Entenda como a prática de colocar atores brancos para interpretar personagens asiáticos reforça estereótipos racistas e o que podemos fazer para mudar essa história
Você já assistiu a um filme antigo e pensou: “Ué, por que esse personagem asiático está sendo interpretado por alguém que claramente não é asiático?” Então, bem-vindo ao mundo do yellowface, um termo que você precisa conhecer caso se importe com representatividade e justiça social.
O yellowface é basicamente a prática de atores não asiáticos — geralmente brancos — usarem maquiagem, próteses e adereços para se parecer com uma pessoa asiática. Parece bizarro, né? Mas, infelizmente, é uma prática que Hollywood (e outras indústrias de entretenimento) adoraram usar no passado — e que, lamentavelmente, ainda persiste em algumas produções atuais.
A prática vai além de uma simples troca de papéis, ela reforça estereótipos danosos, apaga a presença de atores asiáticos e desumaniza toda uma comunidade.
Exemplos clássicos de yellowface
No cinema clássico de Hollywood, o yellowface estava por toda parte. Um dos exemplos mais notórios é Mickey Rooney em Bonequinha de Luxo (1961). Ele interpretou o vizinho japonês do prédio, o Sr. Yunioshi, de uma maneira incrivelmente caricatural, usando dentes falsos exagerados, óculos grandes e um sotaque grosseiro que nada tinha de autêntico. A interpretação dele era mais uma piada racista do que uma tentativa de representação verdadeira, e esse papel é frequentemente citado como um dos piores exemplos de yellowface na história do cinema.
Outro exemplo famoso é o de Katharine Hepburn em O Dragão Relutante (1944), onde ela interpretou uma camponesa chinesa com maquiagem para amarelar a pele e olhos puxados. Da mesma forma, Marlon Brando também apareceu em yellowface no filme A Casa de Chá do Luar de Agosto (1956), em que ele interpretou um japonês com próteses e maquiagem pesada. Esses papéis não só negavam oportunidades para atores asiáticos, mas também perpetuavam uma visão distorcida e estereotipada da cultura asiática.
Exemplos recentes de yellowface
Engana-se quem pensa que o yellowface é uma prática confinada ao passado. Em 2015, Emma Stone causou polêmica ao interpretar uma personagem de origem asiática e havaiana no filme Aloha. Mesmo com a promessa de que o longa retrataria com sensibilidade a diversidade cultural do Havaí, a escolha de Stone para o papel levantou muitas críticas sobre a continuidade do whitewashing (a escalação de atores brancos para papéis de personagens não-brancos) e do yellowface na indústria cinematográfica.
Mais recentemente, a atriz Tilda Swinton foi escalada para interpretar o Ancião, um personagem originalmente tibetano, em Doutor Estranho (2016). A decisão foi justificada como uma tentativa de evitar estereótipos, mas acabou recebendo críticas por tirar um papel significativo de um ator asiático.
E não é apenas no cinema que o yellowface persiste. Na televisão, temos exemplos como Scarlett Johansson, que foi criticada ao interpretar o papel da Major, uma personagem asiática, no remake americano de Ghost in the Shell (2017). O caso reacendeu debates sobre a prática de escalar atores brancos para papéis originalmente asiáticos e trouxe à tona a falta de diversidade e inclusão real em Hollywood. Em vez de promover a representatividade, esses exemplos demonstram como o racismo estrutural da indústria ainda se manifesta.
O impacto do yellowface na representatividade e na humanidade
O problema central do yellowface não é apenas a falta de oportunidades para atores asiáticos, mas a maneira como ele reforça ideias danosas e preconceituosas. Quando atores não asiáticos interpretam personagens asiáticos, eles estão literalmente “colocando uma máscara” em uma cultura e identidade, tratando-as como uma fantasia que pode ser usada e descartada. Isso envia uma mensagem perigosa: de que pessoas asiáticas são menos humanas, meras caricaturas para o entretenimento de outros.
Além disso, essas práticas moldam a maneira como o público, especialmente o público ocidental, vê as pessoas asiáticas e suas culturas. Elas perpetuam o exotismo, o racismo, e a marginalização, mantendo estereótipos de submissão, violência ou mistério exótico que pouco têm a ver com a realidade. O resultado é uma falta de empatia e entendimento, contribuindo para o preconceito e a discriminação na sociedade como um todo.
Caminhos para a mudança com representações autênticas
A mudança começa com a indústria de entretenimento reconhecendo o impacto negativo do yellowface e se comprometendo com representações autênticas e respeitosas. Isso significa escalar atores asiáticos para papéis asiáticos, tanto em produções de grande orçamento quanto em projetos independentes. Também envolve dar aos atores e criadores asiáticos mais controle sobre suas próprias narrativas, permitindo que contem suas próprias histórias sem distorções ou filtros racistas.
Como espectadores, temos um papel crucial a desempenhar. Precisamos apoiar filmes e séries que promovam diversidade de maneira genuína e respeitosa, e questionar práticas que perpetuam o racismo, como o yellowface. Ao conscientizarmos outras pessoas, falarmos sobre o problema e exigirmos mudanças, podemos ajudar a criar uma indústria que realmente represente a diversidade e a humanidade de todos nós.
Porque o entretenimento deve ser um espelho da sociedade — um espelho que reflita a verdade, e não distorça quem realmente somos.
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Texto revisado por Kalylle Isse