Crítica | Morte a Pinochet envolve o público em sentimentos

Filme mostra a tentativa de assassinato a Augusto Pinochet por um braço armado do Partido Comunista Chileno

[Contém spoiler]

Em 11 de setembro de 1973, o Chile foi abarcado por uma ditadura que duraria 17 anos. Nesta data, o general do exército chileno Augusto José Ramón Pinochet Ugarte concluiu um golpe militar e depôs o então presidente do país, Salvador Allende, que havia ganhado as eleições chilenas três anos antes junto ao Partido Socialista. Após o golpe, o ex-presidente cometeu suicídio enquanto o palácio presidencial era tomado pelos militares em meio ao golpe.

Segundo o relatório da Comissão Valech entregue em 2011, o total de vítimas durante o período da ditadura de Pinochet passa dos 40 mil, entre pessoas executadas, torturadas e desaparecidas. Tal qual a ditadura que aconteceu no Brasil entre 1964 e 1985, as principais vítimas foram militantes de esquerda, mulheres, estudantes e professores.

Introdução e trailer oficial

Em setembro de 1986, um grupo de jovens arquitetava um plano que poderia mudar o destino de um país: acabar com a ditadura de Pinochet matando-o. A obra é baseada na história real de um ataque fracassado lançado por um braço armado do Partido Comunista Chileno.

Ramiro (Cristián Carvajal), ex-professor de educação física que se dedicou à luta armada, esquecendo-se das relações pessoais; Sacha (Gastón Salgado), um jovem humilde das favelas de Santiago e sem formação política e Tamara (Daniela Ramírez), uma psicóloga que deixou uma família de classe alta para viver na clandestinidade são personagens chaves para o decorrer da trama. 

Análise

O objetivo central do filme não é trabalhar o que foi a ditadura chilena durante o período do golpe, tão pouco contar a história de Augusto Pinochet, por isso a importância de assistir a obra minimamente por dentro do que foi o este acontecimento. Apesar disso, a trama é narrada de modo a expor ao público atos cometidos pelos tiranos do dito período.

Uma particularidade que logo no início merece destaque é a atuação de Daniela Ramírez, que interpreta Tamara e é a única mulher retratada na obra com alguma posição de liderança dentro da Frente Patriótica do Partido Comunista Chileno. Tamara precisou abrir mão da sua vida, inclusive de sua própria filha, para viver em prol da causa de sua militância ao lado dos seus companheiros. Movida pela sede de justiça, a personagem também se motiva no amor para executar seus planos, inclusive o de executar o tirano Pinochet.

Foto: divulgação/A2 Filmes

É quase impossível assistir ao filme sem sentir arrepios, especialmente levando em consideração que história é contada de forma serena ao público, com cenas bastante afetuosas e emocionantes. As cenas de tortura e ataques, seja por parte dos militares ou por parte dos militantes, são construídas com um pouco mais de clareza, não poupando o fiel retrato do quão violenta eram essas ações.

A trama retrata também o envolvimento das famílias dos militantes da Frente Patriótica, ainda que de forma involuntária, se tornando também vítimas dos tiranos ao presenciar momentos de tortura e execução de seus familiares. Ainda assim, algumas cenas são bastante emotivas e deixam nítido a humanidade carregada pelas pessoas que compõem a Frente. 

Foto: divulgação/A2 Filmes

Matar Pinochet não é apenas um ato de ódio ou rebeldia. Matar Pinochet é a última esperança de uma sociedade livre. Por isso todo o plano é feito com cuidado, discrição e treinamento armado. A confiança de todos os componentes da Frente Patriótica é o que eles compartilham entre si de mais importante – e isso também é questionado em dado momento do filme. 

A obra termina retratando as consequências do fracasso da tentativa de assassinar Pinochet, visto que não foi difícil por parte dos militares descobrir quem estava por trás do atentado. Esta parte do filme é um soco no estômago, talvez a que mais nos transmite os arrepios citados aqui anteriormente. O telespectador pode, ao final do filme, estar com muitos sentimentos aflorados, tal qual uma pulga atrás da orelha sobre o que pode ter ou não acontecido a respeito de determinados atos.

Foto: divulgação/A2 Filmes
Informações sobre a obra

O longa tem cerca de 1h20 e é dirigido por Juan Ignacio Sabatini com distribuição da A2 Filmes. A história se passa dois anos antes dos acontecimentos narrados no filme No (2012), de Pablo Larraín, filme chileno selecionado na Quinzena dos Realizadores de Cannes que alcançou sucesso internacional. Morte a Pinochet teve sua estreia em 2020 nos cinemas chilenos e foi indicada aos prêmios Camerimage 2021 (Golden Frog – Competição de Diretores Estreantes) e The Platino Awards for Iberoamerican Cinema 2021 (Platino Award – Melhor Filme de Estreia)

Onde assistir?

O filme estreia hoje (16) exclusivamente nos cinemas Rio de Janeiro e Brasília. A previsão é que esteja em todo território nacional brasileiro nas próximas semanas.

Pôster: divulgação/A2 Filmes

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Leia também: Crítica | A Conferência é um soco no estômago

 

*Crédito da foto de destaque: divulgação/A2 Filmes

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