O Clube do Entretê conversou com os poetas durante a Bienal do Livro de São Paulo, que ocorreu do dia 2 a 10 de julho
A 26° Bienal do Livro de São Paulo chegou ao fim no último 10 de julho, mas a saudade ficou. Os nove dias de evento reuniram centenas de editoras, artistas, leitores e, é claro, grandes autores. Dentre eles, os poetas João Doederlein, o Akapoeta, e o Igor Pires, de Textos Cruéis Demais.
Sabe a melhor parte? O Clube do Entretê entrevistou os grandes poetas brasileiros desta geração depois de um bate-papo no estande da Submarino, que teve a mediação do booktoker Tiago Valente. Confira a entrevista abaixo:
Para ressignificar um grande autor
Com certeza você já viu uma ressignificação assinada pelo @akapoeta em alguma rede social. Nascido em Brasília, em 1996, João Doederlein é o dono do pseudônimo.
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“Na escola, algumas meninas conheceram meu Tumblr e antes de nós virarmos amigos, elas me chamavam de Poeta. Inclusive, na camiseta da turma da gincana eu coloquei Poeta como meu apelido, inclusive. Nessa época o Instagram estava começando a ficar mais famoso no Brasil. E aí eu criei um @ e coloquei ‘aka’, porque era uma gíria que eu usava em jogos e fóruns online”, explicou ao Entretetizei.
Porém, hoje o pseudônimo tem um significado extra para o poeta. Aos 9 anos ele já escrevia fanfictions – histórias escritas por fãs – sobre jogos, e aos 11, começou a publicar poemas em um blog e no Tumblr, que depois foram adaptados para o Facebook. “Eu estudei japonês por muito tempo e ‘aka’ é vermelho em japonês, e tem a lenda do fio vermelho que liga dois corações. Enfim, virou o Akapoeta”, concluiu ele ao afirmar que gosta de ser chamado de Aka.
Ainda na infância, João se recorda de seu avô lendo as obras do poeta Mário Quintana, o que o estimulou a entrar na literatura. Agora, ele conta que suas maiores inspirações são os poetas contemporâneos. “Eu gosto muito de consumir o conteúdo de pessoas que estão produzindo agora e, sobre os clássicos, eu tenho Agatha Christie e Tolkien como grandes inspirações.”
Ressignificador, escritor e artista, João é apaixonado pela arte de contar histórias. “Eu faço poesias sobre o cotidiano, sobre as coisas simples ao nosso redor, dando o meu ponto de vista sobre isso como se eu estivesse falando para um espelho, tentando ensinar pra mim mesmo o que são aquelas coisas naquele momento”, se apresenta o poeta.
Hoje, o autor tem quatro best-sellers publicados, sendo eles: O livro dos ressignificados (2017), Coração-Granada (2018), O invisível aos olhos (2019) e Para ressignificar um grande amor (2021). Obras estas, que conquistaram mais de 1 milhão de leitores ao longo dos anos.
Sobre novos projetos, Aka disse que ainda tem muitos sonhos para realizar e deixou um spoiler do que está por vir. “Eu estou trabalhando em alguns livros. Não sei exatamente qual será o próximo, mas pretendo lançar um novo livro no ano que vem. Estou trabalhando num romance, numa fantasia, com bruxas, enfim. E outro livro de poesia. Um spoiler que posso dar é que tem a ver com nomes”, adianta o autor. Algum palpite?
“Eu quero muito lançar minha saga de fantasia que eu escrevo desde os 11 anos de idade. Quero muito lançar isso um dia. Quero me aventurar no romance infanto-juvenil, o ala John Green. E cara, tenho muito desejo de fazer uma série, eu imagino muito as narrações e minhas histórias com imagem. Acho que o mundo é o limite, eu quero fazer muita coisa ainda. Eu quero fazer muita intervenção artística, eu quero botar frases em muitos cantos. Fazer letras e palavras habitarem não só a internet, mas eu estou com um projeto de vídeo de poesia no TikTok”, afirma João.
Poeta incrível demais para apresentar rapidamente
Igor Pires é apaixonado pela vida. Direto da periferia de Guarulhos, em São Paulo, o jovem tímido também encontrou na internet a porta de entrada para o mundo da poesia.
Em 2010, ainda adolescente, ele descobriu um refúgio quando entrou no Tumblr. “Eu comecei a escrever porque eu queria ser ouvido. Quando a gente é adolescente existe muita angústia de sermos ouvidos, porque é muito fácil isso não acontecer e acharem que não sabemos de nada”, lembrou.
Anos mais tarde, em 2016, o paulista criou a página Textos Cruéis Demais, no Instagram, onde ele passou a viralizar por falar sobre sentimentos coletivos. Publicitário, Igor domina as mídias sociais e ressalta a importância da internet para alavancar o que ele escreve.
“Eu tive um trabalho de sete anos de escrita para as redes sociais antes de alguém olhar o que escrevo e falar: ‘Nossa, vale a pena’. Então se você estiver lendo isso, às vezes pode demorar, seja paciente, não acontece de uma hora pra outra. Eu demorei 7 anos para ser reconhecido pelo meu trabalho”, deixou o recado.
No ano seguinte, o autor publicou seu primeiro livro, o Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente. Sucesso de vendas, Igor não parou mais.
“Tudo me inspira. Minha família me inspira, os meus avós, a história de vida dos meus pais, os meus amigos. Eu acho que a vida me inspira, porque eu gosto muito de olhar pra vida, de olhar pras pessoas. Eu sempre fui muito observador, e acho que isso é um subsídio para tudo que eu quero escrever. Às vezes eu monto personagens a partir de alguém que eu vejo”, destacou.
Mais três livros foram publicados para dar sequência ao coletivo literário TCD, todos acompanhados por ilustrações sensíveis: Onde dorme o amor (2019), O fim em doses homeopáticas (2020) e Todas as coisas que eu te escreveria se pudesse (2021).
Aliás, falando sobre suas obras, Igor revelou que vai lançar um novo livro em novembro deste ano e já adianta: vai ser triste. “É o livro que eu mais tenho me demorado. Acho que já fazem dois anos que eu tenho escrito, reescrito. Toda semana tem um texto novo que eu coloco lá. Mas é um livro que ainda está muito vivo dentro de mim. É um livro que fala muito sobre perda, ganho, sobre amor. É um livro que as pessoas vão se identificar bastante”, afirma.
Além da publicação do novo livro, o autor tem mais novidades. Igor já tinha anunciado nas redes sociais que seu primeiro título vai ganhar uma adaptação para o teatro. De acordo com o autor, a peça é uma produção original da Noticiarte Produções e o roteiro ainda está sendo escrito.
Quando o Entretê encontrou o Igor na Bienal do Livro, ele tinha acabado de sair de uma duradoura sessão de autógrafos. Sobre o sucesso, o poeta admite que ainda fica surpreso com tantos leitores esperando por ele: “Mas é incrível, mostra que meu trabalho é impactante, que as pessoas gostam do que eu faço. Eu sou muito inseguro, sempre acho que em algum momento as pessoas vão me esquecer. Mas aí eu chego aqui e encontro as pessoas chorando, desesperadas, e penso: meu trabalho é importante. As pessoas me dizem isso, então acho que tem um propósito.”
“Com tudo que eu escrevo, eu quero passar que está tudo bem ser intenso, está tudo bem sentir demais, está tudo bem se entregar e está tudo bem você viver o amor. É importante viver o amor, amar e ser amado”, completou ele por fim.
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*Crédito da foto de destaque: Caroline Vale