Cultura e entretenimento num só lugar!

Foto: divulgação/Universal Pictures

Crítica | Anora e o mito do sonho americano

Favorito ao Oscar, filme destrói o sonho americano de forma hilária

Nos tempos atuais, qualquer coisa pode ser um objeto de troca? Em Anora (2024), Sean Baker apresenta um drama irônico sobre as relações de poder, vistas sob uma lupa. Vencedor do PGA Awards, principal termômetro para o Oscar de Melhor Filme, Anora é um retrato de como a dinâmica entre as classes sociais existe mesmo em esferas convencionais, como o casamento.

O longa, responsável por colocar o diretor estadunidense Sean Baker na mídia, retrata Ani (Mikey Madison), uma jovem stripper de Nova York que, em uma noite rotineira de trabalho, conhece Ivan (Mark Eydelshteyn), filho de um casal de russos muito ricos. Rapidamente, os dois engatam um romance avassalador, e Ani vê sua vida difícil se tornar um conto de fadas moderno.

Em uma viagem para Las Vegas, o jovem casal decide oficializar a relação através do matrimônio, e se casam por impulso em uma capela tradicional da cidade. A partir disso, o que parecia um sonho para Ani logo se torna um pesadelo, ao perceber que algumas pessoas da família de Ivan não receberam tão bem o casório.

cena do filme usado para a critica anora
Foto: divulgação/Universal Pictures
Muito mais que uma comédia

Apesar do roteiro de Anora parecer simplista, as camadas mais profundas revelam um debate complexo e atual. Sean Baker é responsável por obras aclamadas pela crítica, como Projeto Flórida (2017), que também aborda a temática prostituição e a realidade de grupos periféricos. Por isso, o diretor decide seguir a mesma base em Anora, mas ao invés de explorar a imaginação e a ilusão infantil, se aprofunda nas expectativas destruídas de uma jovem às margens da sociedade.

Isso porque Anora não é apenas um drama com toques de comédia. O filme de Baker consegue abordar as reações e as consequências das decisões dos mais privilegiados, em especial daqueles que pouco se importam em onde as ondas do mar de escolhas ruins irão atingir. Portanto, enquanto de um lado da história vemos um playboy imaturo disfarçado de príncipe encantado, do outro vemos pessoas seguindo ordens, desesperadas por poderem perder empregos e sonhos.

Não é à toa que Toros (Karren Karagulian), tutor de Ivan, se vê à beira de um ataque de nervos ao tentar não apenas manter o controle de uma situação já descontrolada, como também assegurar que seu sustento será mantido. Além disso, Ani faz de tudo para manter um casamento fadado ao fracasso de pé, pois sem o sonho americano que Ivan a forneceu, a jovem não tem mais nada. Enquanto isso, Ivan apenas se esquiva dos problemas.

cena do filme critica anora
Foto: divulgação/Universal Pictures
E o Oscar vai para…

Apesar do filme se estender no primeiro e no segundo ato, Anora não deixa de cumprir seu papel. Apontado agora como o grande favorito a vencer o Oscar de Melhor Filme, o longa também ganhou o Critics Choice Awards e a Palma de Ouro 2024. Porém, não apenas da principal indicação vive o longa de Sean Baker. As atuações do filme também estão brilhantes, com destaques para a protagonista Mikey Madison (Pânico 5) e para o tímido e marcante Igor, personagem interpretado por Yura Borisov (Compartment N. 6).

Contudo, o longa não se dá ao trabalho de aprofundar personagens importantes para o enredo, como o jovem Ivan e até mesmo a própria Ani. Apesar de haver uma boa presença na tela, eles se perdem em diálogos rasos e que nada agregam à constituição psicológica ou ao roteiro. O personagem de Borisov é um exemplo claro de como é possível criar uma figura interessante sem se render a falas mal feitas. Afinal, ele rouba a cena apenas por estar dentro das quatro margens da câmera.

No meio das conversas com pouca criatividade, o que salva é a cena final que, por ironia, tem quase nenhuma fala.

yura borisov na cena do filme critica anora
Foto: divulgação/Universal Pictures
O mito do sonho americano

O tema do american dream não é tão incomum no cinema. Vide filmes como Beleza Americana (1999) e O Grande Gatbsy (2013), que exploram como o sonho do ideal de vida americana caiu por terra quando os Estados Unidos provou na prática não ser uma grande Disneyland, onde os sonhos se realizam em um passe de mágica.

Em Anora, a personagem de Madison larga uma realidade de miséria para ir em busca do que parece ser a oportunidade de ter uma vida perfeita, representada por Ivan e todos os benefícios que ele pode proporcionar. A ironia está no fato do sonho americano ser, na verdade, um russo. E ela se potencializa ainda mais quando Ani se dá conta de tudo ser uma ilusão.

protagonistas em cena do filme critica anora
Foto: divulgação/Universal Pictures

Anora é um filme crítico e contemporâneo, disfarçado de uma comédia irreverente. Não é por menos que o longa chama a atenção desde que foi exibido nos primeiros festivais, e pretende fazer sucesso durante toda a temporada de premiações.

 

E aí, quantas estatuetas você acredita que Anora irá levar para casa? Conta pra gente nas redes sociais do Entretê (Instagram, X e Facebook) e nos siga para ficar por dentro de tudo o que rola no mundo do entretenimento.

Leia também: Rivais, Angelina Jolie e mais: veja os filmes e atores esnobados pelo Oscar 2025

Texto revisado por Larissa Suellen

plugins premium WordPress

Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Acesse nossa política de privacidade atualizada e nossos termos de uso e qualquer dúvida fique à vontade para nos perguntar!