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Foto: reprodução/Netflix

Como a série Adolescência aborda temas sensíveis como a exposição virtual

A minissérie de 4 episódios abre espaço para uma grande crítica social sobre temas urgentes

 

Uma das séries mais comentadas do momento, aborda temas como: bullying, masculinidade tóxica e o impacto da internet na vida de crianças e adolescentes, e como tudo isso muda a vida de alguém a ponto de que nem sua própria família o conheça verdadeiramente. 

A produção tem uma narrativa forte, que coloca o espectador dentro da vida de uma família que é destruída após um crime, mostrando toda a vulnerabilidade e falta de respostas de um pai e uma mãe que se dão conta de que não sabem pelo que seu filho tem passado ou do que ele é capaz.

A história coloca um holofote sobre o impacto muitas vezes dilacerante que as redes sociais possuem na nova geração. São ferramentas que moldam pessoas que ainda estão em desenvolvimento e intensificam ainda mais a busca por aceitação e popularidade. 

Foto: reprodução/Netflix
As redes sociais e o impacto do bullying: isso pode mudar o caráter de alguém?

Temas como misoginia e raiva masculina são pontos amplamente abordados na produção, que apresenta a vida de Jamie (Owen Cooper) após cometer um assassinato. Mas a produção não aborda somente o assassinato, como também todas as problemáticas que podem ter levado o menino a cometer esse crime. 

O que percebemos ao longo dos quatro episódios da minissérie, é que a internet contribuiu de forma significativa para as atitudes tomadas por Jamie, quando rastros de bullying virtual são encontrados nas redes do menino. A superexposição virtual se mostra de maneira clara na série, desde o início, quando  policiais interrogam Jamie após o crime e notam que ele posta muitas fotos nas redes sociais. Apenas nos próximos episódios, percebemos aquilo que ele não conta, o que está sob a máscara da aparência 

Jamie participa de fóruns online, onde adolescentes tecem opiniões problemáticas sobre diversos assuntos. É também nas redes sociais que o garoto é vítima de cyberbullying e acaba assassinando uma das garotas responsáveis pelos comentários. O que a produção mostra de forma brutal, são os efeitos colaterais dessa exposição precoce e como isso pode mudar a visão de crianças sobre temas como sexualidade, inseguranças e masculinidade. É o que comenta a psicóloga Letícia Mendonça:

“A manipulação destes fóruns acaba sendo mais efetiva em nossos adolescentes, devido à não maturação cognitiva, agravando-se principalmente naqueles que não possuem uma rede de apoio que os escute, os compreenda e os valide. Então, vão em busca dessa sensação de acolhimento em tais grupos, se envolvendo com pessoas que não conhecem e acreditando em conceitos violentos e infundados”.

Quem é o culpado do crime?

Aquela frase: o perigo pode estar mais perto do que imaginamos, é certeira quando o assunto é a internet. Muitos pais se preocupam com adolescentes saindo sozinhos, mas em diversos casos o maior problema pode estar nos celulares. Cada vez mais adolescentes se distanciam da família e amigos e se aproximam de desconhecidos online. Adolescência toca nessa ferida de muitas formas. 

Foto: reprodução/Netflix

Vemos o pai e a mãe de Jamie descobrindo junto com os outros quem seu filho realmente é e o que ele faz e fala. Por mais que a família esteja presente, a vida e pensamentos de um garoto de 13 anos se mostram distantes para eles.

A produção, criada por Stephen Graham – que interpreta o pai de Jamie – se inspirou em diversas reportagens sobre casos de meninos que cometeram assassinatos contra meninas, e isso levou Stephen e os demais criadores a investigarem a causa por trás da violência. 

Sendo assim, a produção não é baseada em uma história real, mas em diversos casos similares ao de Jamie. Mas além de evidenciar situações como essa, vemos as relações que rodeiam sua vida. Aqui não existe o passado do vilão, com uma família relapsa, um pai ausente ou traumas na infância, mas sim um garoto que constrói ideologias misóginas ao longo do tempo, e percebemos que ele não é o único. 

A família de Jamie é uma das grandes afetadas por suas atitudes, algo que fica ainda mais claro no último episódio da série. Seus pais se sentem culpados por sua criação, pela falta de cuidado com o que o filho consumia na internet e entendem que embora seja uma questão muito mais profunda, talvez uma parcela de culpa deva recair sobre eles.

“A sociedade espera do adolescente comportamentos típicos de uma cognição adulta. Isto acaba por criar uma barreira nas relações, distanciando as partes por conta da dificuldade de entrar no mundo deste jovem. Desta forma, muitos pais (e até mesmo instituições), acabam por não enxergarem, não dialogarem e não validarem os adolescentes, principalmente no âmbito emocional. 

E quando não é normalizado falar sobre sentimentos e questões mentais de forma geral, o indivíduo ainda em desenvolvimento não compreende o quão isso é importante, reproduzindo em seus grupos o que conhece e vive. Ou seja, neste caso, não se colocando no lugar do outro. Porém, vale salientar que, muitas vezes, estamos falando de pais que também não aprenderam sobre a importância de falar sobre questões mentais”, completa Letícia Mendonça.

O sucesso da minissérie

Seja pelas cenas gravadas inteiramente em plano sequência, as atuações impecáveis e todas as problemáticas abordadas de maneira responsável e brilhante, Adolescência se tornou um fenômeno na Netflix e também nas redes sociais, além de ser muito elogiada pela crítica. 

Adolescência tem diversos momentos desconfortáveis de assistir, a prisão de Jamie é desconcertante quando vista, e todo o processo que o envolve desde esse momento também. A narrativa da minissérie não tira a culpa daqueles que a merecem, mas mostra a vulnerabilidade por trás de cada um.

A produção abre um debate para temas importantes e atuais. Notícias como a de Jamie continuam aparecendo na mídia e cada vez mais jovens podem passar a seguir conceitos misóginos e tóxicos, e isso molda o jeito como tratam e ainda vão tratar as mulheres no futuro. 

Foto: reprodução/Netflix

Conversas a respeito de fóruns online, raiva masculina, o controle dos pais e o termo incel foram levantados, para que possivelmente esse ecossistema de “machosfera” que se apresenta como auto ajuda, mas prega o ódio, especialmente entre adolescentes, se torne mais consciente e responsável. 

A série se mostra uma verdadeira crítica social, entregando momentos brilhantes, discutindo o papel de todos aqueles que rodeiam a vida de Jamie naquele momento, e também de seus pensamentos, de uma forma brutal e verdadeira.

 

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Texto revisado por Angela Maziero Santana 

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