Longa com Daisy Ridley explora a lenta aprendizagem de socializar
Quem nunca esteve no meio de uma roda de conversa com pessoas super extrovertidas e falantes? Para alguns, isso pode ser o melhor dos mundos. Mas, para outros, é o pior pesadelo reencarnado. E com Fran (Daisy Ridley) não é diferente. Às Vezes Quero Sumir pode ter uma narrativa lenta, porém aborda as dificuldades de socialização com criatividade.
Sobre Às Vezes Quero Sumir
Fran (Daisy Ridley) é uma jovem adulta extremamente introvertida e com pensamentos suicidas. Ela trabalha em um escritório no meio de uma pequena cidade pacata e chuvosa. Um dia, a empresa recebe um novo funcionário: Robert (Dave Merheje), um homem extrovertido, alto-astral e apaixonado por conversa.
Em um momento inusitado no trabalho, Fran faz Robert rir através de um bate-papo on-line, o que acaba resultando em um inesperado romance. Só que, à medida que o relacionamento floresce, Fran precisa encarar uma luta interna entre a introversão e o desejo primitivo de se relacionar com os outros.
O retrato interno através da imagem
Não é à toa que o nome original do filme é Sometimes I Think About Dying: em tradução literal, às vezes penso em morrer. O longa aborda a subjetividade de forma muito poética, e os sentimentos depressivos e niilistas tomam conta total do cenário, com filtros azulados e espaços escurecidos. É como se o retrato da mente de Fran fosse externalizado para o ambiente.
O filme é baseado em uma peça teatral de Kevin Armento, Killers (2013). Por conta disso, há muita criatividade para interpretar os pensamentos suicidas da protagonista, e as cenas rápidas foram conduzidas com maestria. Grande parte delas – para não dizer todas – envolvem um aspecto lírico e quase que fantasioso sobre a morte.
Sobre diretoras e atrizes
Às Vezes Quero Sumir é dirigido por Rachel Lambert, e o longa é o primeiro trabalho da diretora distribuído no Brasil. Porém, o filme chamou a atenção da distribuidora principalmente por trazer no elenco a atriz que interpreta Fran: Daisy Ridley. A artista britânica é conhecida por dar vida à Rey na trilogia sequela de Star Wars.
E não é apenas com personagens de ficção científica que Ridley sabe trabalhar. A atriz faz o público se interessar pela protagonista. Mesmo com pouquíssimas falas, é possível absorver a profundidade dos sentimentos de Fran apenas pelos olhares e expressões faciais que ela demonstra.
Mas e aí?
Apesar de contar com momentos bem autorais e uma boa atuação da protagonista, Às Vezes Quero Sumir apresenta falhas no roteiro. Isso porque algumas situações parecem não ter uma cronologia que dá coerência à trama, como algumas decisões que Fran toma ao longo da narrativa.
Com isso, parece não ter havido uma linha de coesão entre as ações da personagem, fato que diminui a verossimilhança da obra com a realidade de uma pessoa que tenha o mesmo estado mental de Fran.
O roteiro também enfraquece em sua estrutura de três atos, mais especificamente no terceiro e último. É como se a história do filme não chegasse a uma conclusão, e quando o longa termina, cresce uma sensação de que as últimas cenas estão por aí, desaparecidas, esperando serem encontradas.
Vale a pena assistir?
Em uma das cenas de diálogo entre Robert e Fran, o personagem afirma: “É difícil, não é? Ser uma pessoa”. Essa frase, mesmo que curta, expressa grande parte dos assuntos que o filme propõe discutir. Isso porque, para muitas pessoas, a interação com terceiros é um desafio diário que a sociedade as obriga a passar.
Mesmo com uma narrativa lenta, o longa traz uma história interessante e com takes criativos, longe das obras engessadas. Por isso, para quem curte um cinema mais autoral e quer assistir Daisy Ridley em outros papéis, o filme é uma boa aposta.
Às Vezes Quero Sumir estreia hoje, 23 de maio, nos cinemas.
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Texto revisado por Michelle Morikawa