino. Porém, conforme o caso anda, Harker descobre uma conexão pessoal com Longlegs.

Personagem Lee Harker em Longlegs
Foto: divulgação/Diamond Films

É impossível assistir ao filme sem se lembrar de O Silêncio dos Inocentes (1991) ou até mesmo Se7en (1995). Ambas as obras foram grandes marcos do cinema de suspense policial, e muitos filmes produzidos depois deles reciclaram elementos chave. E Longlegs é mais um nessa lista. O longa de Osgood Perkins (Corrente do Mal, 2014) vai na fonte dos seus precursores e tira do baú uma narrativa em que o protagonista precisa se aproximar de um assassino bizarro e, então, percebe o quão envolvido está com o caso. A fórmula pode até estar batida para alguns, mas ela ainda funciona bem.

A grande sacada de Longlegs está na construção da atmosfera. Perkins entendeu o que para alguns já parece simples: os jumpscares não são mais tão bem-vindos no gênero de terror. Por isso, o diretor se preocupa em elaborar uma atmosfera tomada pela desconfiança, em que o aterrorizante está nos arredores, na estranheza das personagens e em toda a essência do filme.

Evidência do assassino na parede em Longlegs
Foto: divulgação/Diamond Films

E essa atmosfera de tensão é sustentada pelos ângulos impecáveis. Aqui, Perkins trabalha em conjunto com o diretor de fotografia Andres Arochi para realizar posicionamentos de câmera com fundos de campo e espaços escuros. Nesse momento, o espectador projeta todos os seus medos e se torna uma figura ativa na construção do ambiente assombroso.

Além disso, a alternância de formatos de filmagem traz uma sensação claustrofóbica, e evidencia que o diretor tinha total controle sobre o que exatamente queria transmitir. Ainda sobre a estética, Longlegs usa – e abusa – dos filtros para criar um ambiente de tensão constante. Em alguns momentos, parece que tal aspecto ultrapassa o limite e torna a cena quase que artificial e a manipulação de imagem fica escancarada. Porém, passa longe de prejudicar a experiência do filme.

Blair Underwood como William Carter em Longlegs
Foto: divulgação/Diamond Films

Chegamos na hora de falar sobre o ponto alto de Longlegs: Nicolas Cage (Motoqueiro Fantasma, 2007). O ator interpreta o assassino que dá nome ao filme e afirma ter se inspirado na mãe, que sofria de esquizofrenia e depressão severa, para dar vida a Longlegs. Cage já passou por altos e baixos, tanto na carreira quanto na vida pessoal, e é certo o talento que ele tem para se dedicar a personagens complexos e que trazem estranheza e insanidade (vide Mandy, 2018). No filme, o ator está irreconhecível e traz um papel memorável que o leva à beira do limite mais uma vez.

O fato de não conseguirmos identificar Cage está muito atrelado à maquiagem e figurino do filme. Aqui, a equipe foi certeira ao construir um personagem assustador, mas realista. A figura do Longlegs se inclina para um bizarro, mas não passa a dose, o que traz um lado humano para o assassino (sem romantização, ok? Não estamos falando de romantizar, e sim humanizar). Inclusive, Perkins faz questão de mostrar como ele é visto com desprezo por outras pessoas, que sequer tem noção de que ele é um assassino. A maquiagem e a narrativa criam um monstro marcante e assustador, mas ao mesmo tempo fraco, vulnerável e oprimido.

Maika Monroe e Nicolas Cage em Longlegs
Foto: divulgação/Diamond Films

Os personagens de Longlegs também são um ponto fascinante, porém – e infelizmente – pouco explorados. A mãe de Lee Harker, Ruth Harker (Alicia Witt – Duna, 1984), é uma figura extremamente interessante, mas pouco aprofundada. Além disso, o próprio roteiro do filme deixa a desejar ao se tornar superficial em assuntos que tinham muito potencial para serem desenvolvidos e trazerem mais complexidade à trama. E isso inclui lacunas como o que realmente está por trás dos feitos de Longlegs, por exemplo.

Longlegs já aparece como um dos destaques do ano e merece esse título. O filme tem uma atmosfera angustiante, que permanece do início ao fim. Em todos os elementos, personagens e falas há um ar sombrio, que gera um desconforto proposital. A crueldade é colocada em destaque, e mostra que o terror pode vir de qualquer um, ou mesmo estar no andar de baixo.

Personagem criança de Lee Harker de Longlegs
Foto: divulgação/Diamond Films

Longlegs está em cartaz nos cinemas.

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Texto revisado por Doralice Silva.

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