Conheça Tempestade Perfeita, livro que reflete sobre a crise do jornalismo profissional

Em meio a uma torrente de populismo e desinformação, sete nomes da imprensa refletem sobre os desafios do jornalismo no Brasil 

O jornalismo profissional, hoje, é cercado por uma avalanche de fake news, pela perda de publicidade e diversos ataques pelos governantes. Desse modo, passa por crise histórica, que coincide com a perda de eficácia e representatividade das democracias liberais. Os desafios e oportunidades da imprensa neste cenário conturbado são os temas de Tempestade Perfeita. 

A partir da própria experiência, Caio Túlio Costa, Cristina Tardáguila, Helena Celestino, Luciana Barreto, Marina Amaral, Merval Pereira e Pedro Bial se debruçam sobre os principais temas que definem a agenda do jornalismo hoje: que postura adotar diante de líderes legitimamente eleitos, mas que sistematicamente erodem as fundações da democracia? Como fazer face ao crescimento exponencial das mídias sociais e suas consequências, tal como o incentivo à polarização e a relativização do conceito de verdade?

Questões complexas, com esparsos precedentes. “Estamos redescobrindo”, aponta o editor Roberto Feith na Apresentação à coletânea, “a importância de algo que, até há pouco, parecia tão óbvio que beirava a irrelevância: que sem um sentido compartilhado do que constitui um fato, não há futuro nem para a democracia, nem para a imprensa.”

Os autores de Tempestade Perfeita abordam também as limitações do nosso jornalismo. Helena Celestino, ex-editora executiva de O Globo, e Marina Amaral, uma das fundadoras da Agência Pública, convergem na análise de que a produção de notícias sempre foi e ainda segue pautada pelo olhar do homem branco de classe média. Luciana Barreto, âncora da CNN Brasil, sublinha as consequências da falta de diversidade nas redações: “os anos em que convivo em redações embranquecidas me permitem dizer que há um impacto imediato da ausência de diversidade no conteúdo que produzimos: falta perspectiva do nosso olhar sobre a notícia.”

Caio Túlio Costa

Caio Túlio Costa, ex-ombudsman da Folha de S.Paulo e um dos fundadores do UOL, desenvolveu uma análise profunda e multifacetada sobre o futuro das empresas da imprensa tradicional. Ao final, Caio apresenta sete eixos para a construção de um modelo de negócios eficaz e inovador para o jornalismo em um mundo digital.

Cristina Tardáguila

Neste momento em que fake news e “verdades alternativas” são instrumentalizadas como armas da disputa política, Cristina Tardáguila, fundadora da Agência Lupa e pioneira do factchecking, relata a evolução da verificação de notícias no Brasil e lança um alerta: “Se o Brasil parece estar sofrendo o que ocorre nos Estados Unidos com dois anos de diferença, nossa próxima eleição presidencial será repleta de questionamentos relativos a fraudes. Melhor começar a atuar contra isso imediatamente”.

Pedro Bial

Com uso refinado da metalinguagem e sua consagrada verve literária, Pedro Bial une ficção e realidade em texto que discute o conceito da neutralidade jornalística e a recente ideia de “clareza moral” — “a proposição de que a imprensa tem a obrigação moral de ir além da simples publicação de um acontecimento. Ela precisa inserir esse fato no seu contexto histórico e social e transmitir aos leitores uma perspectiva informada por esse contexto”.

Merval Pereira

Membro da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira encerra a coletânea apontando o complexo desafio da imprensa nestes novos tempos: defender a liberdade de expressão enquanto se combate a desinformação. “No mundo atual”, escreve Merval, “em que governos autoritários querem impor sua vontade sobre as instituições democráticas, o jornalismo, mais do que nunca, tem a missão de defender as instituições”.

Sem adulação, com olhar crítico e, principalmente, com a clareza de quem escreve diretamente do front, a coletânea compõe um recorte plural, porém com uma convicção compartilhada: o jornalismo profissional enfrenta uma crise sem precedentes, mas corre atrás, busca novos modelos, tenta se renovar, ciente de que é uma das instituições fundamentais da sociedade democrática. Nesta era, na qual a informação de qualidade é o valor maior, os autores afirmam, a imprensa não vai perecer.

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*Crédito da foto de destaque: Editora Intrínseca

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