Reduzir a Ásia a um tudo igual é fechar os olhos para um continente com culturas fascinantes e distintas
A cultura asiática está em alta. A força do K-pop, a popularidade dos dramas e o sucesso de filmes coreanos e japoneses vêm conquistando o Ocidente. Mas junto com essa visibilidade, surgiu uma visão distorcida de que asiático é tudo igual. Esse pensamento ignora a diversidade de um continente com milhares de anos de história e identidade. A ideia de que todos os asiáticos compartilham da mesma cultura ou aparência reforça estereótipos racistas. Bora explorar o quanto isso é prejudicial e por que é essencial enxergar e celebrar as diferenças entre cada país asiático:
A visão ocidental e o efeito pan-asiático que nivela tudo por baixo
Primeiro, vamos falar sobre o efeito pan-asiático. Esse termo descreve a tendência ocidental de enxergar a Ásia como um único bloco homogêneo, sem diferenciar países, culturas e histórias. Para muitos ocidentais, basta que algo venha da Ásia para ser visto como exótico ou representante da cultura asiática. Isso é problemático porque ignora que Japão, China, Coreia do Sul, Tailândia, Vietnã e outros países têm identidades e valores únicos. Reduzir todos os asiáticos a uma única categoria cultural apaga a complexidade que torna cada uma dessas culturas especial.
Esse efeito pan-asiático é alimentado pela falta de educação sobre a Ásia e por uma mídia que reforça esses estereótipos. Quantas vezes já vimos personagens asiáticos em filmes ocidentais sem uma história própria ou interpretados por atores de outras nacionalidades? Isso cria uma imagem superficial e equivocada. No entretenimento, é comum ver produções coreanas, japonesas e chinesas sendo agrupadas como conteúdo asiático sem distinção, o que resulta numa visão empobrecida da Ásia e ignora até as rivalidades históricas e dinâmicas culturais de cada país.
Essa visão também ignora as tensões políticas e culturais que existem entre países asiáticos. Japão e Coreia, por exemplo, têm uma relação marcada por séculos de conflitos históricos, que ainda afetam como os dois povos se enxergam e interagem. China e Taiwan vivem uma tensão política complexa, muitas vezes ignorada pelo Ocidente. Tratar esses países como uma unidade é desrespeitoso, pois apaga essas histórias e contribui para uma compreensão rasa das particularidades asiáticas.
A diversidade linguística como expressão cultural
A diversidade linguística asiática é um exemplo claro de como cada país tem sua própria identidade. Muitos no Ocidente nem sabem que existem dezenas de línguas na China, incluindo o mandarim e vários dialetos regionais. E a escrita? Enquanto o Ocidente tem um único alfabeto, países como Japão e Coreia têm sistemas complexos com significados culturais únicos. No Japão, há três sistemas de escrita – hiragana, katakana e kanji – que refletem tanto a história quanto influências culturais. Na Coreia, o alfabeto hangul é um símbolo de orgulho, criado para facilitar a alfabetização e afirmar a identidade única do país.
Ainda assim, muitos acham que asiático é tudo igual e se referem a qualquer idioma asiático como chinês ou japonês, ignorando que a língua é uma das expressões mais profundas de uma cultura. A língua molda a forma como as pessoas pensam e se relacionam. Na Coreia, por exemplo, existe uma hierarquia na linguagem que reflete respeito aos mais velhos e à estrutura social. No Japão, a comunicação é polida e indireta, refletindo a importância da harmonia e do respeito mútuo. Ver a Ásia como um todo homogêneo é ignorar essa riqueza e perder a chance de conhecer um mundo de valores e perspectivas únicos.
K-pop, doramas e animes: um festival de diferenças ignoradas
O entretenimento asiático é um dos exemplos mais claros de como cada país se expressa de maneira única. Embora K-pop, doramas e animes tenham conquistado fãs no mundo todo, ainda existe uma visão de que “é tudo a mesma coisa”.
Quem conhece esses universos sabe que o K-pop é muito mais do que música – é um fenômeno cultural sul-coreano com coreografias elaboradas, um sistema de treinamento intenso e uma estética visual profundamente ligada à cultura local.
Já os doramas japoneses têm uma abordagem bem diferente dos dramas coreanos, com histórias mais contidas e que lidam com questões sociais de forma introspectiva. Enquanto isso, os dramas coreanos são conhecidos por serem intensamente emocionais, focados no romance e no melodrama, atraindo um público apaixonado. Ignorar essas diferenças é desrespeitar o trabalho que cada país coloca em suas produções, tratando tudo como produto asiático e apagando o que cada uma tem de único.
E o que dizer dos animes, uma forma de expressão genuinamente japonesa com raízes na cultura pop do país? Anime não é apenas animação; é um reflexo das tradições, lendas e espiritualidade do Japão. Colocar tudo isso no mesmo saco é nivelar por baixo e desrespeitar o que cada país asiático tem de mais autêntico.
Asiáticos no cinema ocidental: os estereótipos que reforçam o apagamento
Quando o assunto é representatividade no cinema ocidental, os asiáticos geralmente não têm o espaço que merecem, e, quando têm, são retratados de maneira rasa ou estereotipada. Quantas vezes já vimos um personagem asiático em Hollywood que não fosse o gênio nerd ou o lutador de artes marciais? Esse tipo de representação cria uma imagem limitadora e, na maioria das vezes, nem leva em conta a nacionalidade do personagem.
Esse apagamento se estende aos temas e histórias dos personagens asiáticos, que raramente ganham profundidade. Mesmo com avanços em filmes como Parasita (2019) e Minari (2020), que trouxeram histórias autênticas sobre coreanos, a indústria ainda tem muito o que mudar. A falta de personagens asiáticos com narrativas complexas reflete uma visão ocidental que generaliza e homogeneiza a Ásia.
A experiência de asiáticos no Ocidente: identidade apagada e preconceito diário
Para quem é asiático e vive no Ocidente, o impacto desse estereótipo de tudo igual é sentido diariamente. Pessoas de ascendência asiática são frequentemente confundidas umas com as outras, como se o Ocidente não se importasse em diferenciar um japonês de um chinês ou um coreano. Essa visão simplista pode parecer inofensiva, mas é desumanizadora.
Além disso, há um impacto direto no sentido de pertencimento. Muitos asiáticos no Ocidente se sentem pressionados a escolher entre suas raízes culturais e a assimilação em uma sociedade que os vê como diferentes. Isso cria um dilema de identidade e pertencimento, em que a tentativa de ser ocidental nunca é suficiente.
Vamos parar de achar que asiático é tudo igual e começar a respeitar a riqueza de cada cultura. A Ásia é um continente fascinante, com identidades únicas e histórias complexas que merecem ser ouvidas e compreendidas. Respeitar essas diferenças é o primeiro passo para construir um mundo mais inclusivo e inteligente!
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Texto revisado por Alexia Friedmann