Apesar das indicações ao Oscar, o filme deixou a desejar
Texto escrito por Isabella Souza
A vitoriosa trajetória de Emilia Pérez na temporada de premiações de 2025 não anula o fato de o filme ser mediano. Ainda mais se considerarmos os seus concorrentes ao Oscar, e dificilmente encontrará um público tão caloroso.
O filme conta a história de um chefão do tráfico (Karla Sofía Gascón) que confessa à advogada (Zoe Saldaña) o seu desejo por uma operação de confirmação de gênero. A história continua anos depois desse primeiro encontro entre as duas, traçando uma jornada absolutamente inesperada, muito consciente da ambiguidade ética das suas protagonistas, mas se engajando sempre com as possibilidades abertas a elas e a complexidade do mundo em que vivem.
Apesar do profundo e complexo roteiro, a decisão do diretor, Jacques Audiard, foi abordar a temática em um musical, que acontece em momentos extremos de drama ou tensão, o que quebra totalmente o clima. Inclusive, algumas músicas geram um desconforto, como, por exemplo, a La Vaginoplastia. A melodia da música é dissonante e a visão misteriosa de pessoas envoltas de bandagens sorrindo para a câmera retrata as cirurgias de transição de gênero como uma prática macabra e perturbadora.
Enredo construído em cima de uma tragédia mexicana
Além dessas questões, o filme cria um cenário de redenção para a vida passada de narcotraficante de Emilia Pérez, que decide usar seus antigos conhecimentos para encontrar as pessoas desaparecidas vítimas do tráfico. O filme aborda de maneira superficial e estereotipada a crise de violência e desaparecimentos no México, utilizando-os apenas como pano de fundo para a trama.
No entanto, apesar de o musical ter uma duração de aproximadamente 2h30, o filme não tem tempo o suficiente para desenvolver e aprofundar todas as histórias e personagens apresentados, e muito menos criar uma conexão com o público. Em vez de um arco dramático, o filme apresenta uma sucessão de acontecimentos, que muitas vezes são quebrados pelas músicas. Graças a isso, a superficialidade, estereótipos e personagens rasos e mal desenvolvidos, o filme é insatisfatório para o público em geral e desrespeitoso com a comunidade trans.
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Texto revisado por Layanne Rezende