bell hooks foi uma força catalisadora dentro do feminismo preto e merece ser lembrada como tal
Ontem, dia 15 de dezembro, o ano de 2021 voltou a provar que não está para brincadeiras. Depois de nos tirar Paulo Gustavo, Marília Mendonça e Charlie Watts, nos tirou também a sensacional bell hooks.
Não, você não tem lido errado desde o início do texto: se escreve com letra minúscula mesmo. A intenção de bell hooks era quebrar com as normas cultas de escrita, questionar a força social por meio das suas ideias e confrontar os espaços limitados com debates feministas e raciais. E escrever em letras minúsculas era uma de suas formas de provocação.
Aos 69 anos, ela nos deixou com a carência de seu espírito questionador e impactante, e agora só nos restam as homenagens.
E para celebrar bell hooks, nós decidimos contar um pouco mais sobre ela, e sobre onde encontrá-la no nosso contexto brasileiro.
De onde vem
Gloria Jean Watkins nasceu em Kentucky, na região Sul dos Estados Unidos, no dia 25 de setembro de 1952.
Ela estudou em colégio públicos e viveu o auge da segregação racial nos Estados Unidos, isso sem contar o problema de ter vivido colada aos ideais religiosos do Cinturão da Bíblia, já que o Kentucky está alinhado com os padrões religiosos do Sul do país, mas nem todos desses espaços eram feitos para as comunidades pretas.
Conseguindo se formar com honras em literatura inglesa em Stanford, Gloria Jean Watkins emplacou um mestrado na Universidade de Wisconsin e um doutorado na Universidade da Califórnia, tudo isso depois de passar por problemas de adaptação no colégio integrado que estudou durante a adolescência.
Por ter enfrentado todos esses problemas, ela se intitulou bell hooks, observou e relatou seus espaços de opressão e conquistou muito além do que as expectativas diziam, saindo do meio da classe trabalhadora para se rebelar contra os sistemas opressores.
Suas obras
bell hooks chegou ao Brasil há pouco tempo, mas suas obras já foram traduzidas para mais de 12 idiomas ao redor do mundo, e alcançou um público imenso com sua forma de transgressão social, fazendo duras críticas ao sistema habitual de gênero, classe e raça.
Obviamente, não podemos deixar de ressaltar que seu livro mais famoso, o queridinho O Feminismo É Para Todo Mundo, é uma ode ao seus pensamentos inclusivos dentro do movimento feminista, usando sempre tons pessoais dentro de suas questões políticas.
Lado a lado com nomes do feminismo preto estadunidense, como Angela Davis e Audre Lorde, bell hooks discursava lindamente sobre todos os tipos de igualdade e deixou espaços inteiros sobre suas convicções políticas e pessoais.
No nosso contexto
Além de seus livros, que são mais do que perfeitos, bell hooks faz todo o sentido com a cultura brasileira, e reforça espaços que precisam ser vistos e ouvidos, sempre destacando a voz feminina e preta na nossa cultura, que ainda se distancia e escolhe lados.
O podcast Uma Leitura Toda Sua fez um episódio inteiro sobre bell hooks e O Feminismo É Para Todo Mundo. Além dele, o Grifa e o Campo também falaram dela em episódios centrados no seu tipo de escrita e luta ativista.
O livro Eu Não Sou Uma Mulher?, escrito por ela e já publicado no Brasil, provavelmente é o que mais chama a atenção dentro do nosso contexto nacional, porque debate problemas e preconceitos socioculturais, dando foco em especial para a mulher negra dentro de um movimento feminista que prega a igualdade mas se centra em corpos brancos. O livro se inspira muito no discurso social pregado por Sojourner Truth, uma abolicionista estadunidense.
Temos muito o que pegar de sua obra e de sua história, e anexar sua jornada nos nossos contextos é algo extremamente necessário para uma evolução do feminismo e do feminino, então fica aqui a nossa singela homenagem a essa mulher forte e cheia de ensinamentos.
Para não calar o tema bell hooks por aqui – porque ainda existe muito a ser dito sobre ela -, queremos que você apareça lá nas nossas redes sociais – Twitter, Insta e Face – para conversarmos mais.
*Crédito da foto de destaque: divulgação